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Se alguém ainda acredita na balela de que Curitiba é uma cidade formada exclusivamente por descendentes de europeus, uma terra de eslavos num país de negros, tem agora mais uma chance para mudar de idéia. Basta ir ao Shopping Estação. Lá, no Espaço Teatro Regina Vogue, um grupo de afrodescendentes curitibanos está montando um espetáculo que não é exatamente uma ópera, tampouco uma peça de teatro. Está mais para um libelo em defesa de um povo.

Ópera Pop Negraé uma homenagem a todos os brasileiros que têm em seu passado um ancestral arrancado da África por colonizadores e trazido à América para trabalho escravo. Misturando música de três continentes – da própria África, da América do Norte e da América do Sul –, a montagem fala sobre a vida dos negros depois da diáspora.

"As pessoas às vezes não percebem que há negros em Curitiba", diz Kátia Drummond, cantora e atriz responsável por contar a história ao público durante as apresentações. Acostumada ao rap e à música negra dos Estados Unidos, ela fala em forma ritmada sobre a origem de seu povo – e dá a deixa para que os cantores mostrem música lírica feita sobre os negros.

A principal atração musical são trechos da ópera Porgy and Bess, um clássico composto pelo norte-americano George Gershwin no início do século 20. Com texto de seu irmão, Ira, o branco Gershwin resolveu mostrar como era a vida sofrida de seus conterrâneos, principalmente no sul dos EUA, onde a escravidão deixou marcas fortes. A letra fala, por exemplo, em negros balançando enforcados em árvores, como se fossem "frutas estranhas".

Os spirituals norte-americanos, outra expressão artística típica dos ex-escravos, também são cantados na Ópera Pop Negra. São canções fortes, de melodia popular, criadas pelos negros durante o trabalho pesado na lavoura. Era a única forma de fazer o tempo passar mais rápido. Mas a música acabou servindo para bem mais do que isso. Serviu, entre outras coisas, para criar os principais ritmos populares do século passado, como o rock, o jazz e o blues.

Para o cantor Juarês de Mira, um dos envolvidos no projeto, esta é uma oportunidade única de mostrar a verdadeira história do povo negro num lugar em que nem sempre as pessoas se interessaram por saber sobre o assunto. "Vamos mostrar que o negro tem uma história muito bonita, que não pode ser resumida a estereótipos", diz. "Negros não sabem fazer só samba e rock", completa.A Ópera Pop Negra é a segunda parte de um projeto de canto lírico montado pelo Teatro Regina Vogue, em parceria com o produtor Isidoro Diniz. No começo de julho, a parceria já tinha resultado em Mulheres de Puccini, um concerto com as principais árias femininas do compositor italianio.

‹ Serviço: Ópera Pop Negra. Espaço Teatro Regina Vogue (Av. Sete de Setembro, 2.775 – Shopping Estação, 2.° piso), (41) 2101-8292. Direção de Isidoro Diniz. Direção musical e roteiro de Ivo Lessa Com Fátima Castilho, Juarês de Mira e Geisa Costa. De quinta a domingo, às 21 horas. Ingressos a R$ 10 e R$ 5. Até 30 de julho.

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