A decisão da União Europeia (EU) de barrar a carne de frango de 20 frigoríficos brasileiros, além de criar um atrito comercial entre o Brasil e o bloco, traz um problema imediato à cadeia avícola do país: o que fazer com as 141 mil cabeças de aves que seriam abatidas por dia – somente nessas unidades - para abastecer o mercado europeu.
Com importações estimadas em 323 mil toneladas, a UE responde por 7,65% de todo o frango exportado pelo Brasil e por 10,86% da receita obtida, cerca de US$ 775 milhões, pois os cortes embarcados para o Velho Continente são mais valorizados. Segundo o ministro Blairo Maggi, as plantas descredenciadas seriam responsáveis por até 35% das vendas para o bloco, isto é, algo em torno de 113 mil toneladas ou o equivalente aos 141 mil frangos agora sem destino.
Para algum lugar, essas aves terão que ir. E a primeira aposta é o mercado interno. A medida resolveria o problema dos frangos que já entraram no ciclo de produção, mas, por outro lado, pressionaria ainda mais os preços. Isso porque, hoje, mais de 60% da produção nacional já não saem do Brasil. “Existe uma super oferta de produto no mercado. Uma gota d’água num copo quase cheio faz o copo vazar”, reconhece o presidente do Sindiavipar (Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná), Domingos Martins.
A segunda alternativa também envolveria os preços, mas no mercado internacional. Na prática, o Brasil terá que barganhar os cortes nobres que são destinados à União Europeia. “É baixar o preço e tentar realocar. Há um impacto de mais carne no mercado, mas é um produto que não tem como estocar”, salienta a consultora da Agrifatto, Lygia Pimentel.
Lygia acredita, entretanto, que, como os europeus já ameaçavam impor as restrições há algumas semanas, a indústria já vinha se preparando para o anúncio. Em mais ou menos 40 dias, que é o período que um frango leva para ser abatido, os efeitos da medida ficarão mais claros. “A gente joga para frente, uma resposta de produção negativa”, pontua a analista.
Para o presidente do Sindiavipar, o quadro acabará afetando todas as empresas – e não só as 20 que foram barradas: “é uma conjuntura. Cada um tem que saber onde o sapato aperta”.
Ainda nesta quinta-feira (19), a BRF, que foi a companhia mais atingida, confirmou que vai revisar o planejamento de produção, considerando inclusive dar férias coletivas aos funcionários das 12 plantas descredenciadas.
Tamanho do impacto
A consultora da Agrifatto afirma que - por mais que em números absolutos, o estrago provocado pelo embargo não pareça tão grande (já que a Europa compra menos de 8% do frango vendido pelo Brasil) - o montante que deixa de ser exportado tem um peso considerável. “Se uma pessoa deixa de ganhar isso no salário, faz diferença”, argumenta. “Às vezes, estamos acostumados à concentração em grandes mercados, mas faz sim diferença no volume exportado, e no faturamento ainda mais.”
Além disso, Domingos Martins considera a Europa uma vitrine e teme um possível efeito dominó. “É um mercado que se tem como Premium, porque é uma lista especial que é habilitada. É um mercado que muita gente batalha para chegar”, diz.
Lygia Pimentel não descarta a possibilidade de novos fechamentos, mas confia no momento econômico vivido pelos compradores internacionais. “A gente vive um boom econômico mundial, com o maior poder de compra da história. Se a economia anda bem, aumenta o consumo de proteína de qualidade e a principal é o frango, que é mais acessível”, defende. “Acho difícil ter retaliações. O Brasil é quem mais tem produto para colocar no mercado.”
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