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| Foto: HEULER ANDREY/AFP

Principal destino das exportações brasileiras, a China já convidou o presidente Jair Bolsonaro (PSL), que assume hoje o posto, a visitar Pequim. A tentativa de aproximação é mais do que válida: é essencial para expandir, ainda mais, os negócios agrícolas. Disposição do lado de lá não falta.

A participação de compra dos produtos do agronegócio brasileiro saltou de 18% para 35% comparando novembro de 2017 e 2018, informa a Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O valor exportado cresceu 127% no mesmo período.

“Em 2001, entre janeiro e outubro, a participação do país asiático era de 4,1%. Essa participação subiu 31,6 pontos percentuais, atingindo, entre janeiro e outubro de 2018, 35,7%”, destaca avaliação oficial do ministério.

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“O crescimento [das exportações para a China] foi acelerado em virtude do problema que eles tiveram com os Estados Unidos, o que fez os chineses se virarem para comprarem mais produtos daqui”, explica Marcos Fava Neves, professor doutor da USP de Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, referindo-se à Guerra Comercial entre as duas maiores economias do mundo.

Apenas a soja, carro chefe do agro brasileiro, alcançou US$ 1,93 bilhão em exportações à China em novembro, o que equivale a 5 milhões de toneladas: dois terços de todas as exportações do agronegócio brasileiro para a China no mês. Em novembro de 2017, foram 3 milhões de toneladas de soja. O aumento reflete diretamente a sobretaxa de 25% imposta pela China à soja norte-americana.

“Além disso, a China foi o principal destino da celulose e da carne bovina in natura brasileira no período, atingindo as cifras de US$ 358,73 milhões e US$ 161,37 milhões, respectivamente”, informa o Mapa.

“Desgraça alheia”

Outros dois setores também ganharam peso em novembro: a avicultura e a suinocultura. A demanda aumentou devido ao avanço do vírus da febre suína que chegou às granjas chinesas. Maior produtor mundial de carne suína, com 55 milhões de toneladas por ano, a China passou a demandar maiores volumes de aves e suínos: a primeira como uma troca no hábito de consumo, a segunda para repor as perdas do país afetado pela doença.

“Hoje já está indo mais carne suína para lá. A China já sacrificou mais de 600 mil animais. E fala-se em milhares de matrizes sacrificadas. A febre suína africana vai mudar todo o mercado mundial, porque os volumes que a China está precisando são absurdos. Não podemos festejar a desgraça alheia, mas é uma grande oportunidade para o Brasil”, disse Ricardo Santin, diretor de mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), à Gazeta do Povo, em dezembro.

O estrategista em agronegócio Marcos Fava Neves estima que o número de animais abatidos devido à doença passe de 1 milhão, e lembra que a China detém 50% da produção mundial de suínos - e informa que os preços de exportação do Brasil para a China já aumentaram 7% no setor. Para ele, é uma oportunidade de, inclusive, recuperar o mercado perdido depois do fechamento das portas da Rússia à carne suína brasileira em 2017, então maior comprador dessa proteína animal, e que somente agora está sendo reaberto aos poucos.

De olho no (des)acordo comercial

Para o especialista da USP e da FGV, o Brasil deve acompanhar de perto as relações entre Estados Unidos e China. Recentemente, houve uma trégua na Guerra Comercial: o presidente Trump topou adiar a elevação de tarifas para produtos chineses que ocorreria a partir deste 1º de janeiro e a “China também concordou em comprar um montante ‘muito substancial’ de bens agrícolas, energéticos e industriais dos EUA”, divulgou a Casa Branca.

“Se não houver acordo definitivo, o Brasil será beneficiado em curto prazo. Mesmo que aconteça um acordo, no médio e longo prazo a expectativa é extremamente favorável”, avalia Fava Neves.

Neste sentido, o estrategista avalia como positiva a tática bolsonarista de criar um Departamento de Agronegócio no Itamaraty, anunciada pelo chanceler do governo de Jair Bolsonaro, Ernesto Araújo:

Para Fava Neves, é necessário seguir com a realização de visitas comerciais. “Isso faz o Itamaraty ficar mais próximo. Temos que botar gente nesses lugares, não precisa ser em escritório físico”, recomenda. Com isso, ele avalia que será possível aumentar ainda mais a exportação agrícola para países como a China e outras nações em franco crescimento populacional, aproveitando que o Brasil é o segundo maior produtor de alimentos do mundo.

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