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Pode-se passar muito tempo olhando para uma ilustração feita por Maurice Sendak e não esgotá-la nunca; elas têm tantos detalhes e informações que se pode prescindir do texto | Ilustração/Maurice Sendak
Pode-se passar muito tempo olhando para uma ilustração feita por Maurice Sendak e não esgotá-la nunca; elas têm tantos detalhes e informações que se pode prescindir do texto| Foto: Ilustração/Maurice Sendak

Nova versão

Os Monstros relê o original de 1963

A partir do roteiro e, por suposto, do livro original de Maurice Sendak, Eggers escreveu Os Monstros, que a Companhia das Letras lança na próxima sexta-feira. Os americanos chamam isso de novelization, ou escrever um romance usando como referência outro meio.

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Diretor de Adaptação leva Sendak ao cinema

Onde Vivem os Monstros, a adaptação para o cinema, estreou nos Estados Unidos no último dia 16 e foi a maior bilheteria daquela semana. Entre as filmagens e o lançamento nas salas americanas, se passaram mais de três anos.

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Um clássico da literatura infantil dos Estados Unidos, publicado pela primeira vez em 1963, Onde Vivem os Monstros (assista ao trailer e veja as fotos) ganha sua primeira encarnação brasileira pela Cosac Naify neste mês. É um livro ilustrado de 40 páginas, 22 ilustrações e 341 palavras.

O lançamento acompanha a estreia nos Estados Unidos da versão para o cinema e da publicação, pela Companhia das Letras, do romance Os Monstros, uma releitura do original feita por Dave Eggers.

Em parte, a demora para se bancar uma edição no Brasil – foram 46 anos – se deve às exigências de Maurice Sendak, o autor dos textos e das ilustrações, hoje um senhor octogenário. Além de determinar o papel a ser usado (Rolland Opaque), exigiu o direito de aprovar a impressão final. Ele é um artista perfeito para a Cosac Naify, talvez a editora mais ousada do país na elaboração de livros. Foram mais de três anos de negociação.

A edição nacional não deve nada à americana. Basta ver a capa dura, a lombada de tecido e a qualidade do papel e da impressão para entender por que Sendak é tão criterioso. Onde Vivem os Monstros é um livro infanto-juvenil e, também, uma obra de arte.O menino Max, com algo em torno dos 7 anos, usando uma fantasia branca de lobo, faz uma série de traquinagens em casa: martela o prego na parede para montar uma barraca e persegue o cachorro com um garfo. Sua mãe o coloca de castigo, mandando-o para o quarto sem jantar.

Aos poucos, o quarto se transforma numa floresta e Max, de barco veleiro, viaja até uma ilha – o lugar onde vivem os monstros –, não sem antes cruzar com uma criatura marinha. De início, na ilha, os monstros ameaçam devorá-lo. "Eles rugiram seus terríveis rugidos e arreganharam seus terríveis dentes", escreve Sendak, mas Max dá um jeito de dominá-los com um "truque mágico" e é nomeado rei de todos os monstros.

Sua primeira ordem é dar início à "bagunça geral". Depois de um tempo, talvez entediado, ele diz para os monstros pararem e os manda para cama sem jantar, ficando "sozinho com vontade de estar em algum lugar onde alguém gostasse dele de verdade".

É quando Max sente o cheiro de comida e decide ir embora da ilha, pega seu barco, ignora os apelos dos monstros (que querem devorá-lo de tanto que gostam dele) e viaja "por mais de um ano" até chegar no seu quarto e encontrar uma surpresa deixada pela mãe – que deve ter ficado com peso de consciência por ter negado comida ao filho.

A simplicidade aparente do livro permite muitas interpretações. Uma delas, endossada pelo próprio Sendak em entrevistas – e usada na adaptação do livro para o cinema –, entende que os monstros retratam sentimentos com que a criança ainda não sabe lidar. Sentimentos difíceis ou ruins, como ódio e indignação por se sentir contrariado, por ter sido punido.

Ele sente que pode acabar sua aventura depois que os monstros o nomearam rei, dando a ele o controle sobre suas ações. Até o menino sentir falta de amor e abandonar as criaturas selvagens para voltar ao conforto de casa.

O texto é uma longa legenda para os desenhos de Sendak, que respondem pela fama do livro. Os monstros imaginados pelo autor são misturas bizarras de leão, peixe, galinha e outros animais. Um deles tem até pés humanos. Os chifres, as garras, os dentes de tubarão e os olhos amarelos assustadores dão a eles uma aparência engraçada e também tétrica. Pode-se passar muito tempo olhando para a sequência de seis páginas em que ocorre a "bagunça geral" e não esgotá-la nunca – o mesmo vale para as outras 13 ilustrações. São muitos detalhes e informações. Na verdade, os desenhos de Sendak dizem tanto que o texto é desnecessário. (Experimente ler a história apenas por meio das imagens.)De acordo com o autor, ele teria criado Onde Vivem os Monstros como uma forma de resolver questões pessoais, experiências marcantes da infância que o marcaram para sempre. O livro é singelo como se espera que seja um título voltado às crianças, mas oferece também um lado sombrio, um vislumbre de algo muito maior que assusta por ser desconhecido. Por tratar de coisas selvagens que, às vezes, querem nos devorar.

Serviço: Onde Vivem os Monstros, de Maurice Sendak. Cosac Naify, 40 págs., R$ 49. Infanto-juvenil.

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