Paulínia, São Paulo - A terceira edição do Paulínia Festival de Cinema, encerrado na quinta-feira passada com a première do filme 400 Contra 1 Uma História do Crime Organizado, de Caco Souza, terminou com uma avaliação da crítica em que pesaram os equívocos na seleção dos filmes de ficção.
Dois deles, comédias pensadas exclusivamente com vistas a atrair o grande público para os cinemas, provocaram comentários gerais da crítica pela sua péssima qualidade. As Doze Estrelas, de Luiz Alberto Pereira (Tapete Vermelho, de 2005), sobre um renomado astrólogo que tem como missão entrevistar 12 atrizes, cada uma de um signo do zodíaco, para compor uma novela, fez o público rir muito mas não nos momentos em que se esperaria.
O filme já estava sendo chamado pelos jornalistas de novo Destino, em referência à desastrosa produção de Moacyr Góes, protagonizada por Lucélia Santos, que compôs a seleção de longas do ano passado. Mal sabiam eles que havia um competidor à altura. Em Dores & Amores, do paulistano Ricardo Pinto e Silva (Querido Estranho, de 2002), a atriz dos principais musicais de São Paulo, Kiara Sasso, interpreta Julia, diretora de uma agência de modelos apaixonada por um galinha (Márcio Kieling) dividido entre a dor de cotovelo pela ex-namorada modelo e o amor sufocante de uma doceira de roupas mínimas ambas portuguesas, para justificar a coprodução com o país ibérico. Só pela trama, dá para imaginar o sentimento de vergonha alheia que tomou conta do público.
A favela brilhou
As duas escolhas foram tão comentadas que quase obscurecem as duas ótimas produções saídas das favelas exibidas pela primeira vez no Brasil. Se o criativo e emocionante 5 x Favela Agora por Nós Mesmos, filme de cinco episódios dirigido por jovens diretores criados nos morros cariocas, saiu premiado pelos júris oficial e popular. Bróder, de Jefferson De, sobre dois amigos nascidos na periferia de São Paulo, foi a preferência do júri da crítica.
Já Desenrola, de Rosane Svartman (Como Ser Solteiro, de 2008), se soma à leva de filmes que têm como alvo o público jovem e, por isso mesmo, é muito bem-vindo. Apesar de competente, a trama focada na descoberta da vida sexual pelos adolescentes não supera os ótimos As Melhores Coisas do Mundo, Laís Bodanzski, e Antes Que o Mundo Acabe, de Ana Luiza Azevedo, premiados no ano passado em Recife e Paulínia, respectivamente.
Por fim, Malu de Bicicleta, de Flávio Tambellini, consegue contar uma história de amor passando ao largo da canastrice. Baseado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, que fez o roteiro, o filme narra com bom nível de sutileza as desventuras de Luiz Mario (Marcelo Serrado), um mulherengo empresário da noite paulistana que cai de amores por Malu (Fernanda de Freitas), garota carioca que o atropela de bicicleta na praia, e precisa controlar o ciúme desmedido.
Vantagem
Os documentários levaram vantagem sobre os longas de ficção. Dos seis, quatro são de inegável qualidade. Um dos mais interessantes, Leite e Ferro, retrato sobre a maternidade de mulheres presidiárias, saiu vencedor dos prêmios de melhor documentário e direção, para Cláudia Priscilla. Lixo Extraordinário conquistou o público, mas assusta os mais sensíveis pela postura arrogante do artista Vik Muniz ao buscar, como uma espécie de colonizador moderno, combustível criativo entre os catadores do aterro de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro.
Injustamente, três ótimos documentários não saíram premiados: Uma Noite em 67, de Renato Terra e Ricardo Calil, que revela momentos marcantes do festival de música realizado pela TV Record naquele ano; Programa Casé, de Estevão Ciavatta, sobre o pioneiro do rádio Ademar Casé, avô da atriz e apresentadora Regina Casé; e São Paulo Companhia de Dança, de Evaldo Mocarzel, um retrato sem palavras do cotidiano dos bailarinos da companhia.
A jornalista viajou a convite do Paulínia Festival de Cinema





