| Foto: Daniel Caron/Gazeta do Povo

Na fazenda Canguiri da Universidade Federal do Paraná, em Pinhais, região metropolitana de Curitiba, um pequeno bosque se destaca pelo vigor das plantas e intensa cor verde-musgo de suas folhas pontiagudas. Até parecem pinheirinhos de Natal. Seria uma espécie de pinus, cedro, pinheiro bravo ou o quê?

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O nome da espécie é criptomeria japônica, ou apenas criptoméria, uma das apostas da pesquisa florestal paranaense para aumentar a qualidade da madeira produzida no estado. Originária da Ásia, a criptoméria se adaptou perfeitamente ao clima frio do Sul do país, onde pode alcançar até 50 metros de altura, rendendo madeira de ótimo aproveitamento na produção de móveis.

“Testamos a criptoméria pelos últimos dez anos, e essa é uma espécie com desempenho espetacular. Dá para dizer que chegou a hora de introduzir a criptoméria no cultivo comercial, já podemos levá-la com segurança aos produtores”, afirma Amauri Ferreira Pinto, coordenador de produção florestal da Emater Paraná.

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Assim como a criptoméria, outras 24 espécies adaptadas a regiões de ocorrência de geadas ou próprias para integração silvipastoril (floresta-pecuária) vêm sendo estudadas em uma parceria da UFPR, Embrapa Florestas e Emater. Os estudos acontecem tanto na fazenda experimental da UFPR como em 14 propriedades rurais de União da Vitória, uma das regiões mais frias do estado.

Renato Gonçalves: amiga do frio, erva-mate se adapta bem em projetos de recomposição da Reserva Legal, com exploração econômica sustentável 

Acima do paralelo 24, ou seja, na parte mais quente do Brasil, a oferta de variedades de cultivos florestais sempre foi mais diversificada. No Paraná, no entanto, a escolha se restringia historicamente a três espécies de cultivo florestal, não necessariamente mais adaptadas à região: os pinus taeda e elliottii e o eucalipto dunni.

“Somos conhecidos mundialmente por produzir madeira em grande quantidade, mas também por nossa falta de qualidade. Com essas novas espécies e com híbridos melhor adaptados podemos garantir uma qualidade maior e, também, mais renda para os produtores”, sublinha Amauri. O pesquisador alerta, contudo, para que os interessados sempre procurem a Emater, que poderá indicar viveiros de confiança, evitando assim o investimento em mudas de procedência duvidosa.

A pesquisa oficial é importante, principalmente, para os pequenos e médios produtores, que não acessam com facilidade as novas espécies e híbridos (a partir do Eucalyptus benthamii, por exemplo), já conhecidos de grandes empresas e grupos florestais.

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Para o professor Alessandro Camargo Angelo, do Departamento de Florestas da UFPR, um dos tabus que ainda precisam ser quebrados é o de que uma espécie ou é “economicamente viável” ou é “ambientalmente adequada”. “Esse problema não existe, dá para ser as duas coisas”, diz Angelo, que destaca inclusive o potencial das araucárias para cultivo comercial, que esbarra, atualmente, numa legislação ainda muito inflexível.

Veja, abaixo, algumas das espécies testadas e aprovadas em áreas de geada, com tecnologia de produção em escala disponível nos viveiros florestais do estado:

Criptomeria japonica : árvore conífera do Japão que pode chegar aos 50 metros de altura, cresce bem em solos profundos e bem drenados. A madeira tem boa qualidade para desdobro e movelarias. Ciclo, no Paraná, entre 16 e 25 anos, com desbastes intermediários a partir dos 12 anos (quando do espaçamento tradicional de 2X3 metros). Testes em sistemas silvipastoris serão iniciados ainda neste ano.

Cunninghamia lanceolata : Também conhecida como pinheiro chinês, trata-se de árvore de grande porte, madeira com boa qualidade para desdobro e movelarias. Apresenta desenvolvimento inicial lento, mas pode chegar a 50 metros de altura. Espécie pouco exigente em solos, madeira leve, contudo com boa resistência ao apodrecimento e a insetos.

Eucalipto híbrido uroglobulus : espécie que rende tanto para produção de madeira como para extração de óleos essenciais de uso medicinal. Deve ser plantada em solos bem drenados e profundos, produzindo rebrotas vigorosas para a colheita das folhas, utilizadas em infusões terapêuticas.

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Araucaria angustifolia : O cultivo do pinheiro do Paraná voltado à produção de pinhões, ou seja, como árvore frutífera, é mais rentável para os pequenos produtores rurais do que o manejo para a produção de madeira. A Embrapa Florestas oferece cursos a viveiristas, principalmente, para repassar tecnologia de seleção de árvores matrizes e enxertia. Alguns viveiros já têm disponibilidade de mudas, mas os preços ainda são altos. O governo do estado desenvolve projeto para implantação de 40 unidades demonstrativas, em propriedades de pequenos produtores rurais, para difusão da atividade.

Integração silvipastoril

Integração silvipastoril na fazenda Canguiri, da UFPR 

A madeira é o terceiro maior produto de exportação do agronegócio do Paraná, atrás apenas dos complexos soja e carnes. O estado responde por 40% das exportações brasileiras de floresta plantada, mas, mesmo assim, precisa “importar” matéria-prima de outros estados. O déficit produtivo é de 600 mil hectares. “Como não existem áreas sobrando, precisamos buscar formas de produzir madeira além dos maciços florestais, e a integração com a pecuária é um caminho interessante”, destaca Amauri Ferreira Pinto. “Temos solo, clima e tecnologia. O desafio agora é fazer chegar essa tecnologia até o produtor”, acrescenta.

Na visita à fazenda Canguiri, a reportagem fotografou alguns bois cruzados de Angus pastando à sombra de eucaliptos, em um dia de forte calor, na área reservada à integração silvipastoril. “Esse cenário é exemplo de bem-estar animal, de microclima favorável em que há recuperação do solo pela adição de matéria orgânica e reciclagem de nutrientes, e manutenção da água no sistema por mais tempo”, destaca Renato Viana Gonçalves, coordenador estadual do Plano de Agricultura de Baixo Carbono.

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