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A seca que atingiu as regiões agrí­­colas da América do Sul teve peso duplicado entre os produtores argentinos. Enquanto o Brasil retira dos campos 5 milhões de toneladas de grãos a menos do que na temporada passada, a Argentina inicia os trabalhos de colheita com previsão interna de quebra de 10 milhões de toneladas só na soja. Este é o segundo tombo consecutivo, maior que o da safra anterior.

Em 2011/12, as previsões iniciais de produção rondavam os 55 milhões e o país colheu 49 milhões de toneladas de soja. Desta vez, não deve chegar a 45 milhões, conforme estimativas assumidas pela Bolsa de Rosário, centro de negócios do país. O milho, ainda mais prejudicado pela estiagem, deve render entre 19 e 22 milhões de toneladas, ante um potencial próximo de 30 milhões de toneladas, conferiu a Expedição Safra Gazeta do Povo, que percorreu 2 mil quilômetros de estradas pelos pampas argentinos na última semana (veja as estimativas elaboradas pelos técnicos da Expedição abaixo).

A quebra da safra argentina é justificada pelo fenômeno La Niña, que trouxe chuvas escassas e irregulares. No cinturão da produção de grãos, a queda não deve ser tão grave quanto a registrada no Oeste do Paraná e no Rio Grande do Sul, por exemplo. A questão é justamente que as estiagens atingiram uma proporção maior das lavouras argentinas.

Em praticamente todas as regiões visitadas, a equipe de técnicos e jornalistas encontrou talhões com safra cheia e outros com até 50% de redução na produtividade. "O normal é chover 900 milímetros por ano, mas não sei chegamos a 600 milímetros nesta safra", disse Pablo Palacios, agrônomo que administra uma área de 10 mil hectares em Teodelínea, na província de Santa Fé, uma das regiões mais produtivas do país. Em 40 hectares co­­lhidos até o momento, a produtividade da soja ficou em 2,8 mil quilos por hectare. Segundo Palacios, em anos de clima regular, "colher 4,5 mil quilos de soja por hectare é ruim nesta área". Para o milho, ele prevê média de 7 mil quilos por hectare.

Com 9 mil hectares dedicados a grãos em Córdoba, o grupo Romagnoli – pioneiro na aplicação da técnica de plantio direto na Argentina – contabiliza estrago ainda maior nas lavouras. "Normalmente colhemos 4,5 mil quilos de soja por hectare, mas neste ano vai ficar em 2 mil", diz Santiago Lorenzatti, gestor da em­­presa. A situação poderia ser pior. "Em algumas áreas em que a soja alcançou a altura das canelas ainda conseguimos 3 mil quilos por hectare."A produtividade média do milho, que é de 11 mil quilos por hectare, também vai cair, para um intervalo de 5 mil ou 7 mil quilos por hectare, conta.

Indústria reduz impacto da falta de chuva

Mesmo num ano de quebra no campo, os argentinos estão exportando 1,2 milhão de toneladas de soja esmagada a mais do que no ano passado. O aumento ocorre após fortes investimentos na agroindústria.

Com uma fábrica de soja funcionando à beira do Rio Paraná, no Porto de San Lorenzo, a Molinos tem meta de elevar o volume de processamento de 4,7 milhões (2011) para 5,3 milhões de toneladas (2012). Uma nova unidade de esmagamento alavancou a capacidade de processamento da empresa de 5 mil para 20 mil toneladas ao dia entre 2005 e 2010.

"Ampliamos para ter uma unidade exclusiva de so­­ja e atender melhor os im­­portadores", explicou o che­­fe de Logística da empre­­sa, Sebastián Cantelli. Pra­­ti­­camente toda a produção da Molinos é direcionada ao mercado internacional de nutrição animal.

No principal corredor de exportação da Argentina, a Molinos tem outras 17 gigantes empresas de esmagamento como vizinhas. Todas industrializam grãos à beira do Rio Paraná e a 450 quilômetros do Oceano Atlântico. Com essa infraestrutura portuária invejável, os argentinos pretendem elevar o processamento anual de soja de 37,6 milhões de para 38,9 milhões de toneladas nesta temporada.

Os custos com transporte da safra também funcionam como aliados do setor produtivo na Argentina. O va­­lor médio do frete cobrado dos agricultores locais é de US$ 20 por tonelada, enquanto no Paraná chega a US$ 47 (R$ 85) entre Cascavel e Paranaguá, em época de colheita.

"Essa eficiência logística da Argentina é o que move muitas fábricas do país. É muito melhor ter grande número de plantas concentradas em um lugar do que várias pequenas indústrias espalhadas no país, como ocorre no Brasil", compara Gerardo Buerriel, diretor de operações do grupo Los Grobo, um dos maiores produtores de soja da Argentina, com mais de 80 mil hectares de áreas próprias no país.

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