Depois de quebrar sucessivos recordes no ano passado, a soja começou 2013 com o pé esquerdo na Bolsa de Chicago. Pressionado pelo clima favorável às lavouras na América do Sul, o mercado desceu a ladeira e, em três pregões, a oleaginosa perdeu 1,8% do seu valor. Cotado a US$ 13,93/bushel (US$ 30,73 por saca de 60 quilos), o janeiro/13, vencimento que puxa a fila de contratos na bolsa norte-americana, fechou a primeira semana do ano trocando de mãos US$ 0,26 abaixo do valor que encerrou 2012.

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Os primeiros relatos de colheita em território brasileiro dão conta de produtividades acima da média no Médio-Norte mato-grossense, aliviando os temores de uma nova quebra de safra no país e espremendo os preços no mercado internacional. Mas não é só a perspectiva de oferta elevada que alarma os investidores. O outro lado da equação, o da demanda, também preocupa. Afinal, nas últimas semanas a China, o principal motor do consumo de soja no mundo, tem cancelado compromissos de compra assumidos com exportadores norte-americanos.

Desde meados de dezembro, o gigante asiático desistiu de comprar mais de 1 milhão de toneladas do grãos dos Estados Unidos, o suficiente para encher ao menos 15 navios Panamax. Na última quinzena de 2012, chegou a suspender, de uma só vez só, um contrato de mais de meio milhão de toneladas, assustando o mercado com a notícia do maior cancelamento de compra em pelo menos 14 anos.

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A bola já havia sido cantata pelo Centro de Informações sobre Grãos e Óleos da China (CNGOIC) um mês antes, ainda em novembro, quando o órgão anunciou que importadores asiáticos haviam cancelado pedidos de compra de cerca de 600 mil toneladas de soja dos EUA que deveriam ser entregues em dezembro e janeiro.

Nos corredores de Chicago, investidores acreditam que essa demanda irá migrar para a América do Sul, que, com a perspectiva de safra cheia ganhando contornos cada vez mais concretos, vê seus prêmios de exportação caírem diariamente. Isso torna o grão sul-americano mais barato no mercado internacional e, na avaliação desses analistas, tira competitividade do produto norte-americano, que a essa altura da temporada está ficando escasso.

Dados divulgados semanalmente pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), contudo, não confirmam essa teoria. Ao menos, não integralmente. Segundo o Serviço Exterior de Agricultura, agência responsável pelo monitoramento do comércio exterior de commodities do país, até o final de novembro a China havia acertado a compra de 17,48 milhões de toneladas de soja norte-americana, das quais 11,05 milhões já haviam sido entregues. As 6,43 milhões de toneladas restantes deveriam ser entregues até o final da temporada 2012/13, que nos EUA termina em 31 de agosto.

Um mês depois, no encerramento de dezembro, o mesmo relatório mostrou que outras 3,02 milhões de toneladas haviam deixado o país com destino à China, mas que o volume a embarcar não recuou na mesma proporção, apesar dos sucessivos cancelamentos de compras. Pelo contrário, o que o relatório revelou foi um aumento nas vendas ao país asiático, que encerrou 2012 com o compromisso de adquirir dos EUA um total de 19,05 milhões de toneladas de soja, 4,98 milhões de toneladas ainda a serem embarcadas nos próximos meses.

A explicação para a matemática confusa foi dada, por linhas tortas, pelo próprio governo chinês. O relatório divulgado pelo CNGOIC em novembro, aquele que antecipava o cancelamento de 10 cargas de soja dos EUA, informava que as companhias soja da China "julgaram de forma errada" os movimentos do mercado e estariam "lidando com grandes perdas".Ou seja, adquiriram soja a preços elevados e agora vendem óleo e farelo a valores mais baixos. Para minimizar os prejuízos de comprar na alta e vender na baixa, voltaram atrás cancelando contratos firmados a preços altos para recomprar soja mais barata do mesmo fornecedor. Uma estratégia bem conhecida dos especuladores, que, como diz a velha máxima do mercado, entra ano sai ano, não se cansam de fazer dinheiro "comprando o boato para vender o fato".

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