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| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta Do Povo
Soja alta não é sinônimo de produtividade. Manejo ainda está em evolução, avalia o produtor uruguaio Leandro Radunz. Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Brasil, Argentina e Paraguai ampliam as lavouras de soja todo ano e figuram entre os cinco maiores exportadores. Mas é no vizinho Uruguai que a oleaginosa mais cresce. As lavouras do grão foram multiplicadas por quatro na última década. E com produtividade 50% maior, a colheita cresceu seis vezes.

Mesmo contando áreas até pouco tempo atrás consideradas inaptas, os produtores anunciam que as médias desta temporada serão de 2,7 mil quilos por hectare, apurou a Expedição Safra Gazeta do Povo, em viagem pelo Nordeste do país. É o terceiro ano consecutivo com marcas acima de 2,5 mil kg/ha.

O Uruguai deve produzir perto de 3,2 milhões de toneladas de soja em 2013/14. Com 3 milhões de t disponíveis para o comércio exterior, já ocupa o posto de sexto maior fornecedor (atrás de Brasil, Estados Unidos, Argentina, Paraguai e Canadá, na ordem).

A oleaginosa avança sobre áreas de pastagens e estimula ampliação dos campos de “lavoreio” no Oeste e no Nordeste, em regiões com vastas áreas planas a menos de 100 metros de altitude. Onde há bastante umidade, entra em revezamento com o arroz, que também é direcionado ao mercado externo (90% da produção anual de 1 milhão de toneladas são exportados).

A produtividade ainda não alcança os 3 mil quilos por hectare – marca frequentemente ultrapassada nos países da América do Sul –, mas em oscilações bruscas rebatidas pelas várzeas. Em ano de seca, as várzeas seguram a queda na produtividade e, em ano com chuva, as coxilhas (áreas com declive) elevam os índices.

A tecnologia vem sendo desenvolvida com ajuda de produtores brasileiros, como Aquiles Stefanello, agricultor no Uruguai há três décadas. Ele cultiva soja em áreas arrendadas com seu filho Henrique Stefanello nos departamentos (estados) de Treinta y Tres e Cerro Largo (Nordeste).

Os Stefanello plantaram nesta temporada 800 hectares em coxilhas, que devem render 3,2 mil kg/ha, e 260 em várzea, onde o potencial é para 2,7 mil kg/ha. No final das contas, esperam registrar média geral de 3 mil kg/ha, marca considerada excelente na região.

Chegaram ao Uruguai para plantar arroz, em 1984, e começaram a testar soja 18 anos depois, em 2001/02. A experiência com oleaginosa em coxilhas está apenas no segundo ano. “Na várzea, a soja é um negócio para se fazer junto com o arroz. Para ganhar dinheiro, é na coxilha”, aponta Aquiles Stefanello, prevendo expansão ainda maior nos próximos anos.

Arrendamento encurta caminho para produtores de grãos

Apesar de ter atravessado a fronteira há três décadas, o agricultor gaúcho Aquiles Stefanello não comprou terras no Uruguai. O arrendamento, no entanto, permitiu que ele ultrapassasse a marca de 1 mil hectares de soja.

O valor do hectare está em US$ 5 mil, cerca de 20% acima do preço praticado no lado brasileiro. Stefanello conta usar o capital disponível para se equipar com tratores e colheitadeiras. Para a próxima safra, deve arrendar mais 300 ha, totalizando perto de 1,5 mil.

O arrendamento de terras no Uruguai está cada vez mais raro, mas ainda mostra-se um negócio viável. Os proprietários de pastagens chegavam a ceder a área sem qualquer cobrança para o cultivo de grãos, bastando a devolução da área recuperada. Hoje, pedem US$ 200 por hectare, ou sete sacas de soja.

Os produtores não comparam o período atual à onda do arroz registrada nos anos 80, quando agricultores brasileiros passavam a fronteira para cultivar campos uruguaios na esperança de enriquecer. A avaliação mais aceita é que a oleaginosa traz sustentabilidade ao arroz e força a pecuária a ganhar eficiência em áreas menores. “Na década de 80, a região de Bagé (RS) estava muito tomada. Houve uma onda de entrada no Uruguai para plantar arroz. Hoje os dois lados estão mais equilibrados”, afirma Aquiles.

Uruguaios experimentam nova fase

Soja alta não é sinônimo de produtividade. Manejo ainda está em evolução, avalia o produtor uruguaio Leandro Radunz. Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do PovoA fazenda da família Ra­­dunz – que saiu da Ale­­manha 80 anos atrás e se estabeleceu no Uruguai para cultivar arroz – entra numa nova fase com a soja. O arroz não tem segredos para Leandro Radunz, neto dos imigrantes que descobriram a maior vocação das várzeas. Mas, no manejo da soja, ainda precisa evoluir, afirma, rodeado por plantas de mais de metro e meio. Tamanho não é sinônimo de produtividade, mas o potencial é para 2,8 mil quilos por hectare. “Se der 2,4 mil quilos, já fico contente.”

A sojicultura cresce a passos largos. “Começamos com 240 hectares, passamos a 600 ha e agora chegamos a 1.700 ha. Na próxima safra, podemos plantar 2.800 hectares”, revela Leandro. Esse é o tamanho atual da área do arroz. A família cultiva 9,5 mil hectares. O que vem perdendo espaço é o gado. Nos últimos anos, o plantel caiu de 8 mil para 3,5 mil cabeças. Estrutura de máquinas e armazenagem para a soja não será problema. As áreas de arroz rendem volume três vezes maior, exigindo folga logística, a ser complementada.

ENCAIXEA soja preenche um espaço vago na agropecuária uruguaia, apesar de se expandir em regiões já cultivadas com arroz e pasto.

Rotação

ManejoAs várzeas, que se tornam campos alagados com uso de elevadores de água dos rios (foto), são drenadas para o cultivo da oleaginosa. O sistema é parcialmente acionado para irrigação da soja. Se toda a área fosse alagada, a planta não teria apenas um “banho” e parte das lavouras morreria imersa.

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