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O vidro escurecido no carro protege o motorista dos olhares do bandido ou dificulta a ação da polícia diante de um seqüestro? As opiniões de quem vive o dia-dia de uma grande cidade como Curitiba levam a uma resposta afirmativa para as duas situações.

Do lado dos que empunham a bandeira do escuro total nos vidros está o funcionário público Homero Vieira, de 30 anos, morador no bairro Santa Quitéria, em Curitiba. Ele conta que só não foi vítima de um assalto porque a película do seu Palio impediu. "Estava com o carro parado na rua quando um rapaz suspeito se aproximou. Colocou o rosto no vidro, mas pela direção do seu olhar percebi que não conseguiu me enxergar e nem o que estava dentro do veículo. Depois de alguns segundos, saiu calmamente e sumiu em meio aos outros carros estacionados", relata Homero.

O funcionário público acredita que o rapaz, percebendo do risco em arrombar um veículo cujo o interior era desconhecido, desistiu de assaltá-lo. "O ladrão age com segurança, não na dúvida. Uma pessoa dentro de um automóvel parado e com o vidro claro torna-se uma vítima em potencial", afirma.

Apesar de Homero qualificar à película escura como um acessório de proteção contra a violência urbana, ele admite que é preciso ter cuidado ao trafegar. Um vidro lateral aberto é o suficiente para comprometer a visão do motorista durante à noite. "Se olho para o lado com a janela abaixada e em seguida volto a olhar para frente ocorre uma diferença na visão. Momentaneamente ela fica embaçada, às vezes escura demais, exigindo atenção redobrada para conduzir o veículo", salienta.

O perigo da falta de visibilidade é reforçada pela tenente Débora Cristina Scremim, do BPTran de Curitiba. Segundo ela, é importante ter bom senso na hora de escolher a transparência. "Se colocar muito escuro, a pessoa acaba perdendo a noção de tempo e espaço, principalmente nos dias de chuva". Além disso, continua ela, "numa situação de seqüestro ou mesmo quando os ocupantes estão enfrentando algum tipo problema no interior do carro fica difícil quem está de fora perceber. Aquilo que alguns atribuem como acessório de segurança acaba virando uma arma para o bandido", enfatiza.

O corretor de seguros Sócrates Albuquerque Freitas Jr., de 31 anos, não pensa assim. Vítima de um seqüestro relâmpago há cinco anos, não abre mão de se "esconder" no interior do seu Chevrolet Astra. "Estava com um Voyage parado no semáforo, na Rua Padre Agostinho, nas Mercês, por volta das 19 horas, quando fui abordado por um grupo de adolescentes armado. Me levaram para sacar dinheiro em caixas automáticos. Tive um prejuízo de R$ 1 mil. Durante seis meses fiquei com trauma de parar em semáforo", lembra o morador do bairro Jardim Social.

Sócrates conta que passou a usar película escura e que já teve que tirá-la ao cair numa blitz. "(Os agentes de trânsito) Falaram que era um película refletiva, o que não é verdade. Era apenas um pouco mais escura que o normal", defende-se. Mesmo pagando a multa e, segundo ele, sendo alvo constante da fiscalização policial, o corretor mantêm o "filme" escuro nos vidros do Astra. "Minha vida vale mais do que R$ 127,69 (valor da multa)", conclui.

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