A frota brasileira de carros de passeio está mais próxima de adotar o biodiesel como combustível alternativo. Pelo menos essa é a impressão que ficou após o lançamento da segunda fase do programa de apoio ao desenvolvimento do biodiesel no Brasil, semana passada, em Ribeirão preto. O projeto é uma parceria entre o governo federal, a PSA Peugeot Citroën e o Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas (Ladetel) da USP.

CARREGANDO :)

Ribeirão Preto (SP) – O coordenador da Comissão Executiva Interministerial do Grupo de Bioenergia da Casa Civil, Rodrigo Rodrigues, mostrou-se empolgado com os testes realizados nos modelos 206 e Picasso, que comprovaram a eficiência do B30, mistura de 30% de biodiesel de soja (que também leva álcool em sua formulação) ao diesel de petróleo. Os resultados revelaram que os motores tiveram desempenhos de torque e potência inalterados em comparação aos que utilizaram apenas o diesel comum, além de apontarem para a redução de 30% de emissões de partículas inaláveis, de 16% de fumaça poluente e de 11% de monóxido de carbono no mesmo comparativo.

Na opinião de Rodrigues, as pesquisas feitas pela PSA Peugeot Citroën e a Ladetel colocam por terra os questionamentos sobre o uso do biodiesel. "Agora temos dados científicos que possibilitam ao governo rever as restrições passadas e antecipar metas do programa do biodiesel", observou o representante da Casa Civil. As metas a que se refere Rodrigues são os percentuais de mistura de óleo vegetal ao diesel, que hoje é de 2% (obrigatório a partir de 2008) e passará a 5% daqui a dois anos (obrigatório a partir de 2013). Já as restrições dizem respeito uso de propulsores a diesel também por veículos de passeio, atualmente permitido apenas em veículos pesados, jipes com reduzida e máquinas agrícolas.

Publicidade

O diretor de Comunicação, Inovação Tecnológica e Meio Ambiente da PSA, Marc Bocqué, aposta no fim desta proibição, o que explica, segundo ele, a utilização dos modelos 206 e Picasso na primeira fase de testes. "Não houve incidentes com o motor, alteração no sistema de injeção e quaisquer mudanças no desempenho e na dirigibilidade com os veículos", argumentou Bocqué, reforçando a não-necessidade de se modificar os componentes dos atuais motores a diesel. "A única exigência é igualar a qualidade do nosso diesel ao padrão europeu, o que já está sendo feito com a redução do teor de enxofre. É preciso também fiscalização e controle rígido para evitar a adição de água e outros componentes que visam baratear o refinamento", completou.

Para o coordenador do Ladetel, Miguel Dabdoub, os testes eliminaram de vez a preocupação que a indústria automobilística tinha quanto aos efeitos do biodiesel no motor. "Provamos que não houve oxidação e nem a degradação dos componentes como muitos temiam. O consumidor pode confiar na mistura B30, que pode ser usada por motores de última geração sem qualquer dano", garantiu.

Testes

Durante os dois anos e meio de testes na primeira fase, os pesquisadores rodaram 180 mil quilômetros com os modelos 206 e Picasso, o primeiro movido a diesel com pré-câmara e o segundo a diesel com injeção direta common rail (HDi). A cada 20 mil quilômetros foram feitas avaliações quanto o nível de emissão de poluentes, sob a responsabilidade do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec), em Curitiba, e a influência do bicombustível no funcionamento do motor, a cargo do Ladetel, em Ribeirão Preto. Os dois veículos ainda serão enviados para a França para, novamente, serem analisados.