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  • Carlos Vereza vive Graciliano na adaptação de Memórias do Cárcere, de 1984
  • Vidas Secas também integra a caixa de DVDs organizada pelo Instituto Moreira Salles

Já em setembro de 2012, o nome do escritor alagoano Graciliano Ramos (1892-1953) surgiu como forte candidato a homenageado da edição deste ano da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip 2013), que começa hoje na cidade histórica do litoral fluminense. No festival que havia sido realizado em julho passado, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade havia sido cantado em verso e prosa, e era preciso escolher alguém a sua altura.

Em entrevista à Gazeta do Povo, o curador da Flip, o jornalista e crítico literário Miguel Conde, disse que Graciliano era um "autor incontornável", que mais cedo ou mais tarde seria o escolhido, porém nunca pareceu tão adequado e pertinente prestar-lhe tributo.

Ele é, justifica Conde, um escritor fundamental, com gigantesca importância na história de literatura brasileira. Integrante da geração de ouro das letras nacionais, surgida na década de 1930, Graciliano, com obras da estatura de Vidas Secas, retrato sobre a miséria causada pela seca crônica que atinge o Nordeste, ultrapassou os limites do romance regionalista, do qual é um dos maiores expoentes, ao lado de José Lins do Rego, Raquel de Queiroz, Jorge Amado e Guimarães Rosa, entre outros.

Atemporal

Seus livros, além de serem retratos complexos da realidade nordestina de seu tempo, são, também, universais. Oferecem ao leitor uma prosa econômica, contida e precisa, "até hoje muito moderna e surpreendente", diz Conde, para quem a leitura de Graciliano é uma constante surpresa. Os romances do alagoano, diz o curador, ao serem lidos nos dias atuais, vertem atemporalidade. Os personagens são dotados de tamanha tridimensionalidade e a narrativa é tão bem-costurada, que é inevitável concluir que a literatura brasileira contemporânea deva muito a ele.

Como de hábito, a Flip será aberta hoje com uma conferência que versa sobre o autor homenageado pela festa. Quem inicia a maratona literária, que se estende até o próximo domingo, dia 7, é Milton Hatoum.

O escritor amazonense, de romances já considerados marcos das letras nacionais das últimas décadas, como os premiados Dois Irmãos e Cinzas do Norte, profere, na Tenda dos Autores, a palestra "Graciliano Ramos: a Aspereza do Mundo, Con­­cisão da Linguagem", na qual irá falar tanto sobre sua experiência como leitor ávido da obra do alagoano quanto a respeito do impacto de seus livros na formação dos escritores brasileiros contemporâneos. Seja pelo desencanto que a permeia quanto pelo estilo enxuto, essencial que a caracteriza.

Memorialista

O viés político que está presente na obra e na vida pública do escritor será tema, na próxima sexta-feira, da mesa "Graciliano Ramos: Ficha Política", da qual participam o biógrafo do autor de São Bernardo, Dênis de Moraes, o sociólogo Sergio Miceli e o brasilianista norte-americano Randal Johnson, que prepara um livro discutindo a importância de Graciliano na sociedade brasileira da primeira metade do século 20.

Memorialista, o escritor narrou sua experiência como preso político em Memórias do Cárcere, obra publicada postumamente em dois volumes – o último capítulo do segundo livro nunca foi concluído. O escritor foi detido por conta de seu envolvimento político em 1936, durante o governo ditatorial do presidente Getúlio Vargas, sob a acusação de ter participado da Intentona Comunista no ano anterior.

A obra, que retrata a perplexidade de Graciliano diante de uma uma prisão que sempre lhe pareceu injusta, foi transformada em 1984 pelo cineasta Nelson Pereira dos Santos no longa-metragem Memórias do Cárcere, que traz Carlos Vereza no papel do escritor. A produção, premiada pelos críticos no Festival de Cannes, será lançada em DVD, ao lado de Vidas Secas, clássico do cinema novo também assinado por Pereira dos Santos em 1963. Os dois filmes integram uma caixa organizada pelo Instituto Moreira Salles, que também inclui São Bernardo (1972), de Leon Hirszman.

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