O Festival de Veneza e seus filmes-evento. Maneira facilmente midiática de informar ao mundo que a mostra italiana, apesar de não poucos sintomas de desorientação, está viva. O novo filme de Al Pacino, fora de concurso, é um tour de force admirável. Na coletiva, o ator, que veio a Veneza também para receber o prêmio Jaegger Lecouture Glory to the Filmaker Award, falou sobre a importância deste seu trabalho.
Wilde Salome projeta o público na vida pessoal de Pacino como nunca se viu antes, oferecendo a mais empenhada empreitada do ícone do cinema: interpretar a si mesmo e ao rei Herodes. Em formato praticamente impossível de definir, misto de documentário e muitas outras coisas, por cerca de cinco anos Wilde Salome conduziu Pacino ao redor do mundo, a Londres, Paris, Dublin, Nova York, Los Angeles, ao palco, às quatro paredes de seu camarim. Nada parece impossível enquanto o ator-diretor explora a complexidade do drama de Wilde, além de mergulhar nas atribulações que marcaram a vida do escritor, oferecendo ao mesmo tempo um olhar inédito em sua própria vida.
Não é a primeira vez que Pacino faz uma operação como Wilde Salome. Como esquecer aquele pequeno grande filme que é Looking for Richard, de 1996, projeto experimental e decididamente original que o ator dedicou a Shakespeare? Nos créditos iniciais, abaixo do título, a palavra obsessão define o estado de espírito que levou Pacino a Wilde Salome, uma produção apaixonante, inteligente e sem dúvida didática, da maneira mais estimulante.
Paixão pelo palco
"É uma colagem, não tenho dúvidas, mas a colagem de uma paixão, com um enfoque moderno", disse o ator na coletiva. "A princípio tive uma espécie de visão, mas não havia uma história. Vendo o filme pronto hoje, sei que ele reflete quem foi Oscar Wilde. Acabei por interligar os dois, a vida de Wilde e a peça Salomé. Quis de fato dar um sentido a tudo que me assombrou quando vi a peça".
Sobre teatro, Pacino não esconde uma óbvia e reverente paixão pelo palco. "Quando estou lá, é como se estivesse suspenso num arame, em pleno equilíbrio. Todos dependem de todos. Cada vez que esqueço o texto preciso de alguém para me socorrer."
Um jornalista se arrisca saindo do tema principal e pergunta: "Neste momento em que recebe mais um prêmio importante, algum arrependimento quanto à carreira?" Relaxado e de bom humor, o eterno Michael Corleone responde tranquilo: "Olhando para trás, vejo filmes que não teria feito e penso sempre em ser mais seletivo e somente interpretar papéis que me agradem. É uma resolução, mas não consigo cumprir."



