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Motoristas | Filippo Monteforte/AFP
Motoristas| Foto: Filippo Monteforte/AFP

Perfil

• Nadine Gordimer tem 83 anos, nasceu no dia 20 de novembro de 1923 em Springs, cidade perto de Joanesburgo, África do Sul.

• É autora de mais de dez romances e dez coletâneas de contos – escreveu pelo menos 200 narrativas curtas.

• Entre os seus livros mais conhecidos, estão The Conservationist (1974), A Filha de Burger (1979) e O Pessoal de July (1981).

• Gordimer está no Brasil para participar da 5.ª Flip, onde lança a antologia Contando Histórias e o romance De Volta à Vida, ambos editados pela Companhia das Letras.

• Seu próximo livro, Beethoven Was One-Sixteenth Black (Beethoven Era Um Dezesseis Avos Negro), é uma coleção de contos a ser lançada nos EUA em 27 de novembro.

De Volta à Vida, romance mais recente de Nadine Gordimer que a Companhia das Letras lança durante a 5.ª Festa Literária Internacional de Parati (Flip), tem uma premissa que pode parecer estranha em um primeiro contato com o livro – ou na leitura da contracapa e das orelhas.

O ativista político Paul Bannerman faz parte de um grupo que briga contra a construção de uma usina nuclear na África do Sul. Um dia, do nada, recebe o diagnóstico de câncer na tireóide. Graças ao iodo usado na sua radioterapia, ele se torna radioativo. Diante da necessidade de encarar uma quarentena longe da mulher e do filho pequeno, Paul é acolhido pelos pais, Adrian e Lyndsay.

A palavra "radioativo" remete a histórias de ficção científica ou de super-heróis ("jovem picado por aranha radioativa"), mas não há nada extraordinário no livro de Gordimer. Ou melhor, a narrativa é fantástica na medida em que a vida cotidiana pode ser.

O diagnóstico de Paul vem "do nada" porque ele é jovem – tem 35 anos – e saudável, além de a família não ter antecedentes ligados ao câncer. Isolado na casa dos pais e vivendo como se sentisse um "leproso", ao qual o contato com outras pessoas é negado, ele tenta refletir sobre sua condição. Ao mesmo tempo em que se sente exausto demais para fazer qualquer coisa, por mais trivial que seja.

Como era de se esperar, a doença súbita de Paul – que chegou perto de ser desacreditado pelos médicos – acaba afetando todas as pessoas próximas do personagem. O fim da quarentena gera uma sucessão de acontecimentos que, de maneira geral, sugerem que a vida pode sempre se transformar – além de seguir adiante pouco importando o que se faz dela.

Ao contrário de aceitar o senso comum que manda viver cada dia como se fosse o último, Paul retorna a rotina de sempre, trabalhando com os colegas ativistas políticos e se sentindo até um pouco desconfortável com a vida social recém-revigorada. O mais próximo que chega de ser um sujeito transformado pela doença aparece nas transas com sua mulher, Berenice, numa espécie de paixão renovada.

Berenice, ou Benni, é uma publicitária de sucesso admirada por colegas e familiares. A experiência de quase perder o marido se reflete nela, meses depois, na forma de um desejo de ter mais um filho de Paul. Uma companhia para o pequeno Nicholas, de 2 anos.

A exemplo da mulher, os pais de Paul também sofrem o golpe de ver o filho quase morrer e reagem de modos diversos, cada qual buscando um novo sentido para suas vidas "corriqueiras".

Nadine Gordimer tem hoje 83 anos. Nasceu em Springs, cidade próxima de Joanesburgo, na África do Sul. Além de De Volta à Vida, lança a antologia Contando Histórias, também pela Companhia das Letras, reunindo narrativas curtas de 21 autores diversos, de Woody Allen a José Saramago.

Quando entregou o Prêmio Nobel de Literatura para Gordimer em 1991, a Academia Sueca apontou que o tema central de sua obra são as conseqüências do apartheid – palavra que significa, literalmente, "vida separada" em africânder e designa o regime segregacionista que privilegiava os brancos em detrimentos do negros na África do Sul entre 1948 e 1990. Com freqüência, três títulos são considerado obras-primas da autora sul-africana: The Conservationist (1974), A Filha de Burger (1979) e O Pessoal de July (1981).

Em De Volta à Vida, o embate entre raças dá lugar a um discurso "verde", ou ambientalista. Talvez as discussões acaloradas que Paul e seus colegas engajados têm ao longo da história pareçam pouco significativas. Mas não deixa de ser envolvente o modo com que os personagens trabalham a idéia de um bem-estar coletivo em contraponto com suas vidas íntimas.

Serviço: De Volta à Vida, de Nadine Gordimer (Companhia das Letras, 200 págs., R$ 37).

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