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Duda (Vinícius Nascimento) e João (João Miguel) cruzam o país de caminhão fugindo de seus “fantasmas” | Divulgação
Duda (Vinícius Nascimento) e João (João Miguel) cruzam o país de caminhão fugindo de seus “fantasmas”| Foto: Divulgação

Desde o estrondoso sucesso comercial de 2 Filhos de Francisco, que levou mais de 5 milhões de espectadores às salas de exibição do país, o diretor brasiliense Breno Silveira vem apostando em um cinema que seja ao mesmo tempo popular, de fácil comunicação com todos os tipos de público, mas que também ofereça requinte técnico, uma narrativa bem-amarrada e atuações convincentes. À Beira do Caminho, que estreia hoje em circuito nacional (mais informações na página 4), tenta seguir à risca essa receita, mas não chega a um resultado tão emocionante e catártico quanto a história da dupla sertaneja Zezé di Camargo & Luciano. Derrapa no excesso de sentimentalismo da trama, um tanto esquemática, feita para emocionar.

A proposta do longa é até interessante. Construir em torno de canções românticas de Roberto e Erasmo Carlos, sobretudo dos clássicos dos anos 70, a história do caminhoneiro João (João Miguel, de Estômago), um sujeito amargurado e solitário que cruza o país atormentado por uma grande perda afetiva do passado. Todos os dias lhe parecem iguais e sem sentido até que Duda (Vinícius Nascimento) atravessa seu caminho. O garoto acaba de perder a mãe e tenta, de carona em carona, chegar a São Paulo, onde ele espera encontrar o pai que nunca conheceu.

Desse encontro inesperado surge uma intensa amizade, mas, antes disso, os dois personagens, traumatizados pela imensa dor que carregam, vão se digladiar, desafiar os limites da paciência um do outro, para aos poucos perceberem que começam a se transformar a partir dessa aproximação inusitada.

O espectador que acompanha o cinema brasileiro das últimas décadas vai encontrar em À Beira do Caminho ecos de 2 Filhos de Francisco e, sobretudo, de Central do Brasil, já que há, ao longo da trama, citações explícitas ao road movie de Walter Salles, tanto na história quanto em algumas cenas. Silveira aposta em um cinema humanista, o que é sempre promissor, em princípio. Mas também, por conta de seu anseio por atrair um público mais amplo, menos elitizado, ele erra a mão ao apostar em um sentimentalismo excessivo, forçado, que tira o filme da rota e quase o joga barranco abaixo em alguns momentos.

A proposta do roteiro de Patrícia Andrade é, aos poucos, por meio de flashbacks, revelar as razões que levaram o protagonista, vivido por um João Miguel contido, quase monocórdio e carrancudo demais, a sumir no mundo, deixando a própria história para trás. Uma chave para esse mistério são as músicas de Roberto Carlos que ele ouve nas suas andanças pelo país: elas evocam lembranças de tempos mais felizes, perdidos na sua juventude, mas também acentuam a dor da perda sofrida, cercada de mistérios até quase o desfecho do longa, vencedor dos prêmios de melhor filme, ator (João Miguel), ator coadjuvante (Vinícius Nascimento) e roteiro no último Cine PE (Olinda/Recife). GG

Classificações: GGGGG Excelente. GGGG Muito bom. GGG Bom. GG Regular. G Fraco. 1/2 Intermediário. N/A Não avaliado.

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