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O carro do dentista curitibano André Rodrigues possui algumas peculiari­dades. O modelo não traz freio, suspensão ou radiador | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
O carro do dentista curitibano André Rodrigues possui algumas peculiari­dades. O modelo não traz freio, suspensão ou radiador| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Deserto de sal

O local onde o veículo será utilizado é o Salar de Uyuni, um deserto no Sudoeste da Bolívia. Maior deserto de sal do mundo, ele está a 3.650 metros de altitude e possui uma área total de 10.500 km2. Para chegar até lá, a equipe terá de percorrer 2.400 km, num caminho que passa pelo Sul do Paraguai e pelo chaco argentino – ao Norte do país – até chegar ao local escolhido.

Senta a Pua!

O automóvel que está sendo construído por André Rodrigues foi batizado de "Senta a Pua!", em referência ao grito de guerra dos soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial. ‘É uma maneira de dizer pra cima deles, uma homenagem nossa aos que lutaram na guerra’, explica Rodrigues.

  • O veículo segue o estilo ‘Belly Tank’, utilizado em corridas de velocidade nos EUA nos anos do pós-guerra
  • O caça norte-americano P38 Lightning era bimotor e seu tanque de combustível tinha capacidade de até 1.000 litros

Construir e modificar veículos é uma prática que atrai muitos brasileiros. Mas encontrar um carro feito a partir de um tanque de avião não é tão comum. É exatamente esse o projeto do dentista André Rodrigues, que trabalha na construção de um carro baseado em um tanque de combustível de um caça da Segunda Guerra Mundial.

Esse tipo de automóvel, chamado belly tank, é utilizado em corridas de velocidade, que se popularizaram nos Estados Unidos nos anos do pós-guerra. A escolha por esse tipo de automóvel reflete a mentalidade das provas. "Nessas corridas de velocidade os competidores se ajudam, sem nenhuma rivalidade doentia. A competição de cada um é com si mesmo, para quebrar o próprio recorde", explica Rodrigues.

Estes carros já chegaram a atingir 400 km/h, em competições cujo trajeto é composto de oito milhas: nas primeiras cinco milhas o veículo acelera, a contagem de tempo é feita entre a quinta e a sexta milha e as duas milhas finais são utilizadas para frear o veículo – cada milha equivale a 1,6 quilômetros.

O carro possui algumas peculiaridades. Não há freio, suspensão ou radiador. Tudo para garantir a leveza e a velocidade máxima. Também não há transmissão de marcha. "No momento de arrancar, o carro precisa ser empurrado por outro veículo até atingir 60 quilômetros por hora", explica Rodrigues. O material utilizado para sua construção é a fibra de carbono, que é leve e resistente. As peças são todas importadas, o que encarece o projeto, que no momento é bancado apenas por Rodrigues.

Para não ter de se deslocar até o deserto de Boneville, em Utah (EUA), onde ocorre a corrida mais tradicional desse modelo, Rodrigues se empenha para organizar uma prova no Salar de Uyuni. Todo o evento está sendo organizado por ele, desde o diálogo com o governo boliviano até o contato com outros competidores. O mês escolhido foi o de novembro, quando não há chuvas nem frio exagerado. Enquanto busca patrocínio para bancar o projeto, Rodrigues já planeja a realização de um documentário que cubra toda a trajetória até a corrida, a ser custeado através da Lei Rouanet.

O sonho do dentista é competir com um motor 1.0, típico da indústria automotiva brasileira. "Só não utilizarei o álcool como combustível pela dificuldade de encontrar o etanol na Bolívia, porque essa era a minha vontade original", confessa Rodrigues.

Uma grande equipe está sendo formada para rumar em direção ao deserto boliviano, mas não haverá remuneração a nenhum membro. Há até apoio do alpinista curitibano Waldemar Niclevicz, que já escalou o Everest e oferecerá auxílio quanto às dificuldades da altitude, que demandam uma preparação especial.

Essa ideia do belly tank não é a primeira experiência de Rodrigues na montagem de carros. O dentista já tunou um Fusca junto com seu filho e trouxe um Corvette 1978 dos Estados Unidos. Rodrigues valoriza todo o processo que está tendo na construção do veículo. "Depois de uma experiência que tive com meu pai, aprendi que viver o sonho é tão importante quanto conquistá-lo", resume.

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