Soja ‘do cedo’ rende 20 sacas a menos por hectare, diz o produtor Thiago Fonseca| Foto: Daniel Castellano / Gazeta Do Povo

As consequências da estiagem que atinge o Sudeste brasileiro vão além do desabastecimento nos municípios e colocam em cheque o resultado da produção no campo. Com chuvas escassas no plantio e no desenvolvimento das lavouras, estados como Minas Gerais confirmam perdas na safra de verão e agora tentam dimensionar o tamanho do problema. Nos polos produtores de Uberlândia (Triângulo Mineiro) e Paracatu (Noroeste), a produtividade média de soja e milho deve cair aproximadamente 20% em relação ao potencial inicial, indicam produtores e especialistas ouvidos pela Expedição Safra em trajeto de 1,6 mil quilômetros pela região.

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O primeiro tropeço do estado ocorreu na fase do plantio, com um atraso de até um mês no início das chuvas, adiando a entrada das plantadeiras no campo. O desajuste no calendário intensificou os efeitos do veranico ocorrido em janeiro, que impactou principalmente as lavouras de soja cultivadas com sementes superprecoces, explica o técnico do Instituto Emater de Uberlândia Carlos Miguel Rodrigues Couto. Cerca de 70% da área do município é cultivada com essa variedade, que visa criar condições favoráveis para o plantio de milho safrinha (segunda safra). “Mesmo se chover agora essas plantas não conseguem recuperar o que já foi perdido.”

A entidade está refazendo os cálculos do tamanho das perdas, mas na atual projeção os 50 mil hectares dedicados à oleaginosa no município rendem perto das 36 sacas por hectare colhidas em 2013/14. Para o milho verão, que ocupa 18 mil hectares, haverá retração de 150 sc/ha para 125 sc/ha.

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Mesmo sem grande avanço na colheita, é possível encontrar casos concretos de lavouras com rendimento abaixo do esperado. O agricultor e presidente do Sindicato Rural de Uberlândia, Thiago Soares Fonseca, dividiu os mil hectares cultivados com soja em três talhões iguais com ciclos precoce, semi-precoce e tardio. As áreas mais adiantadas deram 67 sacas por hectare em 2013/14, mas agora estão com 47 sc/ha, diz.

O quadro não é menos grave em regiões que fazem uso intensivo de irrigação, como o município de Paracatu. “O calor foi extremo e acabou prejudicando também as plantações irrigadas”, relata o produtor Dalmi Veloso. Ele calcula que na parte irrigada a soja deve render entre 3 e 5 sacas por hectare a menos que o esperado, ficando perto de 75 sacas por hectare. No sequeiro, a meta inicial era de 50 a 55 sacas/hectare, mas agora o resultado não deve passar de 40 sc/ha. Conforme informações do Emater local, o município deve registrar queda de 20% na colheita do milho de verão e de 10% na da soja -- os grãos ocupam 10 mil hectares e 80 mil hectares, respectivamente.

RS e SC são os próximos destinos da Expedição Safra

Carlos Guimarães Filho

No momento em que a colheita ganha força no Rio Grande de Sul e Santa Catarina, a Expedição Safra Gazeta do Povo irá percorrer os principais polos produtores dos dois estados. A equipe do projeto vai a campo durante uma semana para conferir junto a líderes do setor, técnicos e produtores como estão as lavouras de soja e milho.

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A maior atenção está voltada para o Rio Grande do Sul, terceiro maior produtor da oleaginosa no país e que nesta safra ampliou a área em 7%. Segundo informações da Emater gaúcha, o desenvolvimento das lavouras apresenta bom potencial produtivo. Se os dados se confirmarem, juntos, os dois estados devem produzir 16,4 milhões de toneladas de soja, ante 14,5 milhões registrados há um ano. O roteiro ainda conta com visita ao Porto de Rio Grande, no Sudeste do Rio Grande do Sul , para verificar operação e investimentos do segundo maior exportador da oleaginosa desde 2013, quando ultrapassou Paranaguá.