• Carregando...
Alan Raffo, Maureen Miranda, Diego Fortes e Ludmila Nascarella estão no elenco de Os Invisíveis | Divulgação
Alan Raffo, Maureen Miranda, Diego Fortes e Ludmila Nascarella estão no elenco de Os Invisíveis| Foto: Divulgação

Parceria

Encontros com Grace Passô

Os Invisíveis nasceu de um processo curto de cinco semanas de ensaio. Diego Fortes assumiu a dramaturgia e a direção, mas contou com a colaboração da também dramaturga e diretora mineira Grace Passô, do grupo Espanca!.

Os dois se conheceram por intermédio de Nadja Naira (diretora de Os Leões, d’ A Armadilha, e iluminadora de Congresso Internacional do Medo, do Espanca!), depois de terem visto espetáculos um do outro. Os Leões havia projetado o trabalho d’ A Armadilha pelo Sudeste e, antes disso, o Espanca! conquistou Diego Fortes entre seus admiradores com a montagem Por Elise.

"Nossos universos não são tão diferentes. Grace trabalha muito no plano metafórico", diz Diego, justificando a parceria em Os Invisíveis.

Num encontro em São Paulo, em abril, os dois debateram pela primeira vez os rumos do projeto. Queriam falar de vazio existencial e do "alcance da visão". Por causa da distância e dos compromissos do Espanca! com os paulistas do grupo XIX (com quem montou o espetáculo Marcha para Zenturo), Diego foi escrevendo a peça sozinho.

Grace veio a Curitiba mês passado e se internou com a companhia daqui numa chácara em Ponta Grossa. Voltou na semana passada para mais uma etapa de colaboração. Segundo Fortes, a mineira escreveu diálogos inteiros da peça, mas, por não ter acompanhado todo o processo, preferiu não assinar ao fim. (LR)

A metáfora do iceberg é aquela que supõe haver, sob todas as coisas, muito mais do que a superfície permite ver. Esse volume submerso, fora do alcance dos olhos, interessou ao diretor Diego Fortes ao montar com sua companhia A Armadilha o espetáculo Os Invisíveis (confira o serviço completo do espetáculo), que estreia hoje uma temporada de um mês no Teatro Novelas Curitibanas. As situações e as relações entre os personagens vão se desvelando aos poucos, em um roteiro embaralhado de ações.

"É uma questão do que se pode ver, do que não se pode ver e do que se quer ver", resume Fortes.

No fundo, trata-se de um drama amoroso com elementos sobrenaturais. Dois casais viajam a uma ilha isolada para assistir, debaixo do céu claro, à passagem de um cometa. Diego Fortes atua com seu colega de longa data Alan Raffo e as atrizes Maureen Miranda e Ludmila Nascarella. Todos interpretam mais de um personagem: patrões, empregados e demais moradores da casa.

Não há, porém, nada de romântico nas relações entre os múltiplos casais. "Nenhum dos amores é muito confortável ou faz bem para alguém", diz o diretor, desiludido do tema. Alguns filmes italianos dos anos 60, como A Doce Vida, de Fellini, e A Noite, de Antonioni, serviram de referência para pensar o vazio existencial, a alienação e a incapacidade de transformação, outros temas motivadores da montagem.

Se a reflexão sobre o alcance do olhar foi inspirada pela leitura da obra do escritor argentino Júlio Cortázar (191401984), a desordem dada à história – com começo, meio e fim, mas fora de sequência – resultou de outro livro, A Vida – Modo de Usar, do francês Georges Perec (1936-1982). Daquelas páginas, nas quais o autor revela as tramas aos poucos a partir da descrição de apartamentos, Fortes tirou a ideia de puzzle. "É tanto o quebra-cabeças quanto o enigma", diz o diretor, decidido a repetir o efeito em sua peça.

Os três blocos de personagens entram e saem de cena diversas vezes, ora para representar um acontecimento recente, ora um passado, com inserções de poesia no meio. As pontas soltas que deixam compõem o enigma pensado para se resolver apenas no último instante.

Em vez de uma epifania ou uma transformação, A Armadilha oferece ao público descobertas sobre seus personagens.

Essa proposta de ocultar e revelar condiz com a opção por uma iluminação mais escura, nem sempre mostrando os rostos dos atores. Influência direta do diretor Roberto Alvim (da companhia Clube Noir), com quem Diego Fortes convive no Núcleo de Dramaturgia do Sesi Paraná. "É um Alvim light", brinca o curitibano sobre o encenador conhecido pelas atmosferas de penumbra. Tem sido uma batalha convencer sua iluminadora, Érika Mitiko, a reduzir a luz.

Os Invisíveis sucede O Esquema, primeiro texto dramatúrgico de Diego Fortes, apresentado sem bons resultados em março, pelo Fringe (a mostra paralela do Festival de Curitiba), no TUC. Antes, a companhia havia ocupado o Teatro Novelas Curitibanas com Guerra aos Taedos, adaptação da obra de Manoel Karam, mesmo autor levado ao palco em Bolacha Maria. No histórico do grupo, o momento de maior sucesso é o sugestivo Os Leões.

Para o próximo ano, a companhia volta à dramaturgia alheia com uma montagem de Orinoco, do mexicano Emílio Caballido (1925-2008), tendo as atrizes Maureen Miranda e Rosana Stavis no elenco.

Serviço

Os Invisíveis (confira o serviço completo do espetáculo). Teatro Novelas Curitibanas (R. Carlos Cavalcanti, 1.222), (41) 3321-3358. Quinta a domingo às 20 horas. R$ 10 e R$ 5 (meia). Classificação indicativa: 18 anos. Até 24 de outubro.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]