Cadeia produtiva ainda não tem consenso sobre questão da aftosa.| Foto: Aniele Nascimento/gazeta Do Povo

O Paraná dá sequência aos planos para suspender a vacinação contra a da febre aftosa sem contar com apoio unânime do setor. Preocupações como o risco de contágio dos rebanhos, benefício econômico limitado e o temor de desabastecimento doméstico dividem a opinião da cadeia produtiva, que intensifica os debates em busca de consenso. Uma audiência pública realizada ontem na Assembleia Legislativa do estado aqueceu as discussões.

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Os argumentos contrários ao fim da vacinação começam no campo e terminam na indústria. O presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP), Moacir Sgarioni, teme a contaminação via países vizinhos, como Argentina e Paraguai. “O argumento de que haveria ganho econômico não é compensado pelo risco”, aponta. Ele também demonstra preocupação quanto a vinda de animais de fora para as feiras agrícolas. Estaria em discussão uma regra especial para esses casos, mas ainda não há clareza sobre o tema.

Para evitar escassez de animais, a medida deveria vir acompanhada de uma política de fomento à pecuária, defende o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar. Ele explica que a restrição impediria a importação de gado oriundo de estados fora da zona livre sem vacinação, como o Mato Grosso do Sul e São Paulo. “Todos sabem que o Paraná possui um rebanho limitado, sem escala de produção. Vamos virar uma ilha”, argumenta.

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A possibilidade de ampliar o leque de compradores e a remuneração pela proteína bovina desperta outros questionamentos. “O Brasil está abrindo mercados como China e Estados Unidos mesmo com vacinação”, aponta o presidente da Associação Brasileira de Angus, José Roberto Pires Weber.

Um setor que fatura R$ 20 milhões com a imunização do rebanho paranaense, a indústria de vacinas indica que haveria dificuldades de manejo casos a doença reaparecesse após a suspensão da campanha. “A vacina leva 8 meses para ser fabricada. Na falta de um banco de vacinas, o Paraná não teria onde adquirir doses em caso de contágio”, aponta Emílio Salani, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan).

Os argumentos contrários ao fim da vacinação são rebatidos pelo presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Inácio Kroetz, e pelo secretário da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara. Eles destacam que o último caso de ocorrência da aftosa nas Américas foi em janeiro de 2012.

O presidente da Adapar diz que no caso de uma nova contaminação após o reconhecimento oficial seria possível reverter as restrições mais rapidamente. “Em Santa Catarina, o setor privado investe mais de R$ 20 milhões para manter esse status. Será que eles fariam isso se não fosse viável?”, indagou. Kroetz também questiona a representatividade da importação de animais. Ele aponta que em 2014 mais 78 mil cabeças de gado entraram no . No mesmo período saíram 220 mil animais, a maioria para abate em plantas de outros estados.

A visão é reforçada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Paraná (Faep). “Temos estudos de viabilidade econômica que comprovam o ganho que o fim da vacinação pode gerar. O caminho é garantir a aprovação em etapas”, diz Ronei Volpi, especialista no tema.

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Novos técnicos da Adapar vão a campo em junho

Dois anos após anunciar a realização de concurso público para reforçar o quadro pessoal da Agência de Defesa Agropecuária (Adapar) e do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), o governo estadual confirmou na semana passada a contratação de 169 técnicos já concursados para a Adapar.

O secretário da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara diz que a nomeação será feita ainda nesta semana, para então iniciar o treinamento dos novos profissionais. Ele aponta que a maior parte dos contratados vai atuar nas barreiras sanitárias ou em unidades locais e regionais da Adapar. “No final de junho eles já estarão atuando”, disse. A ação integra as estratégias para controle da aftosa e busca do reconhecimento oficial como área livre da Peste Suína Clássica (PSC).

Ortigara diz que as ações têm caráter estratégico, sobretudo na questão da aftosa. “Não colocaríamos o estado em risco simplesmente para ter um diploma na parede. Se não dermos um tranco na pecuária em dez anos vamos estar discutindo o fim da atividade”, complementou.

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