• Carregando...
João Felix e Bernardo Bravo, do Felixbravo: suavidade | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
João Felix e Bernardo Bravo, do Felixbravo: suavidade| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

O inspirado Sandro Malk

Uma surpresa chamada Bardot em Coma

Com apenas cinco canções, do EP Deslocado, Sandro Malk chamou a atenção. Ele é o autor das letras da banda Bardot em Coma que, após breve interrupção, acaba de retomar os ensaios. Confira, a seguir, trechos da letra de "Logo Logo a Vida Volta": "Como pode ficar tão tranquilo/ O mundo todo enquanto você dorme/ Ou é só pra preencher o vazio/ e o silêncio que ainda me comove./ Você pode roubar o que quiser, / sem pressa nenhuma, sem me devolver./ Pois nunca vou encontrar o que perdi, e sei que você vai perceber que sem você também./ Por isso antes de atravessar a rua/ deixe um sorriso pra mim,/ deixe um sorriso pra eu viver./ Eu já perdi tanta coisa, tanta coisa em você,/ mas talvez você tenha perdido mais do que eu./ É só você que não vai acordar./ [...]/ Não precisa desbotar o horizonte se a bondade não tem mais amor que deveria ter."

In English

Há bandas locais que usam o idioma inglês para comunicar as suas ideias. Isso tem explicação: muitos artistas norte-americanos e ingleses são referências, e influenciam compositores aqui e em diversos países

Destaques

Independentemente do que estão enunciando, o efeito melódico, em muitos dos casos, funciona. Entre os projetos em atividade, merecem aplausos O Lendário Chucrobillyman (monobanda do talentoso compositor e cantor Koti) , Rosie and Me (considerada por muitos a grande promessa entre as bandas locais) e Copacabana Club.

  • Leminski: letras poéticas
  • Lemos escreve sobre mulheres
  • Dary Jr, hoje à frente do brancaleoneZ, acredita em causas

No início, era a poesia. A canção popular feita no Paraná tem, ao menos, uma característica: a letra elaborada, com perícia e lirismo. O responsável por essa, hoje, tradição é o poeta multimídia Paulo Leminski (1944-1989). O primeiro álbum da banda Blindagem, de 1981, apresenta, por meio da voz de Ivo Rodrigues, toda a bossa do Leminski letrista, com destaque para o reggae "Sou Legal, Eu Sei": "Eu sei que sou legal/ O duro é provar/ Que sou legal, eu sei/ Mas isso não sei/ Se vão deixar dizer."

Canções de Leminski foram gravadas por Caetano Veloso, Morais Moreira, Nei Matrogrosso, entre outros grandes nomes da MPB. Leminski, para usar uma expressão surrada, mas definidora, fez escola. Marcos Prado (1961-1996) foi outro poeta a colaborar com com bandas de rock-and-roll, entre as quais Beijo AA Força e Ídolos de Matinê. Se Leminski – conhecedor do abismo que pode ser a condição – fazia letras com algum otimismo, Prado não escondia de ninguém a sensação de desespero diante da existência, como deixou registrado no texto da canção "Penúltima", gravada pelo BAAF: "Como posso agora estar alegre?/ Era de se esperar que eu desesperasse/ Talvez mais tarde eu desintegre".

Prado assinou dezenas de textos com vários parceiros – Thadeu Wojciechowski é um deles, que ainda distribui conteúdos para cantores e bandas de Curitiba.

A herança do texto elaborado na canção chegou ao século 21, com a diferença de que, agora, os cantores passaram a produzir os próprios repertórios. Entre os destaques da última década, um dos nomes que chamaram a atenção foi o de Dary Jr, autor das letras que escreveu e gravou com a (extinta) banda Terminal Guadalupe (TG). Elogiado pela crítica, saudado por Sérgio Martins, da revista Veja, como um dos mais inteligentes letristas do Brasil, Dary Jr tem a verve combativa. "Os assuntos não mudaram tanto. Basicamente, é o que Elvis Costello indicou: eu deixei você; você me deixou; eu quero você; você não me quer; acredito em alguma coisa. Eu acho que prefiro falar do que acredito, o que normalmente dá às canções um viés politizado, crítico, sem deixar de observar o mundo, mesmo quando o assunto é um pé na bunda", afirma Dary Jr, que, na canção "Tambores", elaborou frases inspiradas: "Um abraço, um beijo e eu descubro que os tambores do meu peito também rufam por você, que já fez pouco de mim."

A Poléxia, que encerrou as atividades em 2009, é outro grupo que se destacou, além das qualidades musicais, por ter, no texto, um trunfo. "Aos Garotos de Aluguel", uma das mais conhecidas canções do quarteto, fazia referência aos que vendem o corpo, "mas com amor é mais caro", cantava Rodrigo Lemos, um dos compositores, hoje à frente do projeto Lemoskine. No entanto, Lemos afirma que, excetuando "Aos Garotos de Aluguel", tudo o que ele faz é por causa e para as mulheres. "Elas são o início, o meio e o fim", diz.

O Charme Chulo e a Gentileza são outras bandas que apostam muitas fichas no texto. As crônicas urbanas sonoras da primeira, admite Leandro Delmonico, encontram inspiração na realidade e também nos livros de Dalton Trevisan e Cristovão Tezza. Já Heitor Humberto, da Gentileza, confessa que os trocadilhos o atraem. "O que te traz pra frente, é sempre ter um pé atrás", canta Humberto, em "Coracion".

Bernardo Bravo, responsável pela maior parte dos textos líricos gravados pelo duo Felixbravo, fa­­la algo que ajuda a entender o contexto contemporâneo: "Ao invés de buscar pontos em co­­mum, é importante perceber que a marca registrada das canções feitas no Paraná é a diversidade, algo que aponta para uma questão: hoje é tempo de ser cosmopolista, e não de buscar uma identidade regional."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]