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Para Carlos Reichenbach, “chanchar é preciso” no cinema nacional | Divulgação/Festival de Brasília
Para Carlos Reichenbach, “chanchar é preciso” no cinema nacional| Foto: Divulgação/Festival de Brasília

Brasília - O cineasta gaúcho radicado em São Paulo Carlos Reichenbach foi à forra ao ser homenageado na noite de abertura do 43.º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no último dia 23, marcada pela exibição da cópia restaurada de seu filme Lilian M.: Relatório Confidencial, de 1975. "Desculpem a ousadia, mas vou corrigir uma injustiça substituindo um prêmio já morto por um presente e vivo", brincou emocionado, e passou seu troféu Candango para as mãos da atriz Célia Olga Benvenutti, protagonista do filme.

No ano de lançamento do filme, Carlão recebeu um telefonema enfático do jornalista Orlando Fassoni, um dos jurados do extinto prêmio Coruja de Ouro, promovido pelo Instituto Nacional de Cinema: "Vem para o Rio de Janeiro e traga sua atriz". "Não dá". "Vem que o prêmio de melhor atriz é dela". E foram. Na luxuosa noite de premiação, no Palácio do Catete, a consternação foi profunda quando o apresentador anunciou: "Lilian... Lemmertz!". "Voltar para São Paulo nunca foi tão demorado. Mas vingança é um prato que se come frio", brinca.

Essa foi uma das desilusões vivenciadas pelo diretor, que levou dez anos para ver Lilian M.,, seu segundo longa-metragem, reconhecido no Brasil. Foi preciso, para isso, que a Europa se encantasse pela "chanchada underground", como nomeou um jornalista – para furor do crítico Paulo Emílio Salles Gomes. Ele e o cineasta Mário Sérgio Person, aliás, professores da Escola Superior de Cinema São Luiz, foram os grandes incentivadores do aluno Reichenbach. "Person me botou na cabeça que eu tinha que ser diretor. Eu queria ser roteirista, tinha problema em me relacionar com as pessoas, mas ele dizia que não."

O próprio diretor não se importa com a pecha. "A chanchada sempre foi mal vista, havia um preconceito fenomenal. Eu sempre digo, aqui tem que chanchar", brinca. Produzido com as su­­catas de sua extinta produtora Jota Filmes, Lilian M. foi feito em uma época em que se produzia muito e com pouquíssimos recursos. "Às vezes, não dava tempo nem de escrever o roteiro e já estamos filmando. Hoje, isso é impossível", diz Reichenbach, diretor e roteirista de 14 filmes – os mais recentes são Falsa Loura (2005) e Garotas do ABC (2004). Considera este último seu melhor filme da última safra, e se arrepende de ter cedido às pressões para cortá-lo. "Ele deveria ter ficado com duas horas e quarenta minutos. Qualquer diretor europeu faz isso..."

O melhor de todos os que já realizou, em sua opinião, é Filme De­­mência (1985), pelo teor extremamente pessoal, embora Dois Córregos (1999) tenha obtido mais resposta de público. "Em Filme Demência, trabalhei a perda do meu pai, que morreu muito cedo, e me incentivou muito", diz. Do pai, um intelectual que lia Ulisses, de James Joyce, em alemão, tocava teclado e era arranjador de um grupo jazzístico, herdou, entre outras coisas, o gosto pela música, sempre presente em seus filmes.

Reichenbach pagou a faculdade de Cinema, aliás, com o dinheiro que ganhava como tecladista do grupo TNT4 – "que às vezes era TNT3 ou TNT5, com a entrada ou a saída de algum integrante". "Não consigo pensar cinema sem música", conta. Lilian M. tem uma trilha so­­nora impensável para os dias de hoje, formada por músicas do precioso acervo discos em 78 rotações do pai. "Hoje eu não conseguiria os direitos autorais", conta.

A repórter viajou a convite da do Festival.

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