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Mercado, preço e logística foram os temas que dominaram as discussões do Agricultural Outlook Forum 2015 realizado na semana passada nos Estados Unidos. As discussões confirmaram, mais uma vez, as preocupações e tendências apontadas no último trimestre do ano passado, quando os Estados Unidos colhiam mais uma grande safra e o Brasil plantava mais uma safra recorde.

A produção segue em alta, os estoques mundiais idem, as cotações não encontram suporte e a consequência imediata é a pressão sobre os preços. Em menos de um ano, por exemplo, a soja, que é a principal commodity agrícola internacional teve desvalorização de 30%. Um movimento que afeta diretamente a renda do produtor, assim como a renda que vem do campo e compõe parte da economia urbana.

O momento então é de ajustes, o que não significa recessão no agronegócio. O setor vai continuar a crescer. Mas em ritmo menor. No ciclo 2015, inclusive, é grande a possibilidade de os EUA reduzirem a área de cultivo, conforme previsão inicial apontada no fórum. E o impacto mais significativo nesta fase de acomodação, depois de uma década de um crescimento alucinante, talvez seja a competitividade. Produzir não é problema. A dificuldade maior será vender, encontrar mercado e manter esse mercado à produção.

Como disse o economista-chefe do USDA, Robert Johansson, na abertura do evento, além de ter mais gente produzindo, tem mais gente produzindo mais. Segundo ele, essa nova realidade que se apresenta é reflexo de uma década de ouro do agronegócio, período onde o setor atraiu mais investimentos e também novos investidores. Na comparação com os últimos 10 anos, o ciclo agora então é de baixa, nas cotações, na renda e no preço da terra, o grande ativo desse negócio.

O Agricultural Outlook Forum é um evento internacional. Realizado há 91 anos pelo USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, tem como objetivo discutir as tendências do agronegócio no contexto da economia mundial. Um grande evento, com muita informação e relacionamento. Mas também bastante direcionado, sobre tudo aos interesses políticos e econômicos do governo e do agronegócio norte-americano.

Não por acaso, o Brasil, a exemplo de anos anteriores, tem pouco ou quase nenhum espaço nas discussões. Concorrentes diretos no mercado internacional, os dois países travam de forma permanente verdadeiras batalhas no ambiente globalizado. Algumas oficiais, via Organização Mundial do Comércio (OMC), outras nos bastidores, onde a condição primeira é ser eficiente e competitivo.

Brasil multimodal

Uma das poucas referências mais fortes ao Brasil durante os painéis foi sobre logística. Na sessão Grains and Oilseeds, um analista norte-americano – veja bem, não foi um brasileiro – fez uma explanação sobre a infraestrutura no Brasil e sua relação com preço e custo das commodities. Ele foi justo e correto ao falar sobre do potencial da logística nacional à serviço do agronegócio no médio e no longo prazo. Em especial sobre as alternativas que surgem mais ao Norte do país, numa combinação multimodal de rodovia, ferrovia e principalmente hidrovia.

O que faltou foi dizer é que essa mudança estrutural já está ocorrendo, que as hidrovias já estão sendo mais exploradas, que existem novas ferrovias e que as condições das rodovias, na comparação com uma década atrás, estão substancialmente melhor. E que em meio a todos os problemas políticos e econômicos surge um novo Brasil, um Brasil mais competitivo. Ainda há muito que melhorar, é óbvio. Mas o Brasil das estradas esburacadas, como o painelista fez questão de mostrar, está ficando para trás.

O único conteúdo que teve contribuição direta do Brasil foi o painel Tendências globais e perspectivas para açúcar e etanol, com participação do analista Plinio Nastari, da Datagro.Leia mais sobre as tendências apresentadas no Outlook Forum na edição de amanhã do Agronegócio Gazeta do Povo e no site www.agrogp.com.br

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