Bom Gourmet
Confira oito alimentos brasileiros que podem desaparecer nos próximos anos
Seja pelo esquecimento das tradições, seja por problemas ambientais, alimentos de todo o mundo estão ameaçados de extinção. Na correria do dia-a-dia, é cada vez mais comum optar por comidas industrializadas, com longas datas de validade e de fácil preparo, formando um movimento de homogeneização da alimentação global.
No Brasil, a situação não é diferente. A expansão desenfreada da agroindústria tem ameaçado a biodiversidade local, e a pouca valorização dos saberes ancestrais faz com que tradições alimentares de centenas de anos possam desaparecer em pouco tempo.
Com a intenção de catalogar esses alimentos ameaçados de extinção, o movimento Slow Food International criou, em 1996, a Arca do Gosto. Hoje, a arca conta com cerca de 6 mil produtos listados, das mais variadas origens. Só no Brasil, já são mais de 230 itens.
Mas então, quais são os alimentos brasileiros ameaçados de extinção? O Bom Gourmet separou oito deles na lista abaixo. Confira!
Pinhão
Qual paranaense não adora um pinhão? Mas, apesar de ser um dos principais símbolos do estado e amplamente consumido pela população local, isso não o isenta do risco de extinção.
O pinhão é a semente da araucária, encontrada ao longo de toda a Mata Atlântica. Foi a principal fonte de alimento de diversas tribos indígenas que habitaram a área, no período pré-colonial. Mesmo assim, o desmatamento é uma das principais ameaças à semente. Restam apenas 12,4% da vegetação original da floresta, segundo relatório da Fundação SOS Mata Atlântica.
Outro motivo é o abandono de sua forma de coleta tradicional, a sapecada. O método é herdado do saber indígena, e cada vez menos pessoas se dedicam ao seu aprendizado.
Queijo colonial
O queijo colonial é um dos produtos mais conhecidos do Sul do Brasil. Produzido a partir do leite cru, o laticínio faz parte da tradição dos "colonos", descendentes de imigrantes italianos, alemães e poloneses que habitam a região, em fazendas de agricultura familiar.
Segundo o IBGE, porém, houve uma diminuição de 90,09% no número de produtores de queijo colonial – na região oeste de Santa Catarina, por exemplo, de 1985 a 2006, a quantidade de produtores encolheu de 37.361 para 3.369. A imposição de normas sanitárias mais estritas para a produção com leite cru é a principal razão para essa diminuição, seguida do êxodo rural entre os mais jovens.
Cataia
A cataia é um arbusto nativo da Mata Atlântica, encontrada no norte do Paraná e sudeste de São Paulo. As folhas da cataia são usadas para elaborar chás e cachaças, e ela é popularmente conhecida como uma erva medicinal.
A cachaça curtida na folha de cataia, com ou sem a adição de mel, é muito popular em todo o estado do Paraná, e essa popularidade é justamente o que ameaça a planta. A procura pela bebida, conhecida como "uísque caiçara", tem levado à extração das folhas sem manejo específico, o que a coloca na lista de alimentos ameaçados de extinção.
Ostra-de-mangue
As ostras-de-mangue podem ser encontradas em quase todo o litoral da América Latina, do Caribe a Santa Catarina, em espécies variadas. A ostra nativa da Costeira do Pirajubaé, em Florianópolis (SC), é consumida desde os tempos pré-históricos, pelo Homem de Sambaqui, e posteriormente pelos indígenas carijós e guaranis, além dos portugueses que colonizaram a região.
O crescimento não planejado de Florianópolis casou a diminuição dos manguezais, e o aumento no despejo de detritos e poluentes em rios e mangues afeta a biodiversidade local. Pescadores mais velhos relatam que a ostra costumava ter cerca de 30 cm, e hoje dificilmente passa dos 15 cm.
Queijo da Serra da Canastra
Segundo o ranking do portal gastronômico estadunidense Taste Atlas, o Queijo Canastra é o 12º melhor queijo do mundo. Desde 2008, o queijo é reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro, pelo Instituto do Patrimônio Histórico a Artístico Nacional (Iphan), e sua região produtora consiste em apenas sete municípios, nas regiões sudeste e oeste de Minas Gerais.
O produto está sob ameaça, porém, devido à quebra na cadeia de transmissão do saber de fazer queijo. Filhos de produtores não querem dar continuidade ao trabalho, financeiramente pouco valorizado. Além disso, a legislação sanitária adequada à indústria dificulta a vida dos pequenos produtores, maioria na região.
Jambu
Quem já provou cachaça de jambu conhece bem os efeitos da planta – causa uma sensação de amortecimento na boca e nos lábios, que lembra um formigamento. A erva é natural da Amazônia e é muito utilizada na produção de remédios caseiros, para o tratamento de inflamações na boca e na garganta.
O plantio comercial do jambu, no entanto, tem ameaçado sua biodiversidade e a agricultura familiar. A pressão pelo aumento da produção tem levado agricultores a adotarem métodos de produção convencionais, que não levam em conta aspectos agroecológicos.
Ora-pro-nóbis
Conhecida popularmente como "carne dos pobres", a ora-pro-nóbis é uma hortaliça rica em proteína, vitaminas A, B e C, magnésio fósforo e cálcio. O nome vem do latim, que significa "orai por nós", e a planta pode ser encontrada em quase todo o continente americano – da Flórida ao Sul do Brasil.
Apesar de não estar ameaçada de extinção biológica, a hortaliça é listada como uma PANC (planta alimentícia não convencional), por ser pouco utilizada na gastronomia. A ora-pro-nóbis é uma boa alternativa comercial para a alimentação, pois além de seus valores nutricionais, cresce rápido e dispensa adubos e agrotóxicos.
Pirarucu
O pirarucu é o maior peixe de água doce do Brasil e pode atingir até três metros de comprimento e 250 quilos. Natural da bacia amazônica, o peixe é a principal fonte de proteína para populações ribeirinhas locais.
Apesar de existirem leis de proteção ao peixe, como a que proíbe a pesca durante seu período de reprodução e a que estabelece um tamanho mínimo de 1,5 metros para a comercialização, a rápida urbanização na região tem ameaçado sua existência. Por causa da pesca predatória, o tamanho médio do pirarucu tem diminuído nos últimos anos.
*Com colaboração de Gabriel Faria.