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José Francisco Pavelec, 60 anos, veio de uma família de ex-operários da antiga Rede Ferroviária | Henry Milléo/ Gazeta do Povo
José Francisco Pavelec, 60 anos, veio de uma família de ex-operários da antiga Rede Ferroviária| Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo

Hobby

De pano de prato a chaveiro

Como o hobby do ferreomodelista José Francisco Pavelec não tem limites, tudo que está relacionado aos trens ganha um espacinho na casa. Ele tem panos de prato bordados, objetos de pelúcia, lixeiras com desenho de locomotivas, pratos, chaveiros, quadros, cartões postais, vídeos, fotografias e cartões telefônicos com imagens de ferrovias. Até o telefone é em formato de trem. Na porta da geladeira da cozinha, por exemplo, não há mais onde colocar imãs de trens. "Acho que vou ter que comprar mais uma geladeira", brinca.

Familiares e amigos o apoiam e não têm dúvidas na hora de comprar um presente. As visitas de pesquisadores, amigos e da imprensa são freqüentes. "Mas quando vem criança eu aviso que isso aqui não é brinquedo, é objeto de coleção", conta.

Já houve tentativas de oficiali­zar sua coleção e montar um mu­­­seu, mas por falta de recursos públicos e do interesse da iniciativa privada, o plano não saiu do papel. "O brasileiro não pensa em preservação. Em Ponta Grossa deveria ha­­ver um museu ferroviário porque a cidade veio do trem. Antes os trens seguiam de Castro a Palmeira, então um certo alguém resolveu fazer uma estação em Ponta Grossa e a cidade começou a se desenvolver", lembra.

Sobre o destino do acervo, Pavelec não sabe o que vai acontecer. Ele tem um único filho, que é piloto, e possivelmente herdará a coleção. "Quando eu começo a pensar eu fico triste, mas aí coloco minha gravata com trens desenhados (foto) e fico feliz", fala o colecionador, que traz uma tatuagem de trem no peito baseada num desenho de Ziraldo.

No prédio mais alto de Pon­­ta Grossa, na avenida mais movimentada da ci­­dade, mora um apaixonado por trens. José Francisco Pave­lec, 60 anos, é aposentado pelo Ban­­co do Brasil. Veio de uma fa­­mí­­lia de ex-operários da antiga Re­­de Ferroviária. Nasceu em Re­­bou­­ças, na Região Centro-Sul, e "via pela janela do quarto os trens passando" ao lado de sua pe­­quena casa. Desde que se co­­nhe­­ce por gente, gosta de tudo que diz respeito à ferrovia. Quan­­do moleque, ganhou de sua avó um trem movido à corda. "Brin­­quei tanto que a corda estragou no mesmo dia", lembra.

Hoje, o brinquedo do aposentado toma conta do seu apartamento e consome parte do seu ordenado. Pavelec já perdeu as contas de quantas peças tem, mas chuta que seriam mais de 20 mil. O sonho do ferreomodelista, que diz ser um dos maiores colecionadores do país, é um dia doar o acer­­vo para um museu ferroviário, para que sua paixão permaneça viva nas próximas gerações.

Aos 11 anos de idade, nos idos de 1960, Pavelec ganhou o primeiro jogo completo de trem de lata do seu pai maquinista. O brinquedo ainda está guardado na caixa original e é mostrado aos visitantes que querem conhecer melhor seu hobby. "Já brinquei muito com ele", diz emocionado. O jeito de moleque ainda aparece no modo bem humorado de mostrar sua coleção. "Olhe isso aqui, parece um trem", brinca mostrando os objetos que estão espalhados pelos cômodos do apartamento.

Apesar de a paixão o acompanhar desde cedo, só em meados dos anos 1990, com uma situação financeira estável, ele pôde co­­meçar a montar sua coleção e ser considerado um ferreomodelista. E fez jus ao nome. Percorreu o Brasil e o exterior para comprar miniaturas. "Já estive em 32 países", acrescenta, lembrando que as viagens dentro do Reino Uni­­dos são todas feitas em trens de turismo.

A peça preferida é uma réplica da locomotiva Big Boy, que foi usada para o transporte de carga nos Estados Unidos no início do século 20 e pesava até 500 toneladas. A maioria das peças é no mo­­delo HO, que copia o original, só que em tamanho reduzido em 87 vezes, e nos mais diferentes meios de energia, desde o vapor ao elétrico.

Além de montar as peças compradas e ganhadas por conhecidos, Pavelec optou por dar vida às locomotivas e construiu, há al­­guns anos, uma maquete medindo três por cinco metros, que ocupou um dos quartos do apartamento. A maquete feita integralmente pelo colecionador, que precisou adquirir conhecimentos de eletricidade, é rica em detalhes. Tem estações de trem, pousadas, igrejas (católica e evangélica), pracinha e até um lago cercado de árvores. "Minha esposa me ajudou a fazer a copa das árvores", afirma o aposentado, que é viúvo há 13 anos.

Os trens funcionam e o sincronismo, que impede que as locomotivas se choquem, depende apenas da cabeça do autor. "Não é nada por computador, eu é que tenho que ficar atento para lembrar qual máquina saiu antes que a outra", comenta.

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