Portanto, a discussão sobre mudar e padronizar a denominação de agrotóxico para produto fitossanitário, objeto de projeto do senador Alvaro Dias, tem sua pertinência.| Foto: HEDESON ALVES/HEDESON ALVES

Na prática, agrotóxico, agroquímico ou fitossanitário é tudo mesma coisa. São defensivos agrícolas, utilizados no controle de pragas e doenças, em maior ou menor escala, a depender das condições mais ou menos favoráveis à sua incidência ou proliferação. As principais variáveis têm a ver com manejo, mas principalmente com o clima. No Brasil, por exemplo, território tropical, seu uso é condição à produção. E como um dos maiores produtores e exportadores de alimentos e commodities agrícolas, o país também é um dos maiores consumidores mundiais desse insumo.

CARREGANDO :)

Contudo, a considerar características climáticas do Brasil e sua participação na produção mundial, as estatísticas sobre o uso devem ser relativas e proporcionais. Em países como Estados Unidos e Europa, por exemplo, onde o clima é mais temperado e o controle é mais natural, a necessidade dos produtos químicos é menor. E por conta do residual que esses produtos podem deixar nos alimentos, o controle e fiscalização também precisa ser condição à liberação de seu uso, que deve ser customizado, racional e sem ameaça à saúde e segurança alimentar.

Portanto, a discussão sobre mudar e padronizar a denominação de agrotóxico para produto fitossanitário, objeto de projeto do senador Alvaro Dias, tem sua pertinência. Não que isso vai mudar o conteúdo usado na manipulação ou aplicabilidade de qualquer que seja o defensivo. Na prática, não muda nada. Eles vão continuam sendo usados o quanto for necessário e permitido por lei. Com a padronização, o que se busca é mudar uma percepção negativa da sociedade e do consumidor a partir do impacto e interpretação da palavra agrotóxico. Mas tudo bem. Até porque na cadeia produtiva a palavra já vinha sendo substituída.

Publicidade
Veja também
  • Especialistas alertam para o risco de extinção de abelhas e borboletas
  • Projeto de Alvaro Dias propõe troca do termo “agrotóxico” por “produto fitossanitário”
  • Venda de agrotóxico cai e produtos ilegais já representam 20% das vendas

O que chama a atenção é de quem parte a iniciativa de mudar a nomenclatura. Qual a relação ou interesse do senador Alvaro Dias com o setor? Não que ele não tenha legitimidade, afinal, é um legislador. Além disso, é representante do estado que é segundo maior produtor agrícola do país. Ainda assim, não é um senador militante da causa agropecuária, para que mais do que pertinência ou legitimidade, tivesse propriedade para liderar, em nome de um grupo ou segmento, tal discussão.

De qualquer forma, o tema é valido. Assim como é válido e necessário o envolvimento do Congresso Nacional. Mas para que o projeto siga à frente e não encontre nenhuma objeção quanto a interesses e interessados, vale o esclarecimento e entendimento sobre o envolvimento dos que estão à frente das mudanças propostas. Uma matéria, reforço, de interesse não apenas do agronegócio, como da sociedade organizada. Uma mudança de conceito, técnica, não ideológica, que tem mais a agregar do que a prejudicar qualquer que seja a percepção sobre agrotóxicos ou produtos fitossanitários. Embora, se for para mudar, por que não facilitar e partir logo para defensivo agrícola?

De olho nos EUA

A partir desta semana, uma nova variável começa a influenciar fundamentos e especulação no mercado internacional de produtos agrícolas. Na quinta-feira (31), o USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, anuncia o primeiro relatório oficial de plantio da safra norte-americana. Qualquer movimento para ampliar ou reduzir o cultivo no maior produtor mundial tem impacto imediato nas cotações das principais commodities, como soja, milho e trigo. O país já iniciou o cultivo de milho, mais ao sul do Corn Belt, o chamado cinturão do milho. Que define as principais regiões produtoras.

A expectativa é de uma nova redução na área de cultivo das oito principais culturas. A se confirmar, será o segundo ano consecutivo de recuo. Isso significa que os Estados Unidos podem ter a menor área de plantio em cinco anos. É como se o agronegócio estivesse em recessão. Isso por conta dos estoques em alta, resultado de várias safras cheias, que têm como efeito a queda nas cotações. Para se ter uma ideia da sensível influência do novo ciclo dos EUA, no último mês a cotação da soja na Bolsa de Chicago saiu de US$ 8,63 (27/02) para US$ 9,10 (25/03) por conta de dificuldades climáticas enfrentadas no início do plantio.

Publicidade

No Brasil, que neste momento tem um mercado mais competitivo do que os Estados Unidos, basicamente pelo efeito do câmbio, a intenção de plantio e o clima no Hemisfério Norte serão decisivos para manutenção do viés de alta no preço de soja e milho. O produtor por aqui vem sendo beneficiado pela valorização do dólar, mesmo com Chicago em baixa. Ocorre que no último mês o câmbio recuou em torno de R$ 0,40 por dólar, o que seria uma ameaça às cotações, não fosse a reação dos preços em Chicago, que em tese compensaram a recuo no dólar. O produtor brasileiro, portanto, precisa ficar de olho não mais ou apenas no câmbio, como também na safra dos EUA.