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  • Mariele, Luis e Jaqueline Stocker revelam como abocanharam dois troféus de qualidade
  • Atenção a questões sanitárias acabam ampliando o rendimento por animal

Numa frente, a extrema preocupação com a qualidade, que agrega valor ao leite quando o rendimento por animal chega perto de 40 litros diários e parece insuperável. Em outra ponta, os investimentos em novas tecnologias, com robôs que ordenham vacas até cinco vezes ao dia e acabam elevando a produção – e derrubando o mito de que não é possível superar as médias recordes. Para quem não quer ficar para trás, só resta seguir o rastro da pecuária leiteira dos Campos Gerais.

O cuidado com a qualidade é tradicional, mas se tornou verdadeira obsessão na região. Pecuaristas não medem esforços para produzir um leite com bons atributos, que rende 20% a mais na hora da venda.

O incentivo vem das cooperativas, por meio de um modelo de compra que vai além da busca por escala. “Nosso sistema de pagamento por qualidade é um dos mais agressivos do Brasil”, destaca Henrique Junqueira, responsável pela área de leite na cooperativa Castrolanda.

A primeira leiteria robotizada de que se tem notícia na América Latina foi implantada na Fazenda Santa Cruz de Baixo, em Castro, por Armando Rabbers. Com investimento de R$ 2,6 milhões, ele deixa as máquinas trabalharem e precisa apenas monitorar um computador. O próprio sistema, que funciona 24 horas por dia, manda mensagem por celular quando há algo errado. Ele chegou à linha dos líderes em produtividade e ainda quer avançar 2 litros por vaca ao dia.

Nos Campos Gerais, volume e qualidade são ponderados na conta que define o preço pago aos pecuaristas. E as cobranças não se referem apenas ao leite. Funcionários com carteira assinada e facilidade no acesso à propriedade são alguns dos atributos que contam pontos positivos.

“Não se pode mais monitorar somente as propriedades intrínsecas ao leite. Há uma série de fatores que os produtores precisam observar”, complementa Junqueira. As exigências são assimiladas com naturalidade. “Se você faz o trabalho bem feito e sabe que dá resultado, acaba virando uma rotina”, conta o pecuarista Luis César Stockler.

“Hoje tem se dado à qualidade a mesma importância que no passado era dada ao volume de produção”, aponta José Horst, gerente de produção leiteira da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH). Ele destaca que o diferencial do estado é confirmado pelo desempenho superior às metas traçadas pelo governo federal para o futuro do leite. “Há produtores que já estão nos patamares esperados para 2017”, indica.

O ganho no campo também beneficia consumidores e a indústria. “É consenso que um leite de melhor qualidade tem um rendimento muito maior”, aponta Letícia Mendonça, técnica da Embrapa Gado de Leite. Ela explica que, quando o leite é bom, produtos como o queijo prato são processados com agilidade maior e apresentam validade mais longa.

Campeões não medem esforços para melhorar

Mariele, Luis e Jaqueline Stocker revelam como abocanharam dois troféus de qualidade

A rotina das fazendas guarda os segredos que garantem qualidade e alta produtividade à pecuária leiteira dos Campos Gerais. A dedicação é contagiante entre os membros da família Stockler, em Castro, que colecionam prêmios. O trabalho começa antes do amanhecer e envolve pai, mãe e três filhos, numa espécie de mutirão familiar.

A jornada tem início às 5 horas, quando ainda é noite. A primeira ordenha do dia termina duas horas depois, já com sol. Em seguida, é hora da limpeza dos equipamentos e da propriedade e do preparo da ração servida aos animais em semiconfinamento.

Tudo precisa estar pronto antes das três da tarde, quando é feita a segunda ordenha. Ao anoitecer, a família deixa tudo preparado para a ordenha do dia seguinte, quando o ciclo de produção recomeça. Soma-se a isso o monitoramento da saúde dos animais, os cuidados com a nutrição e a própria evolução genética do rebanho.

Não há folga em finais de semana nem em dias frios ou chuvosos. A carga de trabalho não dispensa zelo constante, que pode ser notado nos detalhes. Os donos chamam cada uma das 167 cabeças do rebanho pelo nome e notam facilmente mudanças no comportamento dos animais.

Com um rebanho bem tratado e uma propriedade organizada, pais e filhos conseguem produzir o leite de melhor qualidade entre todos os associados da Cooperativa Castrolanda, conforme o ranking de 2012. “Nossa vida é fazer isso, então precisa ser bem feito”, revela Mariele Stockler, 23, filha do meio. A família faturou também o primeiro de qualidade em sua faixa de volume de produção. Se conseguir esse feito três anos a fio, poderá manter o troféu na propriedade. E que venha o concurso 2013!

Programa vai funcionar como certificação

Atenção a questões sanitárias acabam ampliando o rendimento por animal

Depois de 19 segmentos da fruticultura, o leite será o primeiro item da pecuária a ingressar no programa Produção Integrada Agropecuária (PI Brasil), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Na prática, ficarão estabelecidos critérios desde a gestão da propriedade, com a promessa de agregação de valor à produção das fazendas aprovadas. A certificação deve começar ainda neste ano e será feita por empresas creditadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).

As normas técnicas de manejo do PI Brasil foram testadas nos últimos três anos nos Campos Gerais, região escolhida por sua tradição na atividade. O período de teste serviu para que especialistas indicados por diversas instituições de pesquisa e do setor produtivo executassem treinamentos e monitorassem a qualidade do leite e da água, e sugerissem eventuais mudanças de práticas e processos.

“O Paraná foi escolhido como base pelo prestígio e reconhecimento na qualidade do leite que produz”, disse Roberta Mara Zuge, veterinária da Ceres Qualidade Consultoria e Assessoria, que coordenou a norma do leite. Os critérios, com foco na sustentabilidade estão distribuídos em 17 grandes áreas, como segurança e rastreabilidade do alimento, bem estar e sanidade animal, saúde e segurança do trabalhador rural.

Laboratório

Testes ganham mais estrutura

O laboratório que testa 80% do leite do Paraná teve sua estrutura de análise dobrada com investimento de R$ 636 mil. A unidade fica em Curitiba e pertence à Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), que aguarda repasse R$ 490 mil pelo governo do estado para aquisição de equipamentos. Conforme José Horst, gerente de Produção Leiteira da associação, a capacidade de análise, que em 2006 era de 60 mil testes mensais, subiu para 360 mil testes.

Controle privado

Critérios valorizam cada gota de leite

As exigências sanitárias das cooperativas dos Campos Gerais – que concentram 14% da produção leiteira do Paraná – vão além dos critérios mínimos previstos na legislação e, automaticamente, estimulam a busca por maior rendimento. O cuidado com a qualidade favorece a produtividade, aponta Henrique Junqueira, responsável pela área na Cooperativa Castrolanda.

Os produtores são estimulados a reduzir a concentração de células somáticas no alimento. Concentração elevada indica a presença de enfermidades como a mastite, que afeta a glândula mamária e reduz a produtividade. Por meio da contagem bacteriana, controla-se a contaminação do leite por falta de higiene ou refrigeração. A identificação de resíduos químicos (como os de remédios antibióticos) depende de testes de laboratório.

O conforto do rebanho ganha atenção por garantir maior volume de leite. Limpeza, organização, instalação de ventiladores são apenas as primeiras providências.

5,5% do leite do Paraná sai de Castro, que alcança 210 milhões de litros ao ano e figura como líder nacional, conforme o IBGE (2011). Dos 20 municípios líderes, quatro são do Paraná: Castro, Carambeí, Marechal Cândido Rondon e Toledo.

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