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Do Brasil ao Peru

Dilma renova promessa de megaferrovia que beneficiará a China

Ferrovia
Projeto da ferrovia transoceânica tem 4,4 mil quilômetros de extensão. (Foto: Ricardo Botelho/MInfra)

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Reeleita para mais cinco anos à frente do Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como Banco do Brics, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) confirmou que a ferrovia transoceânica, que conectará o Oceano Atlântico no litoral brasileiro ao Oceano Pacífico no litoral peruano, está entre os assuntos que devem avançar na instituição com sede em Xangai, na China, e que financia projetos de infraestrutura em todo o mundo.

Esse projeto foi idealizado ainda na década de 1950, mas ficou esquecido até 2008, quando o governo da época de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) incluiu a ferrovia no Plano Nacional de Viação. Mais tarde, em 2014, Dilma costurou uma parceria com os governos da China e do Peru para avançar com o projeto e o financiamento.

Passada mais de uma década, pouco efetivamente saiu do papel. A ferrovia transoceânica tem uma extensão estimada de 4,4 mil quilômetros, saindo do Porto do Açu, no Rio de Janeiro, e chegando à costa do Peru, possivelmente próximo à capital Lima. No Brasil, ela seria dividida em três trechos:

  • Porto do Açu (RJ) a Maria Rosa (GO), na intersecção com a Ferrovia Norte-Sul, passando por Ipatinga (MG), Paracatu (MG) e Brasília (DF)
  • Maria Rosa (GO) a Vilhena (RO), passando por Água Boa (MT) e Lucas do Rio Verde (MT)
  • Vilhena (RO) a Cruzeiro do Sul (AC), chegando na fronteira com o Peru em Boqueirão da Esperança (AC), passando antes por Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC).

A parte entre Maria Rosa e Vilhena, em Rondônia, compreende a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico). O primeiro trecho de 383 quilômetros, entre Maria Rosa e Água Boa, no Mato Grosso, está em construção pela Vale, que ficou responsável pela obra como contrapartida ao pagamento da outorga pela prorrogação antecipada da concessão da Estrada de Ferro Vitória Minas e da Estrada de Ferro Carajás.

A previsão era de R$ 2,73 bilhões em investimentos, mas o valor deve superar R$ 8 bilhões. Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a obra ultrapassou os 30% de execução no ano passado e deve ficar pronta em 2028.

O governo federal pretende começar nos próximos anos a construção do segundo trecho da Fico, de 506 quilômetros, chegando a Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso —  a ideia da ANTT é colocar esse trecho na concessão para construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) entre Correntina (BA) e Mara Rosa (GO). Ainda faltaria o trecho mais extenso, até Vilhena, com 646 quilômetros, que não tem previsão para ser iniciado.

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Ao chegar ao Oceano Atlântico, a produção de commodities brasileiras - principalmente de soja e minério de ferro - reduziria sua dependência de rotas marítimas tradicionais para chegar ao mercado asiático, notadamente a China. Não seria necessário, por exemplo, utilizar o Canal do Panamá como caminho para a exportação.

A ferrovia transoceânica é uma obra complexa e cara. A estimativa é de que o custo total dela chegue a US$ 100 bilhões, o que hoje equivale a cerca de R$ 570 bilhões. Um investimento dessa monta não será possível sem a participação dos chineses, incluindo recursos do Banco do Brics, liderado por Dilma Rousseff, e de empresas estatais de infraestrutura, como a China Railway Construction Corporation (CRCC) e China Railway Engineering Corporation (Crec), que já têm negócios no Brasil.

O interesse dos chineses na ferrovia transoceânica não é por acaso. Ao mesmo tempo que é importante para as exportações brasileiras, é um caminho mais rápido para o país ter acesso a produtos do Brasil, como lítio e cobre. A China está injetando bilhões de dólares em vários países para ter acesso aos principais portos da Ásia, África, Europa e América do Sul. Essa “Nova Rota da Seda” é uma das marcas do ditador Xi Jinping para ampliar a influência chinesa no mundo.

Na América do Sul, a China deu um passo significativo ao iniciar as operações em novembro do ano passado do porto de Chancay, localizado 80 quilômetros ao norte de Lima, no que é considerado o maior projeto de infraestrutura portuária do Peru — o porto ocupará uma área total de 1,1 mil hectares. A importância desse empreendimento ficou nítida com a presença de Xi Jinping no evento de inauguração.

A construção do porto começou em 2021 e é o primeiro empreendimento chinês desse tipo no continente. Operado pela estatal do país, Cosco Shipping Company, e pela empresa peruana Volcan, o terminal custou US$ 1,3 bilhão, com quatro berços de atracação e capacidade para receber os maiores navios do mundo. Inicialmente, a previsão é movimentar 1 milhão de contêineres e 6 milhões de carga solta por ano. O projeto final, que chegará a US$ 3,5 bilhões, prevê 15 cais.

“A conclusão do Porto de Chancay permitirá que o Peru estabeleça uma rede de conectividade multidimensional, diversificada e eficiente, abrangendo da costa ao interior, do Peru à América Latina e mais adiante ao Caribe”, disse Xi Jinping na inauguração.

Com o porto, o transporte de produtos da América do Sul para a China deve cair de 35 para 25 dias, beneficiando os países da região, incluindo o Brasil. O porto de Chancay, inclusive, é cogitado para ser o destino final da ferrovia transoceânica.

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