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Cercas de arame farpado no campo de extermínio nazista de Auschwitz, na Polônia | Kacper Pempel/Reuters
Cercas de arame farpado no campo de extermínio nazista de Auschwitz, na Polônia| Foto: Kacper Pempel/Reuters

Há quem acredite que o passado pode iluminar fatos do presente e o narrador de Diário da Queda está entre os crédulos, à procura dessa luz específica para ver se consegue entender como se tornou aquilo que é e o que o futuro pode ser, se há margens para manobra ou não.

O gaúcho Michel Laub tem um estilo magnético e veloz, que usa repetições (demais às vezes) para criar um determinado efeito. Uma vez que comece a ler qualquer um dos livros dele – de Música Anterior (2001) até o mais recente –, você só para se não tiver outra opção e abraça a causa do narrador como se fosse a sua, ansioso para ver aonde ele vai chegar.

A voz em Diário da Queda não é nomeada, mas se trata de um alter ego do próprio Laub, um personagem com sobrenome judaico que não é facilmente reconhecível como tal, por não terminar em "man" ou "berger". Encarar o passado, para ele, é remoer a culpa por ter ferido um colega de classe e também entender o papel do judaísmo em sua família e em sua vida, buscando referências nos modos como o pai e o avô lidaram com o Holocausto e suas consequências.

Quando passa a tratar das barbaridades sofridas pelos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, o narrador de Laub admite a impossibilidade de abordar o assunto depois que escritores como Primo Levi e Hannah Arendt (a lista é grande) já o fizeram. No entanto, depois da negação e até mesmo durante, ele aborda as atrocidades mesmo assim.

Com dificuldade e esforço, ele procura entender o drama vivido pelo avô traumatizado a ponto de deixar a dor tomar conta de tudo, tornando-o uma ausência. É neste ponto que a narrativa se torna árida, com repetições que deixam o texto tão torturante quanto aquilo que relata. Como no trecho que se refere às vítimas de Auschwitz com a expressão "um a um desse milhão e meio de adultos de trinta quilos", ou a repetição em: "...meu pai abrindo os olhos (Auschwitz) e pulando da cama (Auschwitz) e abrindo a porta do quarto (Auschwitz) e hesitando ao lembrar do escritório (Auschwitz) onde o meu avô tinha passado a noite e todas as noites desde que se viu derrotado por essas lembranças".

No fim do caminho, há recompensa e é possível deixar para trás "a inviabilidade da experiência humana".

Serviço: Diário da Queda, de Michel Laub. Companhia das Letras, 152 págs., R$ 38,50.

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