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Eficiência privada x burocracia pública

PPPs avançam como alternativa para gestão complicada no sistema prisional brasileiro

Exemplo de PPP em presídios funciona no Complexo de Ribeirão das Neves (MG)
Complexo de Ribeirão das Neves (MG) funciona com gestão privada. (Foto: Fred Wanderley/L5Com)

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Estados defensores de uma política liberal e da participação da iniciativa privada para destravar nós na administração pública têm tateado há alguns anos a opção por parcerias público-privadas (PPPs) no sistema prisional. Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo têm projetos em andamento e Minas Gerais é, até o momento, o único estado com um presídio totalmente gerido por esse modelo.

Em comum, as iniciativas buscam mais eficiência para um sistema bastante complicado e repleto de peculiaridades em contraponto à burocracia apontada na gestão pública. A cobrança por resultados nesta gestão é prevista em contrato, conforme evidencia Leonardo Grilo, presidente da Gestores Prisionais Associados (GPA), empresa responsável pelo Complexo Penal de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte.

É lá que a ideia brasileira teve início. O executivo destaca que há mais de 300 indicadores de desempenho que precisam ser atendidos diariamente, abrangendo desde infraestrutura até a qualidade das refeições.

Por essa razão, como ele avalia, é muito difícil que um complexo penal gerido pela iniciativa privada venha a ficar nas mesmas condições, por exemplo, que o antigo Presídio Central de Porto Alegre (RS), o qual chegou a ser considerado nos anos 2000 como a pior prisão do país devido a denúncias como a presença de esgoto a céu aberto e superlotação, além de celas sem trancas.

A estrutura na capital gaúcha foi totalmente desocupada para demolição, em 2023, e deve ser reinaugurada, começando a receber novos presos ainda este ano, agora com o nome de Cadeia Pública de Porto Alegre.

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No Complexo Penal de Ribeirão das Neves, o estado paga à concessionária R$ 183,19 por detento ao dia, sendo que 20% desse valor varia conforme avaliação bimestral do desempenho da gestão. Para tanto, a fiscalização é feita por diversas instâncias: uma equipe da Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais, um verificador independente que elabora relatórios mensais, além de um gestor e de um fiscal específicos do contrato.

A aposta no modelo PPP tem reflexos na manutenção do presídio. Grilo exemplifica que, se ocorre de uma porta quebrar, o setor público precisa abrir um edital para consertá-la, o que pode levar meses. Já no modelo PPP, um funcionário resolve esse problema em apenas um dia.

O dia no Complexo Penal de Ribeirão das Neves inclui quatro refeições diárias, banho de sol, atividades educacionais, oficinas e trabalho externo para detentos do regime semiaberto. Segundo o responsável pela empresa gestora do complexo, 75% dos presos estudam. São 40 professores distribuídos em 24 salas de aula. O espaço é dividido em três unidades: duas para o regime fechado (672 detentos cada) e uma para o regime semiaberto (850 presos).

O presídio conta com bloqueadores de sinal, impedindo o uso de celulares dentro das unidades. Assim, mesmo que um aparelho entre ilegalmente, Grilo diz que não pode ser utilizado para golpes ou comunicação externa. A vigilância interna é feita por agentes privados, enquanto a vigilância externa é responsabilidade da Polícia Penal, que assume a unidade em casos de motins ou conflitos. Quando um apenado precisa sofrer algum tipo de sanção, essa iniciativa também fica a cargo do Estado.

Para Grilo, a falta de uma triagem específica para definição dos presos que são encaminhados ao complexo deveria ser revista, de maneira a garantir que aqueles com intenção de se ressocializar tivessem prioridade no acesso às atividades educacionais e profissionalizantes.

Questionado sobre a possibilidade de que o Brasil venha a ter, um dia, presídios inteiramente privados, como ocorre nos Estados Unidos, Grilo disse acreditar que a probabilidade disso ocorrer por aqui é nula, pois demandaria uma proposta de emenda à Constituição (PEC), visto que certas atribuições que são delegadas à iniciativa privada nos EUA constam como privativas do Estado na Constituição Federal brasileira, como a escolta externa e a guarda de muralhas dos presídios. Ainda assim, a ampliação das PPPs no sistema prisional brasileiro representa uma mudança na forma como o país gerencia suas penitenciárias.

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PPP em presídios pelo país

No Rio Grande do Sul, a construção do novo presídio de Erechim, que será gerido por meio de uma PPP, foi autorizada em abril do ano passado e tem previsão de entrega do seu primeiro módulo para abril de 2026. Em Santa Catarina, foi publicado no fim de fevereiro o edital para o processo licitatório do Complexo Prisional de Blumenau, que também será administrado via PPP.

Já em São Paulo, uma proposta de PPP para a construção e administração de três novos complexos prisionais está parada desde abril de 2019, necessitando passar por uma audiência pública antes de avançar para a etapa de elaboração e publicação do edital. No Paraná, a proposta teve início em 2019, durante o primeiro mandato do governador Ratinho Junior (PSD), no complexo penitenciário de Piraquara, região metropolitana de Curitiba.

Correção

O texto publicado originalmente foi atualizado no seguinte trecho, agora com a informação precisa: "O espaço é dividido em três unidades: duas para o regime fechado (672 detentos cada) e uma para o regime semiaberto (850 presos)", referente ao Complexo Penal de Ribeirão das Neves.

Corrigido em 28/03/2025 às 13:40

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