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Por muito pouco, o violinista chinês Yang Liu, professor na 25.ª Oficina de Música de Curitiba, não teve de abandonar o violino antes mesmo de começar a tocar. Fascinado pela sonoridade do instrumento que ouvia na casa ao lado da sua, Yang, então com quatro anos, perguntou a sua mãe se poderia tocar também. A resposta foi negativa. Na China pós-Revolução Cultural – que radicalizou os rumos da revoluçao comunista em 1966, sob o comando de Mao Tsé Tung –, o violino estava associado aos valores ocidentais. O risco de uma represália política era grande demais. Após meses de choro, a avó convenceu a mãe a comprar um violino pequeno, vindo do sul do país, e assim Liu começou sua história com a música. Hoje, aos 30 anos, o chinês é vencedor de importantes concursos internacionais, como o Tchaikovsky, em Moscou.

Esta é sua segunda visita ao Brasil, e primeira participação na oficina – suficiente para ter uma impressão do país. "Eu sinto paixão na forma como os brasileiros vivem. Em muitos outros países, as pessoas estudam música porque são pobres e querem melhorar de vida, ou ascender socialmente. No Brasil, é como se as pessoas estudassem música por um amor mais puro, existe uma energia muito especial", afirma.

Para a violinista curitibana Gabriela Boesing, 13 anos, aluna de Liu, a música funciona como uma espécie de combustível. "As vezes eu estou estudando e começo a improvisar, compor, tirar música de ouvido. Quando vejo já se passaram horas. Eu vivo música, como música, durmo música", conta. É a quinta vez que Gabriela participa da oficina e, se depender dela, muitas outras virão. "É um lugar ótimo para aprender com professores renomados e fazer amigos", justifica. O futuro? "Ah, eu sonho alto. Daqui uns dez anos gostaria de estar em alguma orquestra da Alemanha", diz.

Vinícius Marine Woicolesko, de 11 anos, é o músico mais jovem no curso de Yang. Como o professor, começou a tocar violino aos 4 anos. Atualmente participa da Orquestra da Erechim, do Rio Grande do Sul, onde mora com os pais. É sua primeira vez na Oficina de Curitiba, mas já participou de outros cursos pelo sul do país. Sempre acompanhado da mãe, Rosali, que também ensaiou alguns passos na música, mas não levou adiante: "É preciso dedicação. Agora eu só acompanho o Vinícius", conta.

Depois da primeira aula, parecem animados: "O Liu é um grande violista e um professor bem rigoroso. Ele sempre quer mais dos alunos, o que faz a gente melhorar", diz Gabriela. Vinícius concorda, com um sorriso tímido.

Problemas para entender o professor chinês? Que nada. "Ele fala inglês e a maioria dos alunos entende e ajuda os que não entenderam. E quando não dá certo, ele faz mímica", explica Gabriela, entre risos. A barreira lingüística também não é problema para Liu. "No ensino de música, o idioma é secundário. Você usa a linguagem corporal, mostra, toca para explicar", explica.

No colo de Liu, dentro de uma capa azul, seu violino. Um Stradivarius de 1699, conhecido por Lady Tennant. Comprado em um leilão da Christie’s, em Nova Iorque, por mais de US$ 2 milhões, foi emprestado a ele por prazo indefinido sob o auspício da Stradivari Society of Chicago. Quando o tocou pela primeira vez, Liu não sabia que se tratava de um Stradivarius. Foi uma surpresa. "Algumas vezes você toca violinos fantásticos, o som é otimo, mas ele não é para você. É muito pessoal, como num relacionamento. Mas quando eu toquei o Lady Tennant, foi paixão imediata", conta.

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