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Produção da BRF em Carambeí: paralisação por férias coletivas pode ameaçar remuneração de produtores . Prefeitura e sindicato estão preocupados com empregos diretos e indiretos gerados pela empresa no município | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Produção da BRF em Carambeí: paralisação por férias coletivas pode ameaçar remuneração de produtores . Prefeitura e sindicato estão preocupados com empregos diretos e indiretos gerados pela empresa no município| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Após o anúncio de que os trabalhadores do frigorífico da BRF de Carambeí irão receber férias coletivas de 30 dias a partir do dia 21 de maio, a cidade dos Campos Gerais vive um novo clima de luto, sob o risco de um efeito cascata.

“Ontem (4) nos enviaram um comunicado sobre a paralisação. O que nos falaram tem lógica, que é reorganizar o estoque, já que estão com a limitação do mercado europeu”, afirma o prefeito de Carambeí, Osmar Blum, referindo-se à paralisação do envio de carne de frango da BRF à União Europeia.

“Mas ficamos preocupados porque são mais de mil funcionários. Se acontecer algo diferente, além das famílias, nosso comércio e os produtores ficam prejudicados, assim como o município. Torcemos para que tudo volte ao normal”, completa.

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Sem pintinhos enviados para a engorda, os produtores de aves da região correm o risco de ficar até cem dias sem remuneração, estima o presidente da Associação dos Avicultores Campos Gerais, Carlos Sérgio Bonfim. Ele considera o fato de que a recepção de novos frangos será escalonada, tendo ainda o período da engorda, envio para abate e pagamento.

Produtores esperam acordo

Bonfim conta que, após ser chamado para uma reunião na BRF, propôs que a empresa pague aos produtores R$ 264 diariamente por alguns tipos de aviários mais modernos, enquanto eles estiverem parados, e R$ 88 por uma modalidade de barracão mais antigo.

“Isso já está ocorrendo [na unidade] de Capinzal (SC), onde também foram determinadas férias coletivas. Mas até o momento não temos uma definição sobre esses dias parados”, confirma o presidente da Associação. Ele diz que a BRF prometeu na tarde desta quinta-feira (5) fornecer alguma remuneração, mas não definiu valores.

O presidente da Associação dos Avicultores Campos Gerais, Carlos Sérgio BonfimGiuliano Gomes/Gazeta do Povo

Os animais atualmente alojados nas granjas dos avicultores continuarão a ser enviados ao frigorífico após o período de engorda, segundo o representante dos avicultores. “Foi feita uma programação e os barracões com animais terão os abates normais. Mas o alojamento vai parar e alguns produtores podem ficar até 50 dias sem receber [os animais], pois não se aloja tudo em um dia”, explica.

A situação preocupa especialmente produtores com dívidas. “Com a BRF eles até podem negociar, mas com o banco não”, afirma Bonfim. Ele conta que a região dos Campos Gerais tem aproximadamente 400 produtores integrados à BRF. O total de aviários é estimado entre 700 e 800. “A situação é um susto, temos custos fixos”, destaca. Alguns produtores, além de energia, precisam desembolsar o pagamento de funcionários das granjas.

Funcionários da BRF em Carambeí sofrem com incerteza

O Sintac (Sindicato dos Trabalhadores nas Industrias de Alimentação de Carambeí e Região), que representa os funcionários da BRF em Carambeí, foi comunicado sobre a decisão em uma reunião com a área de Recursos Humanos da empresa também na quarta-feira pela manhã.

“Tivemos um diálogo sucinto e rápido, principalmente sobre o fechamento do mercado europeu. O foco em Carambeí é o mercado halal (destinado ao consumidor muçulmano), mas temos conhecimento do impacto no mercado externo. O que sabemos por colegas que trabalham na produção é que já foi feita a programação de redução de 50% a 60% da produção nos próximos dias”, conta o secretário geral do Sintac, Wagner do Nascimento Rodrigues

Unidade da BRF em CarambeíAlbari Rosa/Gazeta do Povo

O representante do sindicato diz estar preocupado com a possibilidade de que, se nada mudar nos próximos 40 dias, aconteçam cortes na empresa. “Até meados de junho os empregos serão mantidos, mas a volta [das férias coletivas] traz uma incerteza”, frisa. Ele diz que são aproximadamente 1,3 mil empregados na planta. “Mas indiretamente isso pode chegar a mais de 2 mil, com funcionários de transporte, aviários”, completa. Um outdoor externo da empresa destaca que são 1,7 mil colaboradores ativos.

O sindicalista, que também é secretário adjunto da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado do Paraná (FTIA-PR), considera que a atual crise na empresa não foi ocasionada pela nova fase da Operação Carne Fraca:

“Não é uma questão sanitária, já que a BRF é exemplo e melhor do que a produção na Europa e nos Estados Unidos, onde, posso dizer, a fiscalização é bem mais frouxa. É a administração mal feita do Abílio Diniz e do grupo de executivos que assumiu a empresa e que tem uma política de enfrentamento com as entidades sindicais. É uma crise administrativa”.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da BRF afirmou que limitaria a comunicação à nota enviada à imprensa na última quarta-feira, na qual afirma que “concederá férias coletivas de 30 dias aos funcionários da linha de abate de aves da planta de Rio Verde (GO) e a todos os funcionários da linha de produção de Carambeí (PR), a partir de 14 e 21 de maio, respectivamente”.

O comunicado destaca ainda que a decisão considera a necessidade de adaptações no planejamento de produção e é temporária devido à determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que interrompeu, desde 16 de março, a produção e certificação sanitária dos produtos de aves da BRF exportados para União Europeia.

A BRF informa também que “revisou o seu plano de produção e determinou, até o momento, ajustes nas seguintes unidades produtivas: Mineiros (GO), Capinzal (SC), Rio Verde (GO) e Carambeí (PR)”.

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