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Se a crise atual será vencida com maior ou menor custo depende fundamentalmente da capacidade de resistência de todos os elos da cadeia econômica.

Nesses tempos difíceis, as emoções têm vencido a racionalidade, inclusive no que se refere às previsões e análises sobre o agronegócio brasileiro, que têm sido bastante voláteis nos últimos meses. Redução da atividade econômica mundial, da China e do Brasil, inflação, taxas de juros, aumentos dos custos de produção, e um rigoroso El Niño que prejudicou os plantios e impactará a produtividade e a logística futura, compõem uma peça de teatro em que a plateia (os tomadores de risco) dá mais importância a esses componentes do cenário que aos atores (os produtores) e ao enredo (os fundamentos do agronegócio).

No primeiro semestre do ano-safra 2015/16, bancos, traders e fornecedores tiveram menor disposição para tomar risco de crédito de produtor, face à conjuntura econômica e política, ao cenário das commodities e ao encarecimento dos empréstimos bancários, em especial de capital de giro empresarial, e do custo de captação de recursos externos. O Plano Safra 2015/16 poderia ter estabelecido maiores limites de financiamento para o custeio, ainda que com taxas de juros maiores, conforme a faixa de valor do crédito, para compensar a retração do setor comercial. Mas isso não foi feito.

A menor oferta de crédito, seja bancário, a taxas controladas ou livres, seja comercial, via contratos a termo ou de troca, poderá causar danos significativos e acirrar um soluço de renda em 2016, que, mal administrado, transformaria um descasamento temporal entre receitas e obrigações em uma crise setorial.

Como forma de mitigar a aversão ao risco de crédito que costuma acirrar-se em contextos de stress econômico, talvez seja o caso de rever as regras de contratação do crédito rural para custeio para evitar que que pessimismos desalinhados com os fundamentos do agronegócio, que continuam sólidos, levem a decisões de redução de exposição que nada têm a ver com as reais perspectivas do setor rural, se desconsideradas as atuais volatilidades e projetadas num cenário de pelo menos 3 anos.

Problemas de mercado, de macroeconomia e climáticos sempre ocorrem ao longo de alguns anos, e os produtores rurais que têm boa gestão, produtividade e capitalização conseguem superar as crises, embora estas possam ser mais ou menos dolorosas, e com maior ou menor duração. Se a crise atual será vencida com maior ou menor custo depende fundamentalmente da capacidade de resistência de todos os elos da cadeia econômica. Se tomador de risco do produtor toma decisões com base em jornais, sem olhar os fundamentos, complica. E se o governo não atua nas expectativas, no momento certo, na forma apropriada, também.

Com prazo adequado, mesmo em tempos difíceis, os compromissos são cumpridos, os investimentos viabilizados, as margens se recuperam e os produtos ficam mais competitivos (por conta do aumento da produtividade).

Agora há que se diluir a crise, de preferência antes que ela se manifeste com mais intensidade, talvez até, com isso, evitando que ela venha tão forte ou por mais tempo.

(*) Uma versão ampliada deste artigo está disponível em www.agrogp.com.br

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