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Ao realizar uma experiência científica, o médico Dr. Jekyll liberta sua natureza maligna, transformando-se no monstruoso Mr. Hyde. O romance "O Médico e o Monstro", de Robert Louis Stevenson (1886) comprova a teoria já disseminada pelo escritor norte-americano Edgar Allan Poe anos antes, de que todo homem carrega dentro de si "o demônio da perversidade".

O próprio Poe possuía uma personalidade que oscilava entre a loucura e a sanidade, a suavidade e a agressividade. Seu desencanto com a sociedade, a experiência com drogas como o láudano e o absinto, sua relação conflituosa com a família e a morte precoce da esposa levaram o escritor a mergulhar cada vez mais na morbidez e na loucura. Bateu no fundo do poço quando, ao fazer uma viagem de trem de Richmond para Nova Iorque, desapareceu durante uma semana. Foi encontrado pelos amigos, delirando em uma sarjeta de Baltimore. Morreu poucos dias depois, em 7 de outubro de 1849, mas antes fez questão de fotografar seu rosto desfigurado, pouco depois de tentar o suicídio.

Todas essas facetas do escritor refletem sobre a peça "Projeto Poe: O Corvo", interpretada pelo Grupo Delírio em uma semana insana em que serão encenadas passagens da biografia do autor. O espetáculo estréia nesta quinta-feira (30), às 20h, no Espaço Cultural Falec. A montagem, com características memorialistas, utiliza a poesia e as palavras do próprio Poe para falar de sua vida. O som de uma música incidental e minimalista marca o início da encenação. Só termina uma hora depois, de forma abrupta e no tempo exato de duração da peça. "A música permeia a loucura de Poe", explica Edson Bueno, que adaptou e dirigiu a montagem e criou a sonoplastia.

Montagem

O cenário onde os atores incorporam as diversas facetas da personalidade do escritor é um hospício de loucos. Lá, o público pode encontrar um Poe jovem, que se considera diferente das outras pessoas; o Poe mulher, que revela seu lado feminino; o Poe doente, prestes a morrer, e, obviamente, o Poe escritor. "A peça não conta uma história. Os personagens são estados de espírito do escritor", conta Bueno. Há alguns anos, ele dirigiu a peça "O Corvo", sobre a obra do autor. "Utilizamos apenas 20% da extensa pesquisa que fizemos. Então, resolvemos aproveitar o restante do material para falar sobre a história de Poe, que sempre me fascinou", conta.

O diretor explica que a dramaturgia foi sendo elaborada ao longo dos ensaios. O resultado é uma "coreografia poética", desempenhada pelos atores Neiva Camargo, Pagu Leal, Marcel Gritten, Daniel Siwek, Tiago Luz, Diego Marchioro e Renata Vareschi. "O espetáculo é inteiramente coreografado como uma dança, para reproduzir a loucura de Poe", afirma Bueno. Nos quadros que se sucedem, as facetas de Poe são assombradas por aparições saídas de seu poema "O Corvo" e de seus contos "A Queda da Casa de Uscher" e "O Gato Preto".

Entre elas, está o próprio corvo - e, com ele, a expressão nevermore! ("nunca mais!"); o gato preto; e, Lady Madeline (em inglês, mad + line significa linha da loucura), uma mulher diáfana e intocável. "A obra de Poe está pontuada pela presença dessas mulheres inatingíveis", conta o diretor. Serviço:

Espetáculo "O Corvo". De quinta-feira a domingo às 20h. Espaço Cultural Falec (R. Mateus Leme, 990). Tel.: (041) 3382-2685. Texto de Edgar Allan Poe. Adaptação e direção de Edson Bueno. Com a Grupo Delírio Cia. de Teatro. Entrada: R$ 14,00, R$ 10,00 (bônus) e R$ 7,00 (estudantes, idosos, classe artística e promoções).

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