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Após cancelar visita, Lula volta ao estado mais conservador do país para anunciar investimentos

Lula Santa Catarina
Antes da visita ao porto de Itajaí (SC), Lula assina criação de assentamento no Paraná. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visita Santa Catarina nesta quinta-feira (29), dois meses depois de cancelar uma agenda no estado considerado o mais conservador do Brasil. Ele estará em Itajaí, onde anunciará investimentos no porto da cidade, que foi federalizado em janeiro deste ano e acentuou as rusgas entre o governo federal e a gestão estadual catarinense, comandada pelo governador Jorginho Mello (PL). Essa será apenas a segunda visita de Lula a Santa Catarina no terceiro mandato presidencial.

No último mês de março, o petista ensaiou uma visita ao estado para anunciar a construção de embarcações em estaleiros de Itajaí e Navegantes, mas o acirramento político, em consequência da federalização do porto, motivou o cancelamento da agenda no Sul do país.

Nesta quinta-feira, Lula também visita o interior do estado do Paraná para assinatura da criação de um assentamento de terras para 400 famílias na região rural entre os municípios de Ortigueira e Faxinal, no norte paranaense.

O apoio dentro do porto de Itajaí e entre os integrantes e simpatizantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) destoa da alta rejeição a Lula no eleitorado de Santa Catarina e do Paraná. Os eventos também não vão contar com a presença dos governadores Jorginho Mello e do paranaense Ratinho Junior (PSD), opositores da gestão Lula.

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Governadores e prefeito não participarão de eventos ao lado de Lula

Comandado por Jorginho Mello, um dos governadores mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Santa Catarina não é um lugar amistoso ao petista. Na eleição de 2022, Bolsonaro teve 69,27% dos votos válidos no segundo turno contra Lula. Mello, na disputa contra Décio Lima (PT), foi eleito com mais de 70% da preferência dos catarinenses.

A partir de 2023, Mello e Lula tiveram vários embates envolvendo portos, concessões de rodovias e até mesmo a pesca da tainha. O presidente chegou a dizer que o governador é o que mais fala mal do governo federal. Como resposta, ouviu que ele “não perde tempo falando mal de ninguém”.

Mello estará em agenda no Oeste de Santa Catarina e não participará do evento. O prefeito de Itajaí, Robison Coelho (PL), enviará a secretária de Desenvolvimento Econômico, Gabriela Kelm. A ausência de autoridades em anúncios de Lula tem se tornado comum entre os políticos de direita que buscam se distanciar da agenda do presidente, ainda mais com a queda na popularidade em todo o país.

O governador paranaense Ratinho Junior também não vai participar do evento de criação do assentamento de terras no norte do estado — ele está na França para tratar da parceria com o Centro Pompidou. O vice-governador Darci Piana (PSD) tem outra agenda programada para o dia.

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Lula vai anunciar quase R$ 700 milhões para o porto de Itajaí

O município de Itajaí foi a administradora do porto por quase 30 anos. O convênio da delegação da autoridade portuária vigorava desde 1995, mas mesmo com o desejo da cidade, o governo federal decidiu pelo término da concessão. O então ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, chegou a afirmar que o porto ficaria com o município por mais 25 anos. A eleição para prefeito em 2022 mudou esse cenário, com o aliado de Bolsonaro assumindo a prefeitura da cidade.

Em entrevista à Gazeta do Povo em fevereiro, o prefeito Robison Coelho disse que não prejudicaria o porto de Itajaí por questões políticas e que faria o necessário para o desenvolvimento do local. “O porto está sendo tocado por um pessoal técnico, o que nos acalma um pouco”, comentou à época, antes da nomeação da nova superitendência pelo presidente petista.

Nesta quinta, Lula vai confirmar R$ 689 milhões em investimentos no porto de Itajaí para os próximos meses, incluindo a dragagem do canal do rio Itajaí-Açu, que custará R$ 90 milhões. No pacote, a obra mais cara será a construção do píer de atracação de cruzeiros, que custará R$ 300 milhões. Além destas, estão previstas as seguintes intervenções:

  • Obras na Bacia de Evolução - R$ 68 milhões
  • Contenção da margem direita do canal ao longo da avenida - R$ 67 milhões
  • Readequação do Molhe de Navegantes - R$ 64 milhões
  • Obras de adensamento antecipado do Recinto Alfandegado Contíguo (RAC) e entorno - R$ 45 milhões
  • Retirada do casco soçobrado do navio Pallas - R$ 23 milhões
  • Readequação das subestações de energia e iluminação - R$ 20 milhões
  • Aquisição e instalação de novo scanner - R$ 12 milhões

Nos quatro primeiros meses de gestão federal, o porto de Itajaí movimentou 4,8 milhões de toneladas, o que representa um avanço de 11% em relação ao primeiro quadrimestre do ano anterior. Em termos de faturamento, foram R$ 64,4 milhões — em 2024 o faturamento total foi de R$ 86,1 milhões.

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Ambiente apenas com aliados de Lula e militância em Santa Catarina e no Paraná

Se Santa Catarina não é um terreno favorável ao presidente Lula, o mesmo pode ser dito do Paraná. O estado vizinho, que deu 62,4% dos votos para Bolsonaro no segundo turno em 2022, é administrado por Ratinho Junior, aliado do ex-presidente e um dos nomes cotados como pré-candidato a presidente em oposição à reeleição do petista.

No Paraná, Lula vai oficializar a criação de um assentamento do MST com mais de 400 famílias na comunidade Maila Sabrina, no limite entre as cidades de Ortigueira e Faxinal, em uma área de 10.500 hectares.

Essa agenda estava marcada originalmente para 30 de abril, mas o presidente a cancelou devido à presença dele no funeral do papa Francisco, no Vaticano. Apesar de estar em um estado majoritariamente conservador, Lula estará entre os seus, inclusive com a companhia de ministros e vários integrantes do MST.

A mesma estratégia será usada em Santa Catarina com o evento em um ambiente "controlado", dominado por aliados e a militância petista. Com a federalização do porto de Itajaí, que passou a ser administrado pela Autoridade Portuária de Santos (APS), toda a diretoria do terminal passou pela aprovação do governo federal, especialmente do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor).

O superintendente do porto, João Paulo Tavares Bastos, afirmou que a ida de Lula a Itajaí é “um abraço coletivo" do presidente. Ele foi indicado ao cargo por Décio Lima, que perdeu o pleito ao governo catarinense para Jorginho Mello e foi nomeado presidente do Sebrae no início do terceiro mandato do petista. Lima, aliás, foi quem anunciou que o presidente viajaria para Itajaí. “O presidente Lula ama Santa Catarina e está ansioso por esse diálogo com a gente trabalhadora catarinense”, disse nas redes sociais.

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Atualização

Conteúdo atualizado com a confirmação de que o governador Jorginho Mello não estará presente no evento.

Atualizado em 28/05/2025 às 13:21

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