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Zé Ramalho, em foto do encarte do álbum de 1975. | Reprodução
Zé Ramalho, em foto do encarte do álbum de 1975.| Foto: Reprodução

Não falo mais sobre esse trabalho, a mídia deveria ter descoberto este disco há 40 anos. Nem me interessa ir atrás do meus devidos direitos autorais.

Zé Ramalho em 2012.

Disco

Paêbirú

Lula Côrtes e Zé Ramalho. Mr Bongo Worldwide – US$ 8,99 (cerca de R$ 27), no iTunes. Experimental.

Não vai haver festa, relançamento ou turnê comemorativa por parte de Zé Ramalho a respeito dos 40 anos do álbum Paêbirú, lançado em parceria com o multiartista pernambucano Lula Côrtes (1949-2011) em 1975. O músico paraibano, aliás, não quer nem saber da obra, provavelmente um dos mais fascinantes exemplos do desbunde na música brasileira dos anos 70 – no caso do Paêbirú, inscrita mais especificamente num cenário underground de Pernambuco que estava em uma inventiva conversa entre a música nordestina, a psicodelia e o rock and roll internacional.

“Não falo mais sobre esse trabalho, a mídia deveria ter descoberto este disco há 40 anos atrás. Nem me interessa ir atrás do meus devidos direitos autorais, pois ingleses – e, antes deles, os alemães – , já haviam editado esse disco”, disse Zé em uma entrevista à Gazeta do Povo em 2012, perguntado sobre a reedição do álbum pela gravadora inglesa Mr. Bongo, que estava recolocando nas prateleiras o vinil que havia se tornado o mais raro (e caro) do Brasil (não sai por menos de R$ 5 mil).

Vale a pena

Para você que também está descobrindo o disco agora, vale lembrar que, a essa altura, a reedição pode ser encontrada com facilidade, inclusive em formato digital, que custa US$ 8,99 (cerca de R$ 26,80) no iTunes. E que, com todo respeito ao Zé, que nem cita o álbum em sua discografia oficial, vale a pena falar sobre o trabalho 40 anos depois, sim – e o preço que a bolacha original atingiu é apenas um motivo.

A raridade do LP de 1975 se deve a um episódio que também imprimiu uma aura mítica em torno do Paêbirú – O Caminho da Montanha do Sol, reforçando o próprio universo fabuloso do álbum.

A obra conceitual inspirada pela Pedra do Ingá – um sítio arqueológico que contém inscrições pré-históricas, de autoria desconhecida, na Paraíba – e informada por lendas indígenas que falavam na trilha milenar do Paêbirú, que levaria até o Peru, foi gravada na Fábrica de Discos Rozenblit, que foi atingida por uma enchente em 1975. A tragédia cobriu de água a fita master e mil das 1,3 mil cópias do LP. As 300 que se salvaram e se tornaram artigo raríssimo estavam na casa de Lula Côrtes e de sua então companheira Kátia Mesel, que assina o elaborado encarte do Paêbirú. O álbum, duplo, foi dividido em quatro lados conceituais, que remetem aos quatro elementos com sonoridades correspondentes – “Terra”, “Ar”, “Fogo” e “Água”. Mais de 20 convidados participaram dos experimentos de Zé e Lula, como Alceu Valença, que tocou “pente”. Mas, em parte graças ao naufrágio literal da obra, pouca gente conheceu o trabalho até sua redescoberta há coisa de dez anos atrás, quando esta parte menos reverenciada da música brasileira virou “bola da vez” e entrou no alvo de colecionadores estrangeiros.

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