O Mato Grosso, líder nacional no ranking de produção de soja e milho, com 58 milhões de toneladas no ciclo 2017/18, ostenta um posto nada conveniente: o de estado com maior déficit de armazenagem do Brasil. De acordo com dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a capacidade de armazenagem estática é de apenas 33,8 milhões de toneladas. O que significa que 25 milhões de toneladas de grãos não têm um espaço adequado para o depósito.
De olho nesta demanda, o grupo paranaense Fumagalli – construtora que atua há 15 anos no setor de agronegócio – criou o fundo de investimento NovaLog FIP. Registrado há 40 dias na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), esse fundo tem o objetivo de captar recursos no Brasil e no exterior para implantar terminais de armazenagem de grãos no Mato Grosso. A Fumagalli construiu o terminal intermodal de Rondonópolis (MT), o maior da América Latina, além de outras obras no Porto de Paranaguá.
Segundo o CEO do grupo, Alfredo Fumagalli, o projeto inicial visava a construção de 10 armazéns, com capacidade de 60 mil toneladas cada. “Depois que fizemos contato com investidores chineses, eles solicitaram que o projeto fosse expandido para 30”, conta.
O projeto da estrutura é padrão. Cada unidade custará R$ 50 milhões, o que inclui terreno, imposto, dois tombadores, transportadores, elevadores, secadores, máquinas de limpeza, moega de recepção, expedição, escritório, refeitório, casa de apoio ao caminhoneiro, pátio de estacionamento, móveis e acessórios.
Atualmente, de acordo com o proprietário da construtora, quatro grupos de investimento da China estão interessados no negócio, além de investidores dos Estados Unidos, Portugal, Oriente Médio e Brasil. A Nova Log S/A, outra empresa criada pelo grupo, será a responsável pela gestão dos armazéns, com a concordância dos investidores, que serão os sócios majoritários. “Para os chineses, mais importante do que construir ou gerir um armazém, é saber onde o grão está”, afirma o CEO.
Os empreendimentos não terão recursos estatais. Fumagalli esteve reunido com o governador de Mato Grosso, Pedro Taques, que emitiu uma nota sobre o assunto. “No momento de crise temos que buscar novos caminhos, alternativas e é isso que estamos fazendo. Os investimentos anunciados se traduzem em mais dinheiro circulando no Estado, mais impostos e que, no fim, se revertem em benefícios para o cidadão, que é o nosso objetivo principal”, diz em nota.
Atualmente, o cronograma está na fase de captação de recursos, mas as obras devem começar no primeiro trimestre de 2018. Os dois primeiros terrenos já foram comprados e um deles está localizado em Nova Maringá, a 305 quilômetros de Cuiabá. O outro, em Paranatinga. “As cidades foram escolhidas de acordo com déficit e com a logística”, explica Fumagalli.
Quando questionado sobre o Paraná, segundo maior produtor de grãos e dono do segundo maior déficit de armazenagem, o CEO da empresa justifica que a concorrência com as cooperativas seria muito grande. “No Mato Grosso, em regiões de fronteira agrícola, os produtores não investem tanto em armazenagem. Quando sobra dinheiro, num ano bom, eles querem adquirir mais terras”, complementa.
Na última semana, o jornal Valor Econômico anunciou que os grupos chineses HNA Modern Logistic e Yangtze River Development já haviam assinado com o fundo de investimento. Ainda segundo o jornal, o grupo Fumagalli faturou R$ 150 milhões em 2016.
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