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Campo de chá verde coberto de gelo em Guajuvira, arredores de Araucária, na manhã de ontem | Jonathan Campos/ Gazeta Do Povo
Campo de chá verde coberto de gelo em Guajuvira, arredores de Araucária, na manhã de ontem| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta Do Povo

Depois da neve da madrugada de terça-feira (23), veio a geada mais forte dos últimos 13 anos e novas perdas à agricultura paranaense. O gelo que apareceu em todo o estado no amanhecer de ontem afetou pastos, áreas de hortaliças, cafezais e lavouras de milho, trigo, cevada, aveia e azevém, apurou a reportagem da Gazeta do Povo, com apoio de sucursais no interior.

O alerta para ocorrência do fenômeno continua até o final desta semana, avisam os meteorologistas, o que tende a agravar os prejuízos.A geada de ontem foi considerada de moderada a forte em todo o estado. Na Região Metropolitana de Curitiba, onde está o principal cinturão de produção de verduras que abastece a capital e o estado, houve casos de perdas totais, informam técnicos que monitoram o setor.

Somente na região produtora que cerca a capital, 800 toneladas de alface teriam sido perdidas, conforme avaliações preliminares do Insituto Emater em Curitiba. Esse é o volume que estava sem cobertura preventiva e deveria chegar ao mercado na semana que vem. “A geada foi muito forte. Acredito que prejudicou produtos como couve-flor, repolho, couve-brócoli, além do alface. Os preços vão subir”, avisa o coordenador estadual de olericultura do órgão, Iniberto Hamerschimidt.

Cafés, pastos e grãos também foram danificados pela queda acentuada das temperaturas. O produtor de café Mauro Vieira e Silva, de Londrina, acredita que tenha perdido de 30% a 40% da área. Para enfrentar a geada, ele cultivou guandu entre os cafezais, uma leguminosa arbustiva que cresce rápido, cobrindo os pés de café e protegendo-os do frio.

“Os reflexos do café no mercado devem ser observados no ano que vem, porque pegou principalmente as plantas mais novas, que seriam colhidas na próxima safra”, analisa o economista do Departamento de Economia Rural (Deral), Marcelo Garrido. O gelo nas pastagens tendem a impactar na captação de leite das vacas, lembra.Na região dos Campos Gerais, as perdas devem ser registradas nos campos de trigo e aveia, que ocupam quase 200 mil hectares na região. Em Guarapuava, o setor teme pelo pior. “Não sabemos como a lavoura vai se comportar depois de neve e geadas logo em seguida”, diz o  produtor e presidente do Sindicato Rural, Rodolpho Luiz Botelho.

Gustavo Ribas, presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa, lembra que o atraso no plantio do trigo, por conta das chuvas de junho, pode ter ajudado em alguma medida. “Se atrasar demais o plantio e ele chegar ao fim do ciclo, perdemos em qualidade. Como maior parte da plantação ainda não está florescendo, as perdas com a geada serão menores”, afirma.

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab) aguarda o comportamento no clima nos próximos dias para fazer avaliações mais precisas. O órgão deve divulgar um balanço com as primeiras estimativas de prejuízos até a segunda semana de agosto.

Frente fria ainda ameaça trigo e milho

A frente fria que estava mantendo o tempo fechado no Paraná está em deslocamento para o Oceano Atlântico, o que tende a trazer de volta o sol. Uma massa de ar polar continua sobre o Sul do Brasil e deve provocar a ocorrência de mais duas geadas até sexta-feira, segundo os meteorologistas. A previsão preocupa principalmente os produtores de trigo e milho do estado. As duas culturas podem sofrer os maiores prejuízos econômicos, lembra o economista do Departamento de Economia Rural (Deral), Marcelo Garrido. “Cinquenta e dois porcento da área a ser colhida com trigo ainda está suscetível a prejuízos por frio. No milho, 25% está em risco”, diz. Os cereais são os principais produtos cultivados pelo Paraná no inverno. No caso do trigo, o estado responde por mais da metade da colheita esperada para o Brasil. Segundo Garrido, a previsão de frio nas regiões produtoras do Brasil evitou maiores desvalorizações dos produtos, que têm preços balizados pela Bolsa de Chicago (CBOT). Ontem, as cotações despencaram nos Estados Unidos, mas chegaram a ligeira alta no Paraná.

Colaboraram Fabio Calsavara, Alyne Lemes e William Kayser

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