Status da obra do contorno viário de Florianópolis neste mês de outubro.| Foto: Divulgação/Arteris Litoral Sul
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Prevista para ser entregue em 2012, a obra do contorno viário na Grande Florianópolis deve ter mais um adiamento. O investimento na malha viária pretende desafogar o trânsito da BR-101. O novo cronograma deve ser anunciado “em breve”, após análise do impacto da suspensão dos trabalhos no município de Palhoça por dois meses, segundo a concessionária Arteris Litoral Sul, que administra o trecho. O último prazo anunciado para conclusão da obra era dezembro deste ano.

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O contorno viário de Florianópolis é um corredor expresso que cruzará as cidades de Biguaçu, São José, Palhoça e Governador Celso Ramos e, com isso, desviará o trânsito da BR-101 na região que dá acesso à capital do estado catarinense.

A expectativa é de que cerca de 23 mil veículos pesados deixem de trafegar na BR-101, naquele trecho, e utilizem o contorno viário.

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Com isso,  a nova rodovia, considerada a maior obra de infraestrutura rodoviária em andamento no Brasil, vai colaborar para melhorar a mobilidade na Grande Florianópolis. São 50 quilômetros de extensão e, segundo a Arteris Litoral Sul, 84,2% da futura estrada está concluída, com 37 quilômetros pavimentados.

A rodovia terá velocidade operacional de 100 km/h e está sendo construída de forma a não ter aclives ou declives acentuados, sendo mais plana e com curvas suaves, evitando a necessidade de reduções bruscas de velocidade e garantindo a característica de corredor expresso.

Para o presidente da Câmara de Transporte e Logística da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Egídio Antônio Martorano, o contorno viário é importante para toda a região sul do Brasil, porque Santa Catarina tem grande fluxo turístico e também movimentação de cargas industriais, devido ao complexo portuário do estado. “O contorno vai fazer com que esse tráfego não tenha que passar pela zona metropolitana [de Florianópolis], que hoje é um caos. A BR-101 se transformou numa grande via urbana, conflitando com o tráfego da zona metropolitana de Florianópolis, que tem crescimento exponencial”, explica.

Em junho, a obra foi paralisada em Palhoça, após a concessionária rescindir o contrato com a empresa que executava os trabalhos. Os serviços foram retomados em agosto com a contratação de uma nova empreiteira. Dessa forma, o Consórcio Túneis Litoral Sul, composto pelas empresas Aterpa e J. Dantas, que já é responsável pelas obras dos quatro túneis do projeto, assumiu, então, as obras de terraplanagem e de artes especiais, e a Lacerda Conservação e Obras Viárias assumiu as obras de drenagem.

O impacto da suspensão dos trabalhos por dois meses está sendo avaliado pela concessionária em conjunto com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que tem feito inspeções regulares para monitorar o andamento das obras. Após essa análise, a Arteris Litoral Sul divulgará o novo cronograma.

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Um estudo feito pela Fiesc, em julho, já apontava que a previsão da concessionária de finalizar os trabalhos em dezembro não se cumpriria. O levantamento, feito pelo engenheiro Ricardo Saporiti, estimou a entrega das obras para o primeiro semestre de 2024, destacando a complexidade dos trabalhos e, inclusive, a época de chuvas.

Raio-x do contorno viário de Florianópolis

  • Rodovia terá 50 quilômetros em pista dupla e passará pelos municípios de Governador Celso Ramos, Biguaçu, São José e Palhoça. 
  • Seis acessos por trevos, dos quais três estão concluídos.
  • Quatro túneis duplos: um deles com as obras finalizadas, dois em fase de pavimentação e o quarto com as escavações subterrâneas concluídas.
  • Sete pontes, sendo seis concluídas.
  • 20 passagens em desnível, com 16 concluídas.
Mapa do trajeto do contorno viário de Florianópolis (SC).| Foto: Divulgação/Arteris Litoral Sul

Obra 875% mais cara e prejuízo para caminhoneiros e portos

As obras tiveram início no ano de 2008, com investimento previsto de R$ 400 milhões, segundo o monitor da Fiesc. De acordo com a Arteris Litoral Sul, já foram investidos R$ 2,9 bilhões na obra, e o valor total será de R$ 3,9 bilhões, ou seja, a obra ficou 875% mais cara neste período. Para custear parte do aumento, o pedágio da BR-101, em Santa Catarina, teve tarifa reajustada. Em 2020, o preço para carros era de R$ 2,70; neste ano, está em R$ 4,90.

Além disso, o atraso da nova rodovia impacta financeiramente os caminhoneiros e as empresas de frete. Um estudo feito pela Federação das Empresas de Transporte de Carga do Estado de Santa Catarina (Fetrancesc) aponta que os caminhões que trafegam no trecho metropolitano de Florianópolis da BR-101 têm custo 30% superior por conta dos congestionamentos. Isso porque a velocidade média para transitar na região é de 39 km/h, devido ao tráfego intenso. A pesquisa foi feita entre outubro de 2019 e abril de 2020, com análise de 67 pontos da rodovia, somando 298 quilômetros observados.

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O presidente da Câmara de Transporte e Logística da Fiesc, Egídio Antônio Martorano, chama a atenção, ainda, para o impacto financeiro na movimentação portuária, principalmente em Navegantes, considerado o segundo maior em movimentação de contêineres no Brasil. Cada contêiner movimenta R$ 1,2 mil em logística e, neste ano, foram registrados 2,44 milhões de contêineres em Santa Catarina. Essas cargas são de soja, carne congelada, madeira, produto têxtil, plástico e maquinários, por exemplo, que chegam pelos portos e são encaminhadas ao destino final, muitas vezes outros estados, de caminhão, com acesso pela BR-101, e, por isso, são impactadas pelo contorno viário.

Trecho a trecho da obra

O contorno viário de Florianópolis foi dividido em três trechos: Norte (22,67 quilômetros), Intermediário (15,25 quilômetros) e Sul (13,60 quilômetros), que foram subdivididos em troncos. Segundo a Arteris Litoral Sul, estão em andamento, em toda a extensão da nova rodovia, serviços de drenagem, terraplanagem, construção de obras de arte especiais, como pontes, viadutos e trevos, além dos trabalhos nos quatro túneis duplos que fazem parte do projeto.

O último relatório da ANTT informava a atuação de 28 frentes de trabalho simultâneas na obra do contorno viário. A situação dos trechos, em agosto, era a seguinte:

  • Trecho Norte A: 89,96%
  • Trecho Norte B: 98,47%
  • Trecho Norte C: 97,06%
  • Trecho Norte 2N: 99,29%
  • Trecho Intermediário Sub trecho 2: 97,85%
  • Túnel 4: 84,12%
  • Trecho Intermediário Sub trecho 3: 99,33%
  • Trecho intermediário Sub trecho 4-A: 99,04%
  • Trecho intermediário Sub trecho 4-B: 99,44%
  • Trecho Sul A: 75,24%
  •  Trecho Sul B: 49,20%

Em setembro, foi concluída uma etapa considerada importante pela Arteris Litoral Sul, e que não consta no último boletim da ANTT: o fim da escavação subterrânea no último túnel da obra.  “A partir de agora, os trabalhos seguem para a fase de escavação do rebaixo e revestimento do túnel, que permitirão a pavimentação e a instalação dos sistemas de ventilação, sinalização e monitoramento”, informou a concessionária.

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A detonação do túnel 2 foi acionada pelo diretor-superintendente da Arteris Regional Sul, Antônio Cesar Ribas Sass, que reforça a importância de finalizar essa etapa. “A realização da última detonação no contorno viário de Florianópolis marca um momento verdadeiramente especial”, celebra.

Além disso, foi concluído o desvio do tráfego da BR-282, em Palhoça, para o viaduto construído no km 18 da rodovia, em ambos os sentidos, o que permitirá o andamento dos trabalhos no trevo de interseção do contorno viário com a rodovia federal. Em Biguaçu, o trevo de interseção do contorno viário com a BR-101 também foi finalizado.

Evolução das obras no contorno viário de Florianópolis (SC), em julho de 2023.| Foto: Divulgação/Arteris Litoral Sul

Contorno de Florianópolis tem histórico de atrasos

A Fiesc, que monitora os trabalhos no contorno viário de Florianópolis, elencou os principais fatores do atraso da obra: projetos e estudos (40%), licenciamento ambiental (40%) e desapropriação (20%).

Tendo iniciado em 2008, a obra enfrentou a primeira barreira em 2012,  quando foi solicitada a alteração do traçado do contorno para evitar a segregação da área urbana de Palhoça. No local onde passaria a nova rodovia, foi construído um condomínio residencial. Com isso, foram realizados novos estudos e mais um projeto foi desenhado para o Trecho Sul.

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A nova rota previa cortar uma área montanhosa de Mata Atlântica, o que exigiu a construção de mais três túneis, que não estavam previstos no projeto inicial e que encareceram a obra. Além disso, ficou definido que o contorno iniciaria no km 177 da BR-101, em Biguaçu, terminando no km 220 da mesma rodovia, em Palhoça.

Após análises do impacto ambiental da obra e a licença concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o projeto passou pelo crivo da ANTT. E exigiu, ainda, nova rodada de desapropriações. Segundo Martorano, foram mais de 800 desapropriações realizadas. “Esse novo projeto e o reequilíbrio econômico financeiro do contrato foram aprovados em dezembro de 2020. Em fevereiro de 2021, a Arteris iniciou as obras na região”, explica a concessionária. É por isso que o Trecho Sul do Contorno é o mais atrasado.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]