"Em arte, tudo pode". No final da década de 1940, não eram todos os artistas plásticos de Curitiba que partilhavam da opinião de Guido Viaro. Todavia, seus alunos Fernando Velloso e Domicio Pedroso levaram essa tese à risca e se consagraram como os principais modernistas das artes visuais do Paraná.
Nada de retratos, paisagens ou pinturas à maneira clássica. Domicio e Velloso transformaram matéria em figuras sensíveis. O conceito de arte abstratizante (diferentemente do abstracionismo, não simplifica a figura, mas evidencia a estrutura e as relações), impulsionado pelo expressionismo e outras correntes, inspirou os artistas que consolidaram no estado um novo jeito de pintar.
Esse é o fio condutor da exposição A Sensibilidade da Abstração, que celebra os 80 anos dos dois artistas; um século da criação da primeira obra abstrata, pelo russo Kandinsky; e quatro décadas do Museu de Arte Contemporânea do Paraná, idealizado por Velloso.
Os homenageados têm trajetórias artísticas paralelas. Além de nascerem no mesmo ano (1930), Velloso e Domicio se formaram na primeira turma de artes visuais da Escola de Música e Belas Artes de Paraná, em 1952, e moraram juntos em Paris por dois anos, onde continuaram os estudos. O que os une nessa exposição, sobretudo, é a busca por uma linguagem estética que fugisse do tradicionalismo.
"Curitiba estava estagnada pelo convencionalismo e a falta de curiosidade. Você tinha de vestir o figurino da época ou era eliminado. Felizmente, vimos em Guido Viaro uma porta aberta para canalizar nossa inventividade. Mesmo que achassem que o que fazíamos não era arte, enfrentamos o status quo e acreditamos na nossa arte", afirma Velloso.
A mostra reúne obras produzidas entre 1950 e 1980, e também pinturas, gravuras e esculturas de mais 18 artistas relacionados ao abstracionismo e à arte paranaense. Ao todo são 35 peças, a começar pela reprodução de uma gravura de Kandinsky.
"Pioneiro da arte abstrata, Kandisky é como se fosse o porteiro: recebe o espectador e abre as portas da exposição que leva aos demais artistas", brinca o curador José Carlos Cifuentes.
A linguagem abstratizante, verificada em Velloso e Pedroso, constrói uma nova "realidade" a partir de estruturas oníricas ou paisagísticas.
Contribuição
Para Cifuentes, além de homenagear o aniversário dos dois artistas, a exposição pretende reconhecer a contribuição que ambos deram para o fortalecimento da cultura paranaense.
Em Paris, Pedroso estudou Comunicação Visual no Centre Audio-Visuel de Saint-Cloud e passou a aplicar a abstração em diversos objetos, como o trabalho realizado em favelas cariocas. O figurativismo que praticou deu novos contornos e significados à paisagem, por meio da abstração. De volta a Curitiba, ele inaugurou o movimento de ação educativa nos museus. "Antes, tínhamos uma proposta pedagógica muito pobre para as artes", diz Domício.
O ideal de arte como meio indireto de transformação persiste para Velloso. "Acredito que a arte é uma forma de produzir sensibilidade. Nutri o amor pela estética, pela forma e pelo belo, e acho que arte é um instrumento de sensibilidade que nos transforma em pessoas melhores", arremata.
Serviço:
Exposição A Sensibilidade da Abstração Fernando Velloso e Domicio Pedroso 80 anos. MusA Museu de Arte da UFPR (Prédio Histórico da UFPR Rua XV de Novembro, 695, 1º andar), (41) 3310-2603/2832. Visitação de segunda a sexta, das 9 às 18 horas, e sábados, das 9 às 13 horas. Entrada franca. Até 20 de abril de 2011.
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