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Sucessão de Francisco

Chances de um papa brasileiro são menores do que em 2013

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O arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, foi considerado em listas de papáveis em 2013, mas não está entre os favoritos agora. (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

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A morte do papa Francisco, aos 88 anos, anunciada na madrugada desta segunda-feira (21), deu início ao período de sede vacante na Igreja Católica e abriu oficialmente o caminho para a realização de um novo conclave. A expectativa é de que ele comece nas próximas semanas, com 135 cardeais eleitores.

Entre os sete brasileiros que poderão votar na eleição, não há nenhum com grandes chances de ser escolhido. O nome mais conhecido é o do cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, que participou do conclave de 2013.

Naquela ocasião, Scherer foi apontado por vários vaticanistas como um dos candidatos com mais apoio inicial, ao lado de nomes como o italiano Angelo Scola. Reportagens da época diziam que ele tinha aprovação de setores da Cúria contrários à eleição de Scola.

Doze anos depois, porém, o contexto é outro. Scherer, que tem hoje 75 anos, não tem sido citado com frequência por especialistas em informações sobre o Vaticano. O arcebispo de São Salvador, Dom Sérgio da Rocha, é mencionado às vezes como um nome que corre por fora. Nenhum dos demais cardeais brasileiros que participará do conclave é considerado nas listas. Ao todo, o Brasil tem oito cardeais:

  • Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre, atual presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB);
  • Dom João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília;
  • Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus;
  • Dom Odilo Pedro Scherer, de São Paulo;
  • Dom Orani João Tempesta, do Rio de Janeiro;
  • Dom Paulo Cezar Costa, de Brasília;
  • Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito de Aparecida (SP)
  • Dom Sérgio da Rocha, de Salvador.

Desses, todos podem ser votados, mas Dom Raymundo não pode votar, já que tem 88 anos – a partir dos 80, o cardeal perde o direito a voto, ainda que continue elegível no conclave.

Na história, o Brasil também teve poucos cardeais cogitados para o papado. O caso mais notório é o do próprio Dom Odilo Scherer. Antes dele, o cardeal Lucas Moreira Neves chegou a ser considerado papável nos anos 1990, quando foi secretário da Congregação para os Bispos, um dos cargos mais importantes da Cúria Romana. Na imagem abaixo, uma reportagem de 1994 do jornal The New York Times mostra isso:

O texto do veículo americano discute especulações sobre a sucessão do papa João Paulo II após o adiamento de uma viagem, o que gerou preocupações sobre a saúde do pontífice. O trecho em destaque menciona Neves como um dos nomes cotados para suceder o polonês. O jornal o descrevia como "um proeminente conservador com raízes no mundo em desenvolvimento e experiência no Vaticano".

Na década de 1970, o cardeal Aloísio Lorscheider (1924–2007) também chegou a ser citado como um nome possível para o papado, especialmente por sua atuação no Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), que na época exercia forte influência pastoral e teológica na América Latina. Ele participou dos dois conclaves de 1978.

Há registros não oficiais de que Lorscheider teria recebido alguns votos no conclave de agosto de 1978, incluindo possivelmente o do cardeal Albino Luciani, que viria a ser eleito como João Paulo I.

Não há notícia de que um cardeal brasileiro tenha despontado como um dos líderes das votações de conclaves em nenhum momento na história. Alguns relatos dizem que Scherer teve certa força apenas nas primeiras rodadas de 2013. No entanto, o conteúdo das votações é protegido por juramento de sigilo absoluto, o que torna as informações incertas.

Neves se aposentou por motivos de saúde antes do conclave de 2005, quando poderia ter sido considerado.

Hoje, a probabilidade de um brasileiro virar papa é muito pequena, segundo a grande maioria dos vaticanistas. O país não tem um cardeal com grande protagonismo na Cúria Romana nem com projeção pastoral suficiente para reunir consenso no colégio cardinalício.

Além disso, há um fator que não pode ser desconsiderado: a eleição de Francisco, em 2013, já representou a chegada da América Latina ao papado. Nada impede que isso se repita, mas alguns cardeais podem ver como redundante escolher alguém da mesma região tão cedo.

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Chance de novo nome das Américas também é baixa

O cenário de baixa probabilidade para um papa brasileiro se estende, em certa medida, ao continente americano como um todo.

Entre os cardeais latino-americanos vivos, poucos têm projeção significativa no momento. Na Argentina, o sucessor de Francisco em Buenos Aires, cardeal Mario Poli, renunciou ao cargo em 2023 ao completar 75 anos. Em outros países com diversos cardeais, como México, Colômbia e Chile, nenhum deles tem muita visibilidade fora de seus episcopados locais.

Um nome sul-americano citado por vários vaticanistas é o do cardeal uruguaio Daniel Sturla, arcebispo de Montevidéu, com perfil geralmente considerado mais conservador que o de outros cardeais do continente. Ele está presente em diversas listas, mas não como um dos favoritos.

Dos Estados Unidos, o único citado com certa frequência é o do cardeal Raymond Burke, um dos nomes preferidos de conservadores.

Fora da Europa e das Américas, o cardeal filipino Luis Antonio Tagle é frequentemente citado como o papável não europeu mais viável, e frequentemente definido como alguém alinhado às visões do papa Francisco. Além dele, aparecem também nomes africanos como os dos cardeais Fridolin Ambongo (Congo) e Robert Sarah (Guiné).

Ainda assim, a maior parte dos nomes mais mencionados por vaticanistas é de origem europeia.

"Internacionalização" dos papas é fenômeno recente na história da Igreja

A ideia de papas oriundos de fora da Europa é relativamente incomum na história da Igreja. A nacionalidade dos cardeais nunca foi estabelecida como critério formal para eleição, mas só houve 12 papas não europeus na história.

Ao longo de dois milênios, dos 266 pontífices, cerca de 80% nasceram em território da atual Itália. Durante mais de 450 anos, de Clemente VII (1523) a João Paulo I (1978), todos os papas foram italianos.

A sequência foi interrompida com a eleição do cardeal polonês Karol Wojtyła (papa João Paulo II). Depois dele, a sucessão se manteve fora da Itália com Joseph Ratzinger (Bento XVI), da Alemanha, e Jorge Mario Bergoglio (Francisco), da Argentina. Foram três pontífices não italianos consecutivos, algo sem precedentes desde o primeiro milênio.

Antes de João Paulo II, o último papa não europeu havia sido São Gregório III, nascido na Síria, eleito no ano 731. Ou seja, por mais de 1200 anos, o papado permaneceu exclusivamente europeu.

A composição do colégio cardinalício também tem se tornado mais internacional nos últimos anos, especialmente sob o pontificado de Francisco, que nomeou cardeais de regiões historicamente menos representadas, como Ásia, África e Oceania. Ainda assim, o domínio europeu ainda é grande.

A eleição de um papa de fora da Europa em 2025 confirmaria a tendência de internacionalização do papado iniciada em 1978 e acentuada nos últimos anos.

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