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A safra 2009/10 entra na reta final no Brasil com um desafio ao produtor. Para garantir rentabilidade em um ano de safra cheia, será preciso vencer o mercado. Desde o início do ano, as cotações internacionais da soja sustentam-se acima dos US$ 9 o bushel (27,2 quilos) na Bolsa de Chicago, patamar considerado bom. No Brasil, contudo, os preços recebidos pelos produtores estão bem abaixo dos níveis do ano passado. "Tudo que o produtor ganha em produtividade perde na comercialização", diz Roberto Sattler, gerente de cooperados da Agrária, de Guarapuava, nos Cam­­­­pos Gerais paranaenses.

A saca da oleaginosa, que na temporada anterior chegou a ultrapassar R$ 40 em Mato Grosso e R$ 50 no Paraná, hoje vale, respectivamente, em torno de R$ 25 e R$ 35. "Se cair abaixo desse patamar complica. Meu custo é de R$ 28 por saca", lamenta o produtor Oilson Miguel Vargas, de Cascavel, no Oeste paranaense.

Mesmo diante da estabilidade dos preços externos, a cotação do­­­méstica da soja recua por causa da pressão da colheita de uma safra re­­­­corde não só no Brasil, mas na Argentina e no Paraguai, que também são grandes exportadores do grão. "O problema nem é Chicago, mas o câmbio e os prêmios de exportação", explica Flávio França Jr, da Safras & Mercado.

No ano passado, o produtor co­­­mer­­­cializou a sua safra com o dólar a R$ 2, e não a R$ 1,8 como agora, compara o analista. Os prêmios de exportação enfraquecidos só complicam a situação. "O prêmio para abril chegou perto de zero, ou seja, paridade, há algumas semanas. Na temporada passada, em plena boca de safra, os valores eram positivos", observa.

O prêmio de exportação é um ágio ou deságio sobre preço da Bolsa de Chicago oferecido pelos im­­­portadores na hora de fixar as cotações no mercado interno. Os valores costumam ser positivos durante a entressafra, quando há pouco produto disponível, e negativos no auge da colheita. Quanto maior a oferta, menor o prêmio.

No auge da colheita da soja, apenas um terço da produção nacional foi vendida, calculam analistas. Segundo a Safras & Mercado, perto de 33%. França Jr., da Safras, considera que esse porcentual seria bem menor se a colheita não estivesse evoluindo tão rapidamente. Ele relata que as vendas antecipadas estavam caminhando lentamente até o final de 2009 e que a comercialização da safra só começou a ganhar ritmo com o avanço da colheita, a partir de fevereiro.

Na avaliação da AgRural, entretanto, as negociações ainda não deslancharam. Eduardo Godoy, analista da consultoria, afirma que fevereiro foi um mês muito ruim para as vendas de soja, que aumentaram apenas 3 pontos porcentuais no período. Segundo ele, foi a menor evolução mensal desde a safra 2005/06. "Os negócios que aconteceram no mês passado foram apenas para gerar fluxo de caixa. As vendas não evoluem porque há uma grande diferença entre o que o produtor quer receber e o valor que o comprador está disposto a pagar", explica.

"Para ter lucro, precisaria vender a soja a R$ 40 a saca. Mas esse trem já passou", confirma o agricultor Moacir Rossato, Sertanópolis (Norte do Paraná). Ele conta que conseguiu travar 9 mil sacas a em média R$38 neste ano. "No ano passado colhi menos, mas vendi a R$ 48", compara. "Se colher 3,5 mil quilos por hectare e vender a R$ 33 só vou trocar o dinheiro", calcula Gabriel Jort, de Campo Mourão (Centro-Oeste).

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