Produtos & Ingredientes
Conheça o que tem no melhor feijão tropeiro de BH
Há inúmeras possibilidades de se recriar pratos clássicos da gastronomia mineira, mas no caso do feijão tropeiro é impossível. Feijão tropeiro é feijão tropeiro e pronto. Preparado fielmente da mesma maneira há séculos, o prato que consiste na mistura de feijão, torresmo, linguiça e outros embutidos defumados surgiu com os tropeiros durante suas jornadas que desbravaram o país. Mas era durante as pausas entre as suas viagens que os tropeiros cozinhavam o feijão e a carne de porco após o processo de salga – pelo sol e pelo vento – e, depois, misturavam à farinha de milho.
Essa receita foi a base da alimentação desses viajantes. Com o passar do tempo, a origem permaneceu a mesma, porém, há quem personalize à sua maneira, explorando os vários tipos de feijão, por exemplo. Alguns cozinheiros preferem o carioquinha em vez do fradinho. Outros, incrementam a mistura do feijão com a farinha com ovo e couve, além da linguiça e bacon defumados e doses extra-crocantes de torresmo.
Entretanto, para o premiado chef Ivo Faria, a receita mineira precisa, primeiramente, de ser preparada com um feijão no ponto certo bem como uma farinha de qualidade, bacon e, claro, o torresmo. “O tropeiro mineiro já é estilizado, cada lugar tem a sua personalidade de acordo com o cozinheiro do estabelecimento. O tropeiro original, dos tropeiros, era feito somente com toucinho, feijão e a farinha”, disse ele. O chef tem razão, afinal, foi ele quem escolheu o Bar das Meninas como o autor do melhor feijão tropeiro da região Norte de Belo Horizonte. O estabelecimento foi um dos nove finalistas – representando cada uma das regionais da capital mineira – no concurso O Melhor Tropeiro de BH, realizado em dezembro. E, com o pé quente do chef, o Bar das Meninas conquistou o primeiro lugar na competição. “Ganhou pelo sabor. Os ingredientes são de qualidade e o gosto da farinha não sobressai o feijão. Aliás, é feijão tropeiro e não farinha tropeira”, brinca.
Os critérios para a votação dos jurados foram muitos, de fato. Porém, o gosto do prato mineiro ao paladar foi unânime para que Eloanda Pereira Martins e Rosa Maria de Matos, donas do pequenininho e simplório Bar das Meninas, ganhasse a competição e provasse que tropeiro bom nunca mente. Além do torresmo, da carne de porco, farinha e feijão, elas garantem que a receita vai além dos ingredientes selecionados. “É o amor que a gente tem por trabalhar e o esforço em nunca ter desistido”, disse Eloanda Pereira.
Segredo do campeão
E é verdade. Logo no primeiro fim de semana, as proprietárias do Bar das Meninas tiveram que alugar mesa e cadeira para receber a clientela que veio em busca do melhor tropeiro. Amigos e membros da família também integraram o quadro de funcionários para reforçar o atendimento do tropeiro que faz sucesso há nove anos. “Usamos o feijão carioca e o segredo é que ele fique cozido no ponto para não misturar e ‘sumir’ com os outros ingredientes. Mas, na verdade, esse tropeiro não tem nada de muito especial a não ser o nosso carinho em prepará-lo”, contou Eloanda.
O tropeiro, que custa R$ 12, ainda leva o mix de carnes de porco como bacon, linguiça defumada, pernil e torresmo frito na hora – nada de industrializado. “Tudo é fresco. Nós é quem compramos as verduras, os legumes e as carnes”, contou a cozinheira que, desde a infância, sua brincadeira preferida era brincar de cozinhar.
Votação
Os finalistas foram escolhidos por uma comissão julgadora entre 45 estabelecimentos indicados por votação popular. O grande vencedor ficou conhecido no dia 6 de dezembro após avaliação de nove jurados.
Para o chef Jaime Solares, da Borracharia Gastrobar e um dos jurados da competição, o sabor também foi critério na hora da avaliação. “O ponto do feijão também é importante além da variedade das carnes”, avalia. Outro jurado, o jornalista gastronômico Nenel Neto, do perfil Baixa Gastronomia no Instagram, acredita que o ovo é parte fundamental da receita. “O ovo no tropeiro é como o dono de um bom botequim: precisa estar presente. Torresminho para dar crocância também é fundamental. E tem que ter gosto de tropeiro, não é feijão com farinha. Todos os ingredientes precisam estar ‘dançando’ na mesma música”, compara ele.