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Cesar Marchesini: “A realidade é um manancial inesgotável de inspiração” |
Cesar Marchesini: “A realidade é um manancial inesgotável de inspiração”| Foto:

Se não for divertido, não tem graça nenhuma

A lógica que vale para a notícia, também se aplica ao cartum: se um cachorro morde um homem, não é notícia; mas se um sujeito morder um pitbull, daí é manchete. Ou seja, a matéria-prima para o cartum é o acidente, o escorregar na casca de banana, o salto alto que quebra, o inesperado vexame.

Leia a matéria completa

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  • De Itararé (SP) para o mundo: Solda, considerado o Jimi Hendrix do cartum. Assim como o cultuado guitarrista, ele inventou um jeito único de fazer arte
  • A evolução da espécie no traço de Fernandes, paulista de Avaré

De Teresina a Piracicaba, passando por Caratinga e Rio de Janeiro, não tem erro: em toda cidade onde são realizados salões de humor, os participantes ba­­tem na mesma tecla. Não há mais espaço para o cartum. A frase, mais do que uma constatação ou mantra, é um protesto permanente. Como os desenhistas são, antes de tudo, bem-humorados, tudo acaba em piada.

Mas é fato: o cartum perdeu espaço para as charges.

Antes que uma eventual confusão espante o leitor deste texto, vale separar o trigo do joio, ou melhor: explicar o que é cartum e o que é charge. Fernandes, um dos craques do traço no país, tem as definições na ponta do lápis.

"Cartum é uma piada ilustrada que pode ser entendida em qualquer época, em qualquer lugar e que todo mundo tem conhecimento." Ou, de maneira ainda mais resumida, é um desenho atemporal. Ficou claro? Se as palavras não dão conta de definir, então, basta olhar para esta página: todos os desenhos publicados, incluindo a logomarca do Caderno G, são cartuns.

Já a charge, esclarece Fer­­nandes, "é a piada, ou melhor, a ‘alfinetada’ nos acontecimentos recentes que estão na boca do povo. Geralmente, a charge é política, mas pode ser esportiva ou de economia." Portanto, é o "desenho" que os jornais publicam, geralmente, próximo aos editoriais. Na Gazeta do Povo, ela é publicada na página 2.

Ventos do tempo

A reclamação de muitos artistas do traço, que fazem cartum mas sobrevivem de charge, tem relação com as mudanças dos ventos que, com o passar dos anos, trans­­formam irreversivelmente a realidade.

Orlando Pedroso, dono de um dos traços mais aplaudidos no Brasil, aponta para "quem" tirou o cartum dos jornais e revistas: a ditadura militar. Naquele período, entre 1964 a 1985, os veículos de comunicação praticamente exigiram que os cartunistas se tornassem engajados na luta contra o regime. "Então, (editores de) jornais e revistas passaram a pedir que os cartunistas produzissem charges ao invés do humor inconsequente do cartum", afirma.

Pedroso ainda chama a atenção para outro "responsável" pela extinção dos cartuns: a falta de espaço físico nos jornais. "Se notícias já ficam de fora das edições cada vez menores dos jornais, imagine então os desenhos", diz.

Fernandes não engrossa o coro dos descontentes, e lembra que cada época tem as suas dores e delícias. Em alto e bom som, ele afirma: "Na nossa profissão, somos pagos para criar. Se hoje não tem espaço, como havia antigamente na revista Cruzeiro ou mesmo na Veja da década de 1970, temos de inventar outros caminhos", sugere.

Se jornais e revistas impressas não abrem mais as suas páginas para o cartum, espaços na internet, como o site www.brazilcartoon.com, veiculam todo e qualquer desenho de humor. Os salões, como o de Piauí, também são vitrines. E, em especial, esta edição do Caderno G Ideias prova, na prática, que os jornais podem, sim, publicar cartuns.

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