• Carregando...

Nos últimos anos três das grandes indústrias automobilísticas americanas, GM, Ford e Chrysler, sediadas em Detroit, vêm enfrentando sérias crises financeiras e administrativas. No ínicio dos anos 60, se alguém perguntasse para um executivo de uma dessas indústrias o que ele achava dos veículos produzidos no Japão e exportados para os Estados Unidos certamente ouviríamos que não se sentiam ameaçados, pois o consumidor americano estava acostumado com os grandes veículos equipados com motores de oito cilindros, completando o estilo do sonho americano do pós-guerra.

Passados 10 anos, para no início dos anos 70 eclodir o conflito no oriente-médio com a primeira grande crise do petróleo na vida dos americanos, os japoneses estavam lá com seus veículos econômicos e pequenos. As montadoras americanas não tiveram tempo para reagir com novos produtos e deu-se o início da era do carro japonês. O resto da história já é de conhecimento de todos. Hoje, os japoneses detêm mais de 40% do mercado americano, com altos índices de produtividade e excelente aceitação mercadológica.

Desde o início dos anos 2000, outro fantasma está tirando o sono das montadoras americanas. São os chineses e seus veículos econômicos e de baixo custo. No ano de 2006, a China fabricou sete milhões de unidades e, de acordo com as últimas estatísticas fornecidas pela Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis, as vendas de 2006 aumentaram 27,32% em relação às previsões anteriores. O mercado acrescentou 1,5 milhões de unidades imprevistas no total.

A China agora passou o Japão para trás com o segundo maior mercado de automóveis no mundo, atrás dos Estados Unidos. Com uma produção sábia, ultrapassou também a Alemanha, para transformar-se em terceira maior montadora de automóveis do mundo. Avalia-se que grande parte dos outros mercados encontra-se estagnado no mundo desenvolvido e, com o desempenho do ano passado, a China transformou-se em mercado chave. Para cada 100 veículos vendidos no mundo no ano de 2006, mais de 10 foram vendidos naquele país. Estatísticas de importante consultoria chinesa do setor apontaram que mais de 100 veículos de passeio, ou modelos modificados, foram lançados no mercado no ano passado, sendo que isso representa uma novidade a cada 3 dias. Para o primeiro semestre de 2007 já estão programados mais de 30 novos modelos para serem lançados.

Temos que considerar que as grandes montadoras chinesas são multinacionais associadas a empresas americanas e européias. A GM lidera na China com a produção de 870 mil veículos, com perspectivas para esse ano ultrapassar um milhão. A Volkswagen vendeu mais de 711 mil unidades e é o maior mercado dela fora da Alemanha. A Ford chinesa testemunhou o maior crescimento entre multinacionais na China, com vendas acima de 86,6%, ou seja, mais de 166 mil unidades em relação ao ano de 2005.

E quanto ao Brasil, a entrada do produto chinês é uma ameaça ou oportunidade? As montadoras chinesas enfrentam importantes desafios internos, precisam desenvolver novos mercados e, com o crescente aumento de volumes de produção, o direcionamento desse momento é a abertura de mercados emergentes, com a oferta de veículos pequenos e sub-compactos. Nesse segmento de veículos pequenos estão focados consumidores mais sensíveis aos preços e com necessidades básicas de mobilidade.

O Brasil tem atualmente uma capacidade instalada em suas 18 montadoras de produzir mais de três milhões de veículos anualmente. O ano de 2006 fechou ultrapassando dois milhões de unidades no mercado interno, completando uma frota circulante de 24 milhões. Conclui-se que apenas 13% da população tem seu próprio veículo. A deficiência nos sistemas de transportes coletivos no Brasil fez com que a indústria de motocicletas atingisse, em 2006, a marca de 1.100 mil unidades vendidas, com um crescimento de 25% em relação ao ano anterior. Detecta-se que existe um grande mercado para carros com preços populares, baixa cilindrada e reduzido consumo de combustível, atingindo consumidores de baixa renda do mercado.

As suspeitas de que a qualidade dos produtos chineses pudesse prejudicar sua comercialização está descartada, pois nos últimos anos houve uma grande preocupação em aumentar a qualidade, diminuindo os índices de rejeição e injetando novas tecnologias de ponta, importadas dos mercados europeu e japonês. Um bom exemplo é o recém-lançado modelo Zuma, produzido pela Shuanghuan Auto, com motor de 800 cilindradas, 40hp, cópia fiel do Smart europeu, um legítimo carro urbano, com o atrativo preço US$ 3.850 ou R$ 8,1 mil.

Nos últimos meses do ano passado, vários empresários chineses estiveram visitando grandes grupos empresariais brasileiros ligados ao setor, estudando possíveis parcerias e joint-ventures, para implantação de novas plantas ou importações. O desenvolvimento do mercado brasileiro para veículos chineses poderia acontecer com uma estratégia em três etapas: prospecção e introdução; crescimento e expansão; consolidação e fortalecimento. Certamente, as grandes montadoras aqui estabelecidas há longos anos reagirão a qualquer investida dos chineses, a fim de garantir o mercado já conquistado.

Em recente entrevista, o chinês-canadense Ray Young, presidente da General Motors do Brasil, afirmou que tudo vai depender da continuidade da indústria brasileira em termos de custos versus custos de outros fabricantes mundiais, e se for interessante a GM poderá vir a importar produtos chineses.

O Brasil moderno já entrou definitivamente no mundo globalizado e este caminho não tem mais volta. Portanto, da mesma forma que hoje em dia já convivemos com milhares de produtos importados da China, certamente, no futuro um veículo chinês poderá estar estacionado em nossa garagem.

Gláucio José Geara, vice-presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]