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Filmar a comédia Birdman (do diretor Alejandro González Iñárritu) foi uma das experiências mais difíceis e gratificantes da carreira de Michael Keaton.

O norte-americano interpreta Riggan Thomson, ator que foi um astro no papel do super-herói dos quadrinhos Birdman; fez fama e fortuna e deixou crescer o ego, mas perdeu credibilidade. Foi um dos maiores astros do cinema da sua época, mas seu brilho está apagado hoje em dia. O próprio Michael Keaton interpretou Batman em dois filmes de Tim Burton. Confira a entrevista:

O filme ficou como você esperava?

Sim. A gente trabalha em um projeto e torce para que tudo dê certo. Sob esse ponto de vista simplista, ficou melhor do que eu esperava. Eu sabia que iria ser difícil, não só para mim e os atores, mas para todos os envolvidos. Pensei: 'Oh, puxa, não sei se vai funcionar, pois é realmente difícil. Ele não vai poder contar com o luxo da montagem.'

Por causa das tomadas longas?

Sim, mais isso além do que ele estava tentando fazer, então vieram os efeitos. Parece muito pretensioso se eu disser que 'não existe nada parecido', então, quando digo isso às pessoas, eu explico: 'não é que o filme seja tão bom que nada se compare a ele; ele é diferente de qualquer outro filme que eu possa descrever'. Simplesmente, não consigo pensar em nenhuma comparação. Adoro fazer parte de algo assim. Mesmo que fosse péssimo, eu teria muito orgulho de fazer parte de algo assim. Quando fiz Jackie Brown, e aquela personagem que existe nos livros de Elmore Leonard surgiu novamente em Irresistível Paixão, um dos meus motivos foi que eu gostei da ideia de um cara que aparece em um filme e pode aparecer também em outro. É como se ele realmente existisse no mundo e pudéssemos encontrá-lo na padaria ou supermercado, algo assim (risos).

O que intrigou você nesse personagem?

Bem, tive menos identificação com este personagem que qualquer outro. Sei que é irônico e até estranho, mas é isso: não me identifico com ele exceto pelo fato de termos tido a mesma profissão e, obviamente, interpretado super-heróis. Não me importo de falar sobre isso, porque é bem óbvio; e, por ser tão óbvio, foi um dos obstáculos mais fáceis de superar. A ideia é essa mesmo, então vamos em frente. O que mais há de importante nesse personagem? Quando li a descrição do filme, pensei que, de fato, era preciso descrevê-lo para que as pessoas entendessem do que se trata. Mas, quando as pessoas virem o filme, descobrirão que filme é sobre muito mais. Então, de que eu gosto nele? Apesar de ele ser muito chorão e patético, e tão incrivelmente inseguro, pensei que seria muito bom interpretá-lo. E o filme retrata exatamente a pior fase da vida dele. No fim, ele é realmente nobre. Isto é verdade: digam o que quiserem sobre ele, mas, no fim, ele foi muito corajoso, e acho que é daí que surge aquele aspecto de Dom Quixote.

Seu personagem fica trancado do lado de fora do teatro, e você teve que andar só de cueca pela Times Square. Deve ter sido uma cena interessante...

(Risos) Isso que é incrível nos atores, acho que... Bem, eu só acho, não tenho certeza e talvez deva perguntar a outros atores... A gente faz mesmo essas coisas, mas talvez nem se dê conta quando lê o script (risos). Eu pego o roteiro, leio, fico intrigado, daí viro a página e vejo que ele está falando com a Naomi (Watts), depois ele fala com o Zach (Galifianakis) sobre a peça, depois está no teatro, está lendo, vai para a rua, daí eu rio e penso que aquilo vai ser muito engraçado e já começo a ter uma ideia do que fazer. Daí eu viro a página e ele está trancado do lado de fora, correndo pela Times Square só de cueca. Na cena seguinte, leio mais um pouco e vejo que a cena vai ser mesmo muito engraçada. Daí começa a filmagem e eu estou lá, nem penso em tirar a roupa. No meio da coisa toda, eu meio que me dou conta: 'Espere um minuto, nunca passou pela minha cabeça que essa ideia era louca.' Bem, na verdade passou, mas eu só pensei que aquilo seria engraçado. Espero que a minha atuação seja engraçada e convincente, mas não penso que preciso conversar sobre isso com o diretor.

Você já conhecia o Alejandro Iñárritu?

Não. Eu conhecia muitos de seus filmes, talvez todos. Cara, adorei os filmes dele. Quando vi Amores Brutos, fiquei muito surpreso com o estilo. Babel e 21 Gramas também me impressionaram. Nós nos conhecemos, ele me fez certas perguntas, eu fiz perguntas a ele, e ele começou a se esforçar para explicar o filme, mas não conseguiu explicar nada. Ele então me pediu que lhe desse uma carona até sua casa. Moramos perto um do outro. Eu concordei, é claro. Ele disse: 'Venha comigo, que eu vou te dar o roteiro.' Depois, disse: 'Apenas leia.' Ele queria ter certeza de que eu sabia como iria fazer o papel, o significado, e conversar sobre o personagem. Eu não sabia ao certo se iria fazer ou não. Nem sabia se ele iria fazer. Só voltei ao trabalho e disse: 'Não sei, vamos ver o que acontece', e continuamos conversando muito sobre o filme. Eu ainda não sabia que ele estava tendo muita dificuldade para levantar o financiamento do filme, porque, quando o explicamos para alguém, dificilmente alguém vai se entusiasmar e querer investir no projeto. Acho que nem eu mesmo arriscaria meu dinheiro nele (risos). Então demorou um pouco para ele conseguir, mas ele persistiu, sem contar para ninguém. Acabou dando certo na última hora, daí ele formou o elenco e logo começamos os ensaios, que foram uma experiência à parte, e então, finalmente, estávamos fazendo o filme.

Você não teve que aceitar qualquer coisa para poder pagar as contas...

Não, e isso poderia acontecer facilmente. Sei disso perfeitamente. Esta minha profissão pode ser extremamente difícil. Mas enfim, quero algo que me assuste ou que me empolgue. Quero trabalhar com um bom roteiro, bons atores, bons diretores – diretores bons em sua maioria, e esse cara é um dos melhores.

Você acha que atores são intrinsecamente inseguros?

Sim, extremamente. Nessa profissão, se você não tomar cuidado, esse problema aumenta todos os dias. É um trabalho essencialmente baseado no medo. Existem atores que só se sentem confortáveis no palco. Acho que se dizia isso sobre o Michael Jackson. Ele só se sentia em casa quando se apresentava. Qualquer outro lugar lhe parecia estranho.

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