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Cantora de jazz de sucesso no exterior, a brasileira Ithamara Koorax ainda não atingiu o mesmo reconhecimento de seus conterrâneos. Neste sábado (24), às 19 horas, acompanhada pela banda Na Tocaia, ela faz uma apresentação única no Teatro da Caixa, após 15 anos sem cantar em Curitiba. Na entrevista abaixo, a artista fala sobre a carreira internacional, as dificuldades de se projetar no Brasil, a inveja e o show Bossa-Jazz 2009, em que canta standards americanos e clássicos nacionais.

Gazeta do Povo – O que significa ser eleita uma das três melhores intérpretes de jazz do mundo, pelos leitores das revistas Downbeat, em companhia de Diana Krall e Cassandra Wilson?

Ithamara Koorax – É uma grande honra e uma alegria. Mas não posso ficar deslumbrada. Tenho que continuar estudando e tentando me aperfeiçoar, porque aumenta a cobrança da crítica e a expectativa do público. O resultado desse tipo de votação é consequência de uma conjunção de fatores: boa divulgação dos discos, a quantidade de shows pelo mundo, a execução nas rádios etc. Felizmente, desde 2000, quando lancei Serenade in Blue, sou incluída na lista dos "melhores do ano" pelos leitores da Downbeat. E, desde 1995, ano do lançamento de Rio Vermelho, sou prestigiada pelas revistas asiáticas e europeias. Também fiquei honrada ao ser considerada pelo historiador Scott Yanow, em seu recém-lançado livro The Jazz Singers – The Ultimate Guide, uma das melhores cantoras de jazz de todos os tempos, ao lado de nomes como Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan.

Como você explica o fato de ser mais conhecida fora do Brasil do que por aqui? A opção pelo jazz interfere?

O fato é que meu trabalho tem mais repercussão na mídia internacional do que no Brasil. A opção pelo jazz não interfere, porque eu não canto apenas jazz. Canto MPB, bossa nova, dance-music, música clássica. Desenvolvo uma carreira na área de dance (house e tecno) que é muito badalada na Europa. E, volta e meia, gravo e faço concertos com orquestras sinfônicas, inclusive no Brasil. O que "atrapalha" o meu reconhecimento no mercado brasileiro é a minha opção pela música de qualidade. E a culpa é da crítica musical, que desde o início taxou meu trabalho de elitista, o que não é verdade. Ao ser convidada para o Domingão do Faustão, em 2003, fiquei 18 minutos no ar, porque o índice de audiência não parava de subir. Se me chamassem uma vez por mês, como acontece com vários artistas, eu certamente teria uma popularidade imensa no Brasil. A inveja também atrapalha muito, rola uma ciumeira horrível que prejudica quem faz sucesso no exterior. Aconteceu com um monte de gente: de Carmen Miranda a Sérgio Mendes. Villa-Lobos já dizia: "Vou à Europa para ser reconhecido, aos EUA para ganhar dinheiro e volto ao Brasil para ser espinafrado".

O que a conduziu até o jazz?

Comecei a cantar jazz em 1994, quando gravei "Cry Me a River" para o CD Rio Vermelho. Era a única música estrangeira do disco e tinha a participação do maior baixista da história do jazz, o Ron Carter, a quem eu tinha sido apresentada pelo Luiz Bonfá. No ano seguinte, a música estourou nas rádios do Japão e da Coreia, levando o CD ao topo da parada de jazz e da parada pop! A partir dali, o Arnaldo DeSouteiro, produtor do disco, me fez ver que eu teria grandes chances de progredir na cena jazzística. Recebi elogios de lendários jazzmen como Dave Brubeck e Phil Woods, e isso me incentivou muito.

Atualmente, onde você vive? E qual sua rotina de trabalho?

Vivo em avião... (Risos) Tento me dividir entre Estados Unidos, Europa, Ásia e Brasil. Mas, por enquanto, ainda rolam mais convites para cantar na Finlândia e na Coreia do que em Goiás e Santa Catarina.

A turnê brasileira, batizada de Brazilian Butterfly Tour, deve se estender por quanto tempo?

Assim que terminaram os shows nos EUA, em fins de dezembro, viajei para passar o réveillon com minha família no Rio. A turnê brasileira começou lá, no dia 2 de janeiro, no Mistura Fina. Depois de Curitiba, irei a São Paulo e sigo para a Ásia em meados de fevereiro. Volto ao Rio no início de março e viajo dia 12 para a Europa, numa excursão que vai até final de abril.

Como foi a experiência de excursionar com esse show pelos Estados Unidos?

Os concertos nos Estados Unidos variaram bastante. Tenho mais de 200 músicas ensaiadas no meu repertório. O principal foi na Universidade de Nova Iorque, com a big band Amazon, liderada pelo maestro Gaudencio Thiago de Mello, comemorando os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. Teve repercussão mundial.

Seus shows têm interatividade com o público, que deve votar em canções a serem gravadas no seu próximo disco. São inéditas?

São canções que costumo cantar em casa, mas que nunca gravei. Músicas como "Got to Be Real", da Cheryl Lynn, "Never Can Say Goodbye", do Frankie Valli, e "Oba-Lá-Lá", do João Gilberto. Essas foram as três mais votadas no Rio de Janeiro, onde o público recebeu uma cartela para escolher as músicas preferidas do show. Mas isso não vai rolar em Curitiba. O convite aqui partiu do baixista Glauco Sölter, da banda Na Tocaia, que eu conheci acompanhando o Raul de Souza. Na véspera da viagem para Curitiba, fui informada de que o pianista estava saindo do grupo e não haveria tempo para ensaiar todas as canções com o substituto. Então sugeriram dividir o show em duas partes: uma instrumental e outra com a minha participação. Vou torcer para que o público goste e que eu possa voltar com a minha banda, pois não canto em Curitiba há mais de 15 anos.

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