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Jessica Chastain concorreu ao Oscar como melhor atriz pelo longa, mas perdeu para Jennifer Lawrence (por O Lado Bom da Vida) | Divulgação
Jessica Chastain concorreu ao Oscar como melhor atriz pelo longa, mas perdeu para Jennifer Lawrence (por O Lado Bom da Vida)| Foto: Divulgação

Serviço

A Hora Mais Escura

(Zero Dark Thirty. Estados Unidos, 2012). Direção de Kathryn Bigelow. Com Jessica Chastain, Mark Strong e Joel Edgerton. Imagem Filmes. 157 min.

Classificação indicativa: 16 anos. Apenas para locação. Drama.

Filmografia

Confira os principais filmes realizados por Kathryn Bigelow:

• A Hora Mais Escura (2012)• Guerra ao Terror (2008) • K-19: The Widowmaker (2002)• O Peso da Água (2000)• Estranhos Prazeres (1995)• Caçadores de Emoção (1991) • Jogo Perverso (1989) • Quando Chega a Escuridão (1987) • The Loveless (1982)

  • Kathryn Bigelow (à esq.) mostrou uma direção corajosa no drama

A cineasta norte-americana Kathryn Bigelow, muito antes de se tornar a primeira mulher a receber o Oscar de melhor direção por Guerra ao Terror (2008), vinha construindo, há duas décadas, uma obra bastante singular, ao experimentar diferentes gêneros cinematográficos, como ação, policial e ficção científica, que não costumam ser muito associados ao universo feminino.

A consagração de Guerra ao Terror, controverso e intimista drama bélico que retrata o angustiante cotidiano de um esquadrão antibombas durante a ocupação norte-americana no Iraque pós-11 de Setembro de 2001, certamente serviu a Kathryn e ao roteirista Mark Boal (também premiado com o Oscar) de ponte para o projeto de A Hora Mais Escura, que está chegando às locadoras.

Indicado ao Oscar de melhor filme neste ano – a cineasta ficou de fora da corrida de melhor direção –, a produção reconstitui a missão da CIA que culminou com a morte do líder terrorista saudita Osama Bin Laden, em 2011. Despontou entre novembro e dezembro do ano passado, início da temporada de prêmios da crítica nos Estados Unidos, como favorito ao grande prêmio da Academia de Hollywood, mas aos poucos foi perdendo gás.

Isso ocorreu à medida em que se tornou alvo de uma campanha negativa, acusado de, ao mostrar em detalhes sessões de tortura que teriam sido essenciais na busca por informações sobre o paradeiro do líder da Al-Qaeda, ter, de certa forma, endossado esses métodos pouco ortodoxos.

Enquanto parte da crítica louvou não apenas a coragem, mas a destreza demostrada pela diretora na condução dessas cenas, ela também foi criticada justamente por, ao optar mantê-las como parte importante de seu filme, acabar legitimando a tortura dentro do discurso de seu filme, que está longe de veicular uma visão triunfante da caça a Bin Laden.

Vigor

A Hora Mais Escura é uma obra de grande fôlego, dirigida com vigor por uma cineasta que, como atesta toda a sua filmografia (veja quadro nesta página), não se rende ao convencional e está sempre em busca de formas mais inventivas de construir suas narrativas. Há quem se incomode com o tom quase documental de Guerra ao Terror e de A Hora Mais Escura, a acusando de construir histórias algo confusas, nas quais os personagens parecem não ter arcos dramáticos muito claros. Talvez isso faça sentido no caso de seu longa mais recente, mas não no de Guerra ao Terror.

Kathryn não se concentra apenas na ação militar no Paquistão. Mergulha por vários anos em uma intrincada trama envolvendo os agentes da CIA encarregados de encontrar o paradeiro de Bin Laden. São funcionários de alto e baixo escalão, que recorrem não apenas à espionagem, mas à tortura física e psicológica para obter as informações das quais necessitam.

E, no centro de tudo, o roteiro de Boal, certamente também por opção de Kathryn, estabelece como "heroína" uma atormentada agente chamada Maya (Jessica Chastain, indicada ao Oscar por sua excelente atuação), para quem encontrar e matar Bin Laden se torna um questão de honra.

A personagem, inspirada em uma mulher cuja identidade ninguém conhece, representa a América ferida, sofrida e com sede de vingança.

Tortura

A escolha por mostrar, quase explicitamente, sessões de tortura como meio de obtenção de dados essenciais à caça de Bin Laden é muito complicada. Embora o filme não exatamente endosse a truculência desses métodos, os colocando na tela, em detalhes, acaba por espetacularizá-los. De pouco ou nada adianta que os agentes, por vezes, esboçem alguma culpa e desgosto diante da situação.

Também não há como não estabelecer um vínculo de causa e consequência quando, ao cabo das quase duas horas e meia de projeção, Bin Laden é finalmente encontrado e morto. A maior parte do público, sobretudo nos Estados Unidos, conclui, a essa altura do longa, que o abuso teve sua paga. Foi um mal necessário – raciocínio moralmente indefensável.

Embora arrastado em alguns momentos, talvez por conta do tom pretensamente documental, A Hora Mais Escura é muito bem-realizado, graças a um roteiro articulado, e à edição, também primorosa.

Ele consegue relativizar seus pecados morais, em certa medida, por conta da esplêndida cena final, em que Maya, uma heroína feminina (e feminista) que, apesar de ter cumprido sua missão, é, no fim da trama, a encarnação do vazio. Seu semblante, ao mesmo tempo exausto e desolado, revela o conflito moral de ter, de alguma forma, ido muito além dos limites e, encerrado o assunto, sobra-lhe muito pouco. GGG

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