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Gilberto Chateaubriand, filho do magnata da imprensa Assis Chateaubriand, começou sua coleção de arte em 1954, quando ganhou do pintor paulista José Pancetti a tela "Paisagem de Itapoá". Anos depois, o colecionador faria o que considera uma de suas maiores loucuras: para conseguir "O Vendedor de Frutas", da modernista Tarsila do Amaral, desfez-se de três telas de Di Cavalcanti, algumas outras obras, e de uma considerável quantia de dinheiro. Assim, ao longo de mais de 50 anos, Chateaubriand reuniu cerca de 7 mil obras para compor o que é hoje considerada a maior coleção particular de arte do Brasil.

Uma amostra de 175 peças desse acervo será exibida a partir de hoje no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba. A mostra, intitulada Coleção Gilberto Chateaubriand: Um Século de Arte Brasileira, propõe uma "leitura panorâmica" da coleção, estendendo-se desde os primórdios do modernismo brasileiro até a produção contemporânea dos anos 2000. A seleção conta com obras de Anita Malfatti, Brecheret, Cândido Portinari, Cícero Dias, Beatriz Milhazes, Carlos Zilio, Cláudio Tozzi, Daniel Senise e Antônio Dias, entre muitos outros.

O projeto foi concebido para celebrar meio século de acervo e os 80 anos de Gilberto Chateaubriand. No entanto, o gancho se perdeu porque o patrocínio demorou para chegar. Mas, uma vez conseguida a verba, foi mantida a idéia original de um recorte horizontal da coleção. "Foi um pedido do próprio colecionador, já que o acervo não é muito bem conhecido fora do Rio de Janeiro (onde está cedido, sob contrato de comodato, para o Museu de Arte Moderna). Esse recorte panorâmico permite que outros públicos conheçam o conjunto da coleção", diz Fernando Cocchiarale, que divide a curadoria com Franz Manata.

Núcleos históricos

Optou-se por buscar as obras mais emblemáticas e classificá-las em núcleos históricos e ordem "aproximadamente cronológica", na descrição de Cocchiarale. "Digo aproximadamente porque os trabalhos não se sucedem estritamente em função das datas dispostas, mas em função do diálogo visual que é mantido entre elas, formando uma espécie de rede. Um coisa é o que o discurso verbal pode narrar, outra é o que o olho pode capturar. No núcleo do modernismo, por exemplo, que se estende até 1945, fim da Segunda Guerra Mundial, há uma tela de Flávio de Carvalho de 1951", argumenta o especialista.

Escolher as obras emblemáticas, no entanto, torna-se complicado quando o assunto é arte contemporânea. "No modernismo, não há dúvidas de que ‘Urutu’ de Tarsila do Amaral é uma obra-prima. Na produção mais recente, a escolha é difícil, até porque os artistas são jovens e não estão consagrados ainda. Então, mais do que certezas, fizemos algumas apostas", declara o curador.

Arte em contexto

Para o visitante mais atento, Coleção Gilberto Chateaubriand: Um Século de Arte Brasileira poderá ampliar a leitura da exposição Arte Moderna em Contexto, inaugurada no MON no final de novembro. A mostra reúne 73 obras da coleção ABN Amro que representam o desenvolvimento da arte moderna no Brasil. Para Cocchiarale, que também integra a equipe curatorial de Arte Moderna em Contexto, as duas iniciativas são complementares. "Os acervos cobrem períodos similares. Enquanto um encerra no modernismo, o outro se estende até a arte contemporânea. O público curitibano tem aí a chance de ver um panorama completo da arte brasileira", afirma. A coleção de Chateaubriand também completa algumas ausências fundamentais no acervo ABN Amro ao incluir trabalhos de Tarsila do Amaral, por exemplo.

Serviço: Coleção Gilberto Chateaubriand: Um Século de Arte Brasileira e Arte Moderna em Contexto. Museu Oscar Niemeyer (R. Mal. Hermes, 999), (41) 3350-4400. Terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas. R$ 4 (adultos), R$ 2 (estudantes), livre (crianças até 12 anos, maiores de 60 e escolas públicas pré-agendadas).

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