Uma das anedotas mais célebres da história da televisão ao vivo envolve Serge Gainsbourg. Em 1986, ao participar de um programa entrevistas nos Estados Unidos, o cantor francês declarou, em termos impublicáveis, que queria ir para a cama com Whitney Houston. Detalhe: naquele momento, a artista norte-americana estava sentada ao seu lado. O episódio, apesar de não aparecer em Gainsbourg O Homem Que Amava as Mulheres, embute boa parte do espírito do filme, em cartaz em Curitiba desde a última sexta-feira, e também de seu protagonista. Provocador e ousado, Gainsbourg ficou famoso tanto pela obra musical como pelas polêmicas e conquistas amorosas.
O longa-metragem, dirigido por Joann Sfar, tem o mérito de evitar completamente a fórmula já pisada e repisada em cinebiografias de estrelas da música. Mesmo bons filmes do gênero, como Ray (2004), de Taylor Hackford, e Johnny e June (2005), de James Mangold, parecem seguir uma estrutura única, em que os personagens saem de casa na juventude, alcançam o sucesso, caem na armadilha do álcool e das drogas e, de uma forma ou de outra, vencem seus próprios demônios. Os clichês também poderiam ser adaptados à trajetória do francês. Em vez disso, Sfar, um egresso do mundo dos quadrinhos, baseou-se na graphic novel Gainsbourg Hors Champ, publicada em 2009.
Detalhes da carreira e do cotidiano íntimo de Gainsbourg são retratados de maneira meio surreal. Bonecos gigantes, por exemplo, personalizam o alter ego e a consciência do artista, interpretado por Eric Elmosino que, com orelhas de abano postiças, é praticamente um sósia do cantor. Esteticamente inovador, o longa pode desagradar ao público que busca mais informações sobre a vida do autor de "Bonnie & Clyde" e "La Javanaise".
Aspectos e passagens inescapáveis da biografia como a origem judaica, a infância durante a ocupação nazista, as tentativas frustradas de se lançar como pintor e o affair com Brigitte Bardot (vivida pela lindíssima Laetitia Casta) também ganham toques fantásticos na história. O grande amor da vida do artista, de acordo com essa versão, foi Jane Birkin (Lucy Gordon), atriz inglesa com quem teve duas filhas (Charlotte Gainsbourg, que atua em Melancolia, de Lars von Trier, é uma delas) e a responsável pelo vocal feminino no sucesso "Je TAime... Moi Non Plus", que, em 1976, seria tema do filme Paixão Selvagem, dirigido por Gainsbourg e estrelado por Jane.
Por conta da letra erótica, dos sussurros e dos gemidos que contém, a canção causou furor no fim dos anos 1960, quando foi lançada. Hoje, é um clássico da música pop francesa. Gainsbourg, afinal, foi o artista que, em 1979, revoltou parcela significativa de conterrâneos ao regravar o hino da França em ritmo de reggae, mas que, por ocasião da sua morte 12 anos depois, acabou sendo comparado a Baudelaire pelo então presidente François Miterrand. GGG1/2
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