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  • A estréia de Arthur Azevedo como dramaturgo aconteceu na juventude, com Amor por Anexins
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Originário de uma família portuguesa, Arthur Azevedo nasceu no dia 7 de julho de 1855 em São Luís, no Maranhão. Era filho mais velho do cônsul português naquela cidade. Esse irmão mais velho de Aluísio Azevedo, cedo foi encaminhado, por seu pai, para o comércio. Segundo seus biógrafos, desde muito cedo Arthur Azevedo demonstrou vocação para o teatro. Em colaboração com outros empregados do comércio, Arthur Azevedo animou um grupo de jovens amadores em torno do Gabinete Português de Leitura, uma biblioteca mantida pela comunidade lusitana de São Luís. Nesse ambiente, Arthur e seu irmão Aluísio deram asas às suas primeiras experiências imaginárias no âmbito do teatro.

Foi como poeta que Arthur publicou seu primeiro livro, Carapuças, em 1871. Trata-se de um pequeno opúsculo de poesias, que retrata a cidade e as principais figuras da sociedade de São Luís. Apesar de seu talento juvenil, sua poesia satírica desgostou as personalidades que se viram caricaturadas pelo novato autor. Escreveu em seguida seu primeiro texto teatral, Amor por Anexins, um curto ato com dois personagens. O velho Isaías, que possui a particularidade de só se exprimir por anexins, e a jovem viúva Inês. A ação da comédia centra-se no esforço de Isaías em não falar em anexins com o objetivo de casar-se com a jovem viúva. Comédia ligeira, com traços de uma análise comportamental, figura aí o germe de sua futura obra teatral.

Aos dezoito anos, em 1873, o jovem Arthur desembarcou num Rio de Janeiro em plena efervescência política e econômica. Por um lado, verificava-se o término da guerra do Paraguai, que durara toda a década de 1870, por outro, continuava a guerra civil nos Estados Unidos. A França perdera as províncias da Alsase e da Lorraine para os alemães. Nota-se um ressurgimento da indústria brasileira em matéria de calçados, tecidos, instrumentos náuticos e ópticos, produtos químicos, vidro, cigarro, papel etc.

Durante os dezesseis anos que precedem a República, as discussões políticas se produziam entre os três principais partidos da atualidade: o Conservador, o Liberal e o Republicano. A paisagem da cidade de São Luís, mais marcadamente colonial que a de Rio de Janeiro, formava um contraponto com a panacéia que era a famosa rua do Ouvidor e adjacências, com suas atrações cosmopolitas importadas da França. Na Corte, Arthur ganhou sua vida, primeiro, como revisor e tradutor de folhetins franceses para o jornal A Reforma. Desde o primeiro contato com o universo jornalístico, ele não deixaria mais o mundo das letras, forjando a partir do jornal sua atividade como folhetinista, contista e escritor de teatro. Arthur fez em seguida carreira no serviço público da corte, trabalhando primeiro no Ministério da Viação e depois como amanuense em companhia de Machado de Assis.

Aos vinte anos, em 1875, ele se casou com Carlota Morais. Esta relação durou apenas dez anos, sem que viessem a ter filhos. Na década de 1890, Arthur Azevedo contraiu segundas núpcias com Carolina Adelaide Leconflé. De ascendência francesa, ela, também viúva, trazia do primeiro casamento quatro filhos e, com Arthur Azevedo, teve mais quatro: Arthur, Américo, Aluísio e Rodolfo.

No tocante à vida literária, a cidade do Rio de Janeiro vivia sob o efeito dos folhetins ao estilo de Victor Hugo, dos verso de Alfred Vigny e de Lamartine. Alexandre Dumas filho era o grande modelo no teatro desde os tempos do Ginásio, em 1855, com seu realismo romanesco moralizador e edificante. Em termos de teatro, o nome de Dumas filho só encontrava rivais em E. Augier e V. Sardou, em peças que primavam pelo entrecho baseado na atualidade parisiense. Foi neste ambiente literário, nesta atmosfera francófila, que Arthur logo conquistou um lugar de destaque. Na imprensa do Rio de Janeiro, a moda eram os pseudônimos. E Arthur os criou em série: Eloy, o herói; Dorante; Gavroche; Frivolino; Frivolão; Cósimo; Cratchit; Petrônio; Juvenal; XYZ; entre outros. Sua imensa produção jornalística se distribuía entre os principais jornais do Rio: O Paiz, A Notícia, O Correio da Manhã, A Revista Brasileira, O Século, Diário de Notícias, O Álbum. Essa intensa produção jornalística em grande parte foi dedicada ao movimento teatral. E, neste caso, destacam-se três rubricas: "De Palanque" no Diário de Notícias; "A Palestra" no O País e "O Teatro" em A Notícia. Essa produção reúne um denso material que nos permite conhecer, detalhadamente, o movimento teatral dos últimos anos do séc. 19 e os primeiros do séc. 20.

Como autor teatral, Arthur foi um dos mais profícuos de sua geração, escrevendo em diversos gêneros mais de 150 peças: 19 revistas de ano; vários textos realistas sem a presença de música; peças para o teatro musical; diversas obras com ou sem música "decalcadas" do repertório francês, que foram o objeto de verdadeiras experiências intertextuais — paródias, pastiches, recriações e "adaptações à cena brasileira" —; além de inúmeras traduções. Deste conjunto, destacam-se A Capital Federal; O Escravocrata; O Mambembe; A Jóia; O Oráculo, entre outros títulos.

Integrante da elite de nossos homens de letras, ele foi um animador cultural avant la lettre, incansável, a quem se deve, entre outras realizações, a campanha pela construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Dividido entre o teatro comercial e o literário — arte erudita e popular —, Arthur soube como ninguém estabelecer, na dramaturgia brasileira, a síntese entre formatos universalistas e conteúdos que manifestassem os valores emergentes de uma identidade brasileira. Ao ultrapassar o simples modismo passageiro vindo da Europa, ele consolidou as bases que já havia legado Martins Pena ao teatro nacional. Veio a falecer em 22 de outubro de 1908, aos 53 anos, no Rio de Janeiro, no auge de sua carreira como autor dramático, ensaiador e crítico teatral.

Ator, diretor e professor de Estudos Teatrais na UFPR.

"De um lado do mar sente-se a ausência do mundo; do outro, a ausência do país. O sentimento em nós é brasileiro, a imaginação, européia". J. Nabuco. Minha Formação, 1900.

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"...a maior figura da história do teatro brasileiro. Não, certamente, o maior dramaturgo – mas a personalidade que melhor encarna nossos vícios e nossas virtudes, o talento nacional típico, aquele que acompanha a corrente e ao mesmo tempo a fixa nas suas marcas privilegiadas. (...) Ele faz parte entranhada da vida teatral brasileira."

Sábato Magaldi, crítico teatral, sobre Arthur Azevedo em Panorama do Teatro Brasileiro (1962).

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"Quando eu morrer, não deixarei o meu pobre nome ligado a nenhum livro, ninguém citará um verso meu, uma frase que me saísse do cérebro: mas com certeza hão de dizer: ‘ele amava o teatro’ e este epitáfio moral é bastante, creiam, para minha bem-aventurança eterna."

Arthur Azevedo, 1903.

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